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Acadêmico: José Renato Nalini Era pródigo em tiradas de fino humor, brincava e provocava, fazia piadas. Impossível conservar-se taciturno ao seu lado.
Bernardo Oswaldo Francez A coleção de perdas que somos obrigados a elencar, durante a trajetória terrena, é causa de imenso pesar. A cada partida somos mutilados porque temos consciência de que já não nos será dado conviver com seres muito queridos. Numa semana em que se foi Pedro Herz, o notável criador da “Livraria Cultura” e a quem o Brasil e as letras tanto devem, em que também deixou a vida meu amigo de adolescência, o Engenheiro Agrônomo Ruy Saraiva Fernandes e, pouco antes ingressara no etéreo o registrador Rubens do Amaral Gurgel, o golpe da morte de Bernardo Oswaldo Francez. Bernardo era uma dessas pessoas que considerávamos imune a essa fatalidade. Alegre, expansivo, bonachão, estava sempre a sorrir, a gargalhar e a fazer com que todos participassem desse clima de festa permanente. Era pródigo em tiradas de fino humor, brincava e provocava, fazia piadas. Impossível conservar-se taciturno ao seu lado. Não quer isso dizer deixasse de levar a sério suas atribuições. Titular do 18º Registro de Imóveis da Capital, sempre se esmerou na exação da sua missão de assegurar a regularidade de um dos direitos fundamentais contidos no caput do artigo 5º da Constituição e de fazer com que os titulares dominiais pudessem estar tranquilos, mercê da proficiência de seu trabalho. Mais ainda, mantinha em sua delegação a mais harmoniosa e salutar convivência entre funcionários e destinatários dos serviços registrais. Amigo dos servidores, a eles garantia um ambiente propício à concretização dos misteres registrais, tamanha a respeitosa camaradagem existente entre todos. Como bom oriundi, preocupava-se com a alimentação dos que ali trabalhavam. Cumulava-os de todas as iguarias peninsulares das quais era também apreciador. Queijos, pastas, doces, molhos, tudo entrava no menu diuturno de um cartório em que se respirava amizade e bem-estar. Fervoroso palmeirense, devotou-se ao seu clube com alma e garra, do qual foi diretor e pelo qual não apenas torcia, mas trabalhava com afinco. Incentivava a prática do futebol, era amigo de jogadores como o Leão, um assíduo frequentador do Parque Antártica. Testemunhei a generosidade de Bernardo Oswaldo Francez em inúmeras oportunidades. Uma prima-irmã, Sóror Elisabeth da Santíssima Trindade, era carmelita descalça em São João da Boa Vista. Transmitia-me as dificuldades/necessidades do Carmelo e sempre recorri a Bernardo, na certeza de que ele contribuiria para as causas. O recolhimento em clausura para uma vida em oração tem sua valia comprovada cientificamente, pois é consistente o efeito obtido por destinatários de preces pronunciadas em grupo e por pessoas convictas de que elas efetivamente recairão sobre os favorecidos. Certa feita fomos juntos ao Carmelo Nossa Senhora da Esperança, naquela bela São João da Boa Vista, já próxima às alterosas. Bernardo tanto fez, tanto contou, tanto cantou, que toda a clausura se rejubilou, riu, também cantou e se encantou com o seu benfeitor. Não era apenas destinar uma importância em dinheiro. Era impregnar-se do verdadeiro espírito de caridade cristã, que é uma das expressões do amor fraternal, o mais importante comando do Cristo: “Amai-vos uns aos outros”. Bernardo Oswaldo Francez – nascido em 28 de novembro de 1936 e falecido em 24 de março de 2024 – é um exemplo a ser seguido. Formou bela família, com Elza, que lhe deu três filhos amorosos, companheiros, verdadeiramente amigos de seus pais. Foi um profissional arguto, sempre em busca do aprimoramento do Registro de Imóveis, o que também pude testemunhar desde a minha primeira passagem pela Primeira Vara de Registros Públicos da Capital, nos idos de 1979/1980, quando trazia alternativas para tornar o acesso à segurança registral que tranquilizassem a comunidade de usuários e atendesse ao padrão de fiscalização e controle das Corregedorias. Todavia – e sobretudo – foi um ser humano de bem com a vida. Nada o deixava taciturno, desalentado, capaz de fazê-lo perder a confiança no próximo e na bondade natural dos humanos. Por isso foi profissional, pai de família, patrão e amigo com inexcedíveis qualidades, que o tornam verdadeiro paradigma. Sentiremos muita falta das “bernardices” que nos surpreendiam, ao mesmo tempo em que nos alegravam. Do companheiro solidário de todas as horas. Do registrador que acreditava no sistema e era ávido, verdadeiramente incansável por torná-lo a cada dia mais confiável e melhor. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 25 03 2024 voltar |
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