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Acadêmico: José Renato Nalini O que parece estar faltando à Universidade brasileira é o eixo da extensão. O que significa extensão? É sair fora da Universidade. É ganhar o entorno. É transformar a realidade
Transformemos a realidade Educação de qualidade é a resposta para a solução de todos os problemas. Não existe questão insuscetível de vir a ser tratada com seriedade e perspectiva de saudável encaminhamento, que não passe pela formação de cada indivíduo. O Brasil, nação dos paradoxos, possui a riqueza mais escandalosa e a miséria mais abominável. Isso mereceria uma atenção mais proficiente de parte da sociedade. Só que tudo tem de ter início no sistema educacional. São milhões os brasileiros que estão na Universidade. Esta é o foro adequado para o trato científico das dificuldades, com vistas a removê-las. Uma Universidade é definida como espaço em que é livre a busca do conhecimento. Toda a liberdade para o ensino e a pesquisa têm sede no interior de uma Universidade. Só que a educação tupiniquim se baseia em três pilares: ensino, pesquisa e extensão. Ensinar é transmitir ou propiciar ao educando condições de aprendizado que inclui sua busca pessoal, o cultivo do autodidatismo. Com todo o conhecimento disponível no mundo web, nunca foi tão fácil descobrir respostas para as dúvidas do ser racional. Adotar modernas técnicas de transmissão, pedagogias ativas e estratégias que façam o discípulo se apaixonar e prosseguir ele próprio o caminho da sabedoria. A meta humana, ambiciosa, mas factível, é atingir o máximo de perfectibilidade possível. Pesquisar é perscrutar, investigar, buscar respostas. Valendo-se do acervo consolidado, mas também investindo em novas descobertas. Uma trajetória fascinante, pois o pesquisador vai se surpreendendo e se realizando à medida em que descobre coisas novas, ou um modo novo de se valer das coisas já conhecidas. Esses dois eixos podem ser melhorados, mas já existem saudáveis exemplos. O que parece estar faltando à Universidade brasileira é o eixo da extensão. O que significa extensão? É sair fora da Universidade. É ganhar o entorno. É transformar a realidade, por força e em virtude exatamente do que se conseguiu concretizar em termos de ensino e pesquisa. O espaço territorial em que funciona uma Universidade não pode permanecer idêntico ao que sempre fora, antes de que ela existisse. Pois uma Universidade é um fator disruptivo, revolucionário, um fator de efetivo e eficiente aprimoramento da sociedade em que persegue sua missão. Tímida a atuação universitária em termos de extensão, ressalvadas as raras exceções. Penso, por ser o meu ambiente de origem, nas inúmeras faculdades de direito espalhadas pelo Brasil. País que tem mais faculdades de direito do que a soma de todas as outras, espalhadas pelo planeta. Será que a presença de tantas escolas jurídicas tornou o Brasil o país da justiça perfeita, o berço da harmonia, o exemplo de democracia viva e hígida? Não parece tenhamos chegado lá. Vejo com certo desencanto que se repetem as “Semanas Jurídicas”, série de palestras que nada produzem como resultado. Alunos estão preocupados com a frequência e, mal termina o expositor de falar, saem correndo do salão em que ocorreu o evento. Outra prática de escassa relevância é a realização de “Júris Simulados”. Numa era em que retórica e oratória foram substituídas por mensagens instantâneas dos “tik-toks” e demais redes sociais, treinar futuros bacharéis para o teatro do júri soa como exercício arqueológico. E pensar que a nação precisa de regularização fundiária urgente, algo que poderia ser realizado por milhares de alunos que então enfrentariam o “chão da fábrica” da atividade forense e ajudariam seus semelhantes a serem cidadãos pleno, em lugar da capitis diminutio em que se encontram os que não podem se considerar titulares dominiais de suas casas. Suprir a deficiência documental no Registro Civil das Pessoas Naturais, treinar a solução de pequenos conflitos de vizinhança, auxiliar a composição de controvérsias, tudo isso poderia ser feito pelo alunado. É urgente que a Universidade acorde e pratique extensão de qualidade. Boa notícia a de que o MEC exige hoje que 10 do currículo seja destinado a tais atividades. Vamos ver se a experiência produzirá os frutos que dela se esperam. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 07 06 2024 voltar |
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