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É O MUNDO QUE ESTÁ LOUCO?
Acadêmico: José Renato Nalini
Se 2023 será lembrado por fenômenos climáticos extremos, 2024 poderá surpreender. Desfavoravelmente.

É o mundo que está louco?

Acho que não. Nós é que estamos loucos. Só loucos poderiam ter escolhido o suicídio como encerramento da aventura terrena sobre o planeta. Se 2023 será lembrado por fenômenos climáticos extremos, 2024 poderá surpreender. Desfavoravelmente.

Temporais, tempestades, ciclones, furacões. Tudo isso está no radar dos cientistas. Intensificou-se o aquecimento global, provocado por ação insensata da humanidade. A emissão de gases causadores do efeito-estufa gera o agravamento e a frequência de todos esses episódios causadores de enchentes, inundações, deslizamentos de terra e morte.

Para piorar, desde junho de 2023 manifesta-se com força e vontade o fenômeno “El Niño”, que aumenta de forma atípica a temperatura das águas do Oceano Pacífico. O resultado: furacões no Atlântico, ciclones no Pacífico e completa desregulação do regime de chuvas na América do Sul, onde estamos.

Não é um ranking desejável, esse de constatar que 2023 foi o ano mais quente da história. Dia 9 de novembro, na cidade de São Paulo, registrou-se a temperatura média de 37,8 º C. Isso significa a coexistência de espaços em que os termômetros chegaram a mais de 40 graus, com sensação térmica próxima aos 50. O que é desumano e até fatal.

Ainda não se divulgou se esse mês de novembro causou maiores internações e óbitos, estes principalmente de idosos, cuja saúde já anteriormente comprometida agravou-se com a terrível onda de calor.

O Brasil foi vítima de inúmeras tragédias em 2023. Em fevereiro, a tempestade violenta matou dezenas de pessoas em São Sebastião. Foi uma chuva sem precedentes, que lembrou a calamidade de 1967 em Caraguatatuba, no mesmo litoral norte paulista.

Naquela precipitação, choveu mais de seiscentos milímetros, de uma só vez. Verdade que a maior parte das vítimas ocupava área interdita, pois nas encostas dos morros e glebas que deveriam ser preservadas, até para que a vegetação segurasse o acúmulo de água, mais normal no litoral do que no planalto.

No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, ocorreram ciclones extratropicais. Em setembro, um deles ceifou mais de cinquenta vidas. E não foi o último. Voltaram a acontecer mais no final de 2023.

Entre outubro e novembro, uma onda de calor excessivo. Mais de duas mil e quinhentas cidades brasileiras sofreram com ele. Uma temperatura superior a quarenta graus era típica do Rio de Janeiro, mas nunca tinha se generalizado na maior parte do território nacional.

O Rio ofereceu a seus habitantes e a turistas uma sensação térmica superior a cinquenta graus, algo impróprio à sadia qualidade de vida, um fator de aceleração de fatalidades, com inúmeras mortes precoces.

Para rematar, o Norte sofreu com uma inimaginável seca. Amazonas, que é a reserva de água doce com que o mundo contava, teve de interromper o transporte fluvial, único disponível para grande parcela de sua população. Prejudicou-se a distribuição de alimentos e remédios por todo o Estado. O Rio Negro foi quem ostentou um quadro dantesco: atingiu seu menor nível em mais de um século de medições.

Como o aquecimento global atinge o mundo inteiro, tivemos também ondas de calor na Espanha, Croácia e Grécia. Nos Estados Unidos e Canadá, recrudesceram os incêndios florestais. A fumaça por eles expelida chegou a Nova Iorque e Washington.

Destruição na Líbia, causada por enchentes, enquanto China, Índia e Bangladesch também sofreram diante de fortes inundações. O desequilíbrio do clima foi muito democrático. Não houve nação que restasse imune aos seus efeitos.

Tudo continua em 2024, para desgraça nossa. E não se vê firmeza na adoção dos remédios por todos conhecidos: reflorestar, com urgência, os cento e setenta milhões de hectares degradados. Não seria necessário cortar uma só nova árvore, para tentar atenuar as consequências de nossa insensata insanidade.

De que adianta realizar Cúpulas do Clima, com a movimentação de milhões de pessoas que se locomovem e geram mais gases venenosas em suas viagens, se o resultado é um compromisso ambíguo, verdadeiro retrocesso quando comparado com o Acordo de Paris e o Protocolo de Quioto?

É lastimável que um assunto tão sério seja tão negligenciado. O mundo está surdo aos apelos do Secretário-Geral das Nações Unidas, Antônio Guterres, que já afirmou: “A era da ebulição global começou”. Somos o sapo que dança na panela e que gosta quando ela começa a ficar morna. Por culpa nossa, estamos fazendo o cursinho para o Inferno.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 12 03 2024



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