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Acadêmico: José Renato Nalini Homem de poucas palavras. Foi deputado, Ministro da Justiça no Governo Prudente de Moraes, Presidente do Estado do Rio e ministro do Supremo Tribunal Federal no Governo Campos Salles.
Desventuras de Alberto Torres Alberto Torres, formado na São Francisco, era magro, espigado, apurado no vestir, fisionomia fechada, ar de apreensão. Homem de poucas palavras. Foi deputado, Ministro da Justiça no Governo Prudente de Moraes, Presidente do Estado do Rio e interrompeu sua carreira política ao ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal no Governo Campos Salles. Cultivou o verso, embora sem frequência. Publicista é o que sempre quis ser. E o foi, de fato. Escreveu ativamente para a imprensa. Colaborava regularmente para “A Notícia”. Mas não se destacou pelo pensamento, nem pela linguagem. Escrevia com correção e era ponderado. Mas o dogmatismo, o uso de expressões comuns, além da circunspecção peculiar, fizeram com que fosse apelidado “Conselheiro Acácio”. Personificou, em sua época, o verboso e banal personagem de Eça. Gente de talento se deu ao luxo de explorar literariamente essa maldosa corrente de despeito. Surgiram sonetos sob o título de “Lira Acaciana”, depois reunidos em folheto editado por Ângelo Bitu, em 1900. O prólogo era de Pedro Tavares, advogado famoso e violento polemista. Os sonetos eram nada menos que de Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Guimarães Passos. Alberto Torres resistiu impávido a essa agressividade malsã. Seguiu sua vida jornalística. Ao assumir o STF, deixou a imprensa. Meticuloso e preocupado, não se considerava apto para o exercício da Magistratura. Após algum tempo na jurisdição, obteve do Tribunal um ano de licença e foi para a Europa com a família. E nessa viagem aconteceu-lhe uma desgraça. O vapor em que partiu, na tarde de 22 de outubro de 1907, naufragou no Tejo, em frente de Lisboa. Esse trágico acidente lhe causou a perda de tudo o que levava e lhe produziu formidável abalo. Nunca superou a cruciante aflição do naufrágio. O barco, o Borussia, transatlântico alemão, chegara ao porto após boa viagem. Tempo chuvoso em Lisboa e cerração forte. O navio flutuava dentro da névoa. Os passageiros não haviam descido à terra. A correnteza natural do Tejo fez com que o navio, preso pelas âncoras na proa e na popa, recebeu o volume crescente de águas em tumulto, pois grandes chuvas ocorreram no interior da península. As ondas gigantescas vieram violentas e grossas rio abaixo. Com a pressão da correnteza, cada vez mais forte, o navio adernara e começou a afundar. Os passageiros, até havia pouco, estavam despreocupados. Estavam em grupos pelos tombadilhos, mas logo compreenderam a gravidade da situação. Viram a morte próxima. Alberto Torres chamou os seus. Uniram-se todos num abraço, de pavor e de aflição, para que, como se fora um só corpo, o abismo os apanhasse, no mesmo sorvo e de uma só vez. Nisso operou-se um milagre. Uma lancha se aproximou do navio, justamente nesse momento trágico. Os passageiros, embora no atropelo desesperado, conseguiram pular do tombadilho para a lancha. Esta, rapidamente, se afastou para não ser tragada pelo redemoinho que o afundamento da nave produziria no rio. A manobra foi feita a tempo. Em poucos instantes, os mastros afundaram e o vulto enorme da quilha cresceu sobre o rio, como um cetáceo colossal. Tudo submergiu rapidamente. A lancha chegou ao cais na desolação do espetáculo, mas com os passageiros salvos. É compreensível o abalo que a angústia dessa hora deve ter causado no coração daquele homem sensível. Passavam os dias e Alberto Torres continuava ainda todo vibração e terror. E ele tivera o pressentimento dessa tragédia. No número de setembro de 1907, a “Renascença” publicou um soneto seu, datado de Petrópolis, 1906, um ano antes do desastre. Nele, o poeta descreve um naufrágio e retrata as angústias pelas quais, mais tarde, ele e sua família deveriam passar. Além do pesadelo, ele e os seus perderam literalmente tudo o que traziam. Chegaram à terra com a roupa do corpo. Molhada e gelada. Além disso, o naufrágio tragara os livros que trouxera para a sua grande obra: considerável número de estudos já escritos. Mas Alberto Torres não desanimou. Nesse ano ainda, escreveu o livro “Organização Nacional”, que dedicou “à memória dos escravos mortos e aos ainda vivos, da fazenda de sua bisavó materna”. Faleceu em 29 de março de 1917. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 23 04 2024 voltar |
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