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A AMAZÔNIA CALEIDOSCÓPICA
Acadêmico: José Renato Nalini
A aventura de Theodore Roosevelt a explorar o rio da Dúvida e definir se ele era um afluente do rio Madeira ou do rio Amazonas é outro texto singularmente interessante. O ex-Presidente dos Estados Unidos foi acompanhado pelo Coronel de Exército Cândido Mariano da Silva Rondon, na viagem que ficou conhecida como Expedição Científica Rondon-Roosevelt

A Amazônia caleidoscópica

Muitos olhares já contemplaram a Amazônia, sobre a qual se produziu uma tonelagem de obras. Mas nada como a perspectiva de quem a conheceu desde criança, quando obrigado a decorar seus afluentes na exata sequência em ambas as margens e depois a visitou na fase idealista da política universitária. Deputado Federal em seis mandatos, intensificou suas visitas à região mais falada e menos conhecida deste nosso Brasil. Sua intimidade amazônica prosseguiu quando Ministro do Esporte, na condição de Presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e na titularidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e no Ministério da Defesa.

Quem foi capaz de exercer todas essas atribuições, senão a extraordinária figura de Aldo Rebelo? Pois dessa experiência íntima com a Hileia Nacional, resultou o delicioso livro “Amazônia – A maldição de Tordesilhas”, com subtítulo 500 anos de cobiça internacional.

Uma visão insólita vai buscar na História episódios e pessoas vinculadas ao espaço que os estrangeiros de imediato vinculam a este Brasil continental e logo oferecem suas narrativas sobre o que acontece lá. Porém, o relato de Aldo é de quem conhece o objeto de sua fala.

Recupera o Tratado de Tordesilhas, lembra Orellana, o primeiro europeu a cruzar o rio Amazonas, no século XVI, reverencia o esquecido Pedro Teixeira, que garantiu a Portugal a soberania sobre aquele espaço. Enfatiza o papel de Raposo Tavares, o bandeirante dos limites, enaltece o papel dos indígenas e das missões religiosas na preservação do verde intacto. Destaca Ajuricaba, o líder tuxaua que lutou contra a escravização de sua gente e lembra que Alexandre de Gusmão, ao elaborar o Tratado de Madri, produziu a base histórico-jurídica da formação territorial do Brasil.

Outras personagens ressurgem da pesquisa de Aldo, em páginas sedutoras: não se consegue deixar de ler o livro, pressentido o dissabor de termina-lo, tamanho o interesse despertado naqueles que amam o Brasil.

Denomina “o maior roubo do Brasil” o da biopirataria perpetrada pela Inglaterra, que se apropriou das sementes de seringueiras com a finalidade de encerrar o monopólio da borracha, exercido por nosso País entre o final do século XIX e limiar do século XX. Isso não é lenda. Serviu o aventureiro Henry Wickham como agente encarregado de recolher setenta mil sementes destinadas ao plantio no The Royal Botanical Garden de Londres, façanha narrada no livro “O ladrão do fim do mundo”, escrito pelo americano Joe Jackson.

A indagação de Aldo Rebelo é instigante: “quantos Henry Wickham atuam hoje na Amazônia, não mais como simples aventureiros, mas camuflados em atividades de variadas organizações não governamentais, financiados por diferentes impérios, mas com os mesmos objetivos de seu ilustre antepassado?”.

Outro ilustre patrício tem sua memória realçada: Plácido de Castro, o herói do Acre, que foi à luta com sua infantaria de cearenses para combater os bolivianos, então empenhados a entregar aquele território à administração de uma companhia anglo-americana, o Bolivian Syndicate, um enclave com soberania estrangeira em pleno coração da Amazônia.

A aventura de Theodore Roosevelt a explorar o rio da Dúvida e definir se ele era um afluente do rio Madeira ou do rio Amazonas é outro texto singularmente interessante. O ex-Presidente dos Estados Unidos foi acompanhado pelo Coronel de Exército Cândido Mariano da Silva Rondon, na viagem que ficou conhecida como Expedição Científica Rondon-Roosevelt. Mas há muito mais nessa obra de aventuras, que sintetiza um clamor patriótico: não são apenas delitos ambientais que acontecem na Amazônia brasileira. A ONU, em seu Relatório Mundial sobre Drogas de 2023, fez constar que houve impressionante expansão das atividades do tráfico de drogas para a grilagem de terras, mineração ilegal, extração de madeira e desmatamento.

Na abalizada visão de Aldo Rebelo, “o Estado é impotente para fiscalizar a imensidão das áreas sob sua jurisdição, sejam elas unidades de conservação ou terras indígenas, e desperdiça boa parte dos recursos em perseguir produtores rurais e empreendedores submetidos ao cerco das normas que bloqueiam a atividade econômica”.

A tecla da regularização fundiária está onipresente. Uma política estatal que precisa ser enfrentada com seriedade e coragem. Os brasileiros todos têm de ler o livro de Aldo Rebelo. Que encerra seu libelo citando Mark Twain, quando aconselhava: “comprem terra, é coisa que não se fabrica mais”. E na Amazônia há muita terra. Para ser conhecida e racionalmente explorada, com proteção ambiental e promoção humana de seus habitantes.


Publicado no jornal O Estado de S. Paulo/Blog do Fausto Macedo, em 11 07 2024



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