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OFENSA ÀS CAMPINEIRAS
Acadêmico: José Renato Nalini
Credite-se o episódio à oposição florianista ao governo do paulista de Itu. Tudo era motivo suficiente para dificultar sua gestão. As “moças de Campinas” foram o pretexto escolhido desta feita.

Ofensa às campineiras

O Brasil do Marechal Floriano Peixoto rompeu relações com Portugal. O reatamento só se deu no governo Prudente de Morais. A Pátria-mãe, querendo evidenciar o apreço nutrido pela antiga colônia, mandou como embaixador um escritor de renome: Thomaz Ribeiro.

Este chegou sob aplausos de uns poucos e vaia de muitos. Estes fizeram distribuir panfletos cuja intenção era indispor o novo Ministro com o povo. O impresso dizia o que segue: “Atenção! Atenção! Atenção! Pede-se aos brasileiros em geral, especialmente aos paulistas que prezam a honra de suas famílias, isto é, a honestidade de nossas mães e a virgindade de nossas filhas, o encarecido favor de ler a opinião que faz das moças de Campinas o Sr. Thomaz Ribeiro, Ministro de Portugal em nosso país”.

O trecho considerado insultuoso figurava da obra intitulada “Dissonâncias” e era o seguinte: “Como seja preciso, ainda alguns anos/Conservar no Brasil d’altar e templo ao menos um vestígio,/Adote um novo culto! E há disso exemplo/O - Nada - é complacente; o - Deus - aflige-o?/pois busque entre as formosas de Campinas/(sem agravo ao seu pejo e ao seu pudor!/a que ostente melhor barrete frígio;/que tenha o pé mais curto e as mãos mais finas/o olhar mais vivo e a faça mais louçã/as formas divinais de mais primor/e eleja a peregrina cidadã/temporária, se quer - Deusa do amor./Na hora propícia em que a Deusa o queira/Hás de ir descalça, tu, varrer a esteira/da capela pagã, turma d’ateus!”.

Impressionou os verdugos do poema o ponto de exclamação após o verbete “pudor”. Como se fora uma ironia, ou seja, Thomaz Ribeiro fica admirado que as moças de Campinas tivessem pudor.

A leitura atenta dos versos é suficiente para constatar que neles não reside injúria alguma. Pode-se, inclusive, encontrar no texto a resposta para a utilização da palavra “Campinas”: era a necessidade de rima para “as mãos mais finas”.

Mas o tumulto estava criado. Foram tantas as manifestações à chegada do novo plenipotenciário luso ao Brasil, que alguns dos patriotas mais exaltados foram presos. E Thomaz Ribeiro foi entregar ao Presidente Prudente de Morais uma carta escrita em próprio punho em quatro laudas, oferecendo sua explicação para o problema.

Dizia ele: “Este fato contrista profundamente o meu coração e faz-me arrepender de ter vindo à América, onde julguei que podia ser Ministro de concórdia e sou ponto de perturbações. Querer-me mal não é crime, tanto mais que eles me julgam desprimoroso com o seu país, o que, a ser verdade, eu mesmo não poderia desculpar-me. Sendo esta a causa do descontentamento, é louvável o seu impulso; e eu rogo a Vossa Excelência que principie os seus favores comigo sendo com eles equitativo e benévolo, se tanto for preciso. ...Acha Vossa Excelência em mim o maior desejo de lhe não causar o mínimo dissabor. O máximo obséquio que de Vossa Excelência posso receber é este: de poupar-me, na minha entrada aqui, a mágoa de ser causa de qualquer desgosto”.

Prudente de Morais relaxou as prisões. Credite-se o episódio à oposição florianista ao governo do paulista de Itu. Tudo era motivo suficiente para dificultar sua gestão. As “moças de Campinas” foram o pretexto escolhido desta feita.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 08 03 2024



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