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Acadêmico: Gabriel Chalita Há palavras que caminham oferecendo o azul do infinito, a paz tão necessária.
O Domingo de Ramos e o caminhar das palavras Desde criança, pergunto o que aconteceu com as palavras que foram ditas no Domingo de Ramos. As palavras de admiração. "Bendito o que vem em nome do Senhor!" "Hosana"! "Hosana nas alturas"! E por que essas palavras? Porque a fama de Jesus o precedia. O homem que falava e vivia o amor. Que contava histórias, histórias que significavam vidas, histórias de perdão, de acolhimento, de palavras que semeavam paz. O homem que curava os doentes, que não tinha preconceitos. O homem que falava com Deus e falava de Deus. Então, o povo de Jerusalém queria recebê-lo com festa. E é de festa que se trata o Domingo de Ramos. Os ramos de oliveira estavam nas mãos daquelas pessoas que diziam as tais palavras de admiração. O que houve depois? O mesmo povo pede que Jesus seja crucificado. A morte na cruz era reservada aos bandidos perigosos. Era a pena máxima. A pena capital. O sucesso de Jesus, seu carisma, perturbou a vaidade de alguns religiosos poderosos. "Quem é esse homem que o povo ama tanto?” "Quem é esse homem que se acha o filho de Deus?” E os religiosos poderosos começaram a tramar contra Jesus. E buscaram outras palavras. Aquelas primeiras, as de admiração caminharam por um tempo. E, por um tempo, despertaram os mais belos sentimentos em um povo tão sedento de esperança. Agora, vieram as outras palavras, cuidadosamente escolhidas para destruir a imagem tão bela daquele homem que era só amor. "Ele está blasfemando", "Ele profana o sábado", "Ele é um falso profeta", "Ele é perigoso". Foram essas as palavras que se fizeram caminhar. E caminharam, com tanta força, que apagaram as outras, as belas, as de admiração. Admirar significa mirar ou olhar com amor. Jesus era olhado com amor. As outras palavras, inacreditavelmente nascidas de grupos religiosos, grupos que deveriam dizer e viver o amor, eram de ódio. O povo se juntou depois das palavras que caminharam impiedosas, se uniu em uma voz ensurdecida pela ausência de razão, pela ausência de sentimentos. Ao responderem a Pôncio Pilatos, apenas gritavam "Crucifica-o, crucifica-o"! "Mas o que fez esse homem?", queria entender o governador. Não havia entendimento, ninguém mais ouvia a si próprio, era só o grito que insano gritava: "Crucifica-o, crucifica-o". As palavras caminham. Não há dúvidas. E já caminhavam antes do tempo das máquinas, das tecnologias. Há palavras que caminham oferecendo o azul do infinito, a paz tão necessária. E há palavras que caminham com o poder do azedume. Roubam o sabor da vida, a alegria das convivências. Sempre que ouço irmãos meus diminuindo, com suas palavras, outros irmãos meus, volto à pergunta da minha infância: "O que fizeram com as palavras de amor?". Das poucas verdades que tenho, tenho a de que os que diminuem irmãos seus com palavras de desamor nunca saem maiores. O tempo ensinou quem estava certo naqueles tempos de que nos lembramos nessa semana santa. Os que gritavam ódio passaram. O que nem nos gritos de ódio desistiu do amor permaneceu. Na cruz, já pronto para terminar a missão terrena, Jesus ainda teve tempo de dizer a palavra "perdão" para que caminhasse no continuar da história. "Pai, perdoa, eles não sabem o que fazem". Publicado no jornal O Dia, em 24 03 2024 voltar |
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