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O LIVRO DAS FESTAS NACIONAIS
Acadêmico: José Renato Nalini
Rodrigo Octávio foi Secretário do Presidente Prudente de Morais e escreveu o “Livro das Festas Nacionais”.

O livro das festas nacionais

O campineiro Rodrigo Octávio foi Secretário do Presidente Prudente de Morais e, envolvido pelo nacionalismo então vigente, escreveu o “Livro das Festas Nacionais”. A partir das grandes datas dignas de serem feriado nacional, escreveu o que considerou verdadeiro compêndio de história pátria.

Reconhece ele, em “Minhas Memórias dos Outros”, que seu livro “saiu incandescente de jacobinismo”. O que foi exacerbado pelo prólogo do arrebatado Raul Pompeia, ardoroso líder do sentimento nativista.

Para a época, a publicação teve extraordinário êxito. Servia para exacerbar os ânimos já exaltados, pois adotava sempre o ponto de vista mais extremado e intransigente. A crítica dedicou boas páginas à obra. Araripe Júnior observou o esforço de emancipação nas diversas atividades brasileiras e afirmou que “um dos sintomas mais visíveis desse esforço pela vida, encontra-se na renascença do nativismo, que tomou forma em um livro de intuitos puramente republicanos. Esse livro intitula-se “Festas Nacionais” e foi redigido por um moço ardente, que ocupa lugar conspícuo no Ministério Público Federal. Órgão da Justiça e advogado nos auditórios desta capital, o Dr. Rodrigo Octávio não se sentiu embaraçado pela severidade das funções que exerce e entregou-se à feitura do livro com o entusiasmo rubro de um republicano exaltado”.

O livro chegou a Portugal e Oliveira Martins, então no apogeu de seu prestígio e, lamentavelmente, às vésperas de sua morte, foi generoso na avaliação de “Festas Nacionais”: “Com vivíssima alegria escrevo estas linhas, pois nada mais de consolador para um português, do que ver robustecer-se e crescer pujante e forte, livre e consciente de si, um povo que tem, sequer ao menos na língua, o atestado da sua filiação nesta família do extremo ocidente europeu”.

Elogiou o autor Rodrigo Octávio, “tão sóbrio e discreto” e também o responsável pelo prólogo, o romancista Raul Pompeia, “tão vivo e apaixonado”.

Impressionou-se Oliveira Martins com o ardor de Raul Pompeia, que escreveu: “Ódio santo que é apenas uma forma militante do amor”. E completa: “Se isto é ódio, então quero também partilhar dele. Esse “ódio santo”, chamo-lhe eu emulação; e é em uma emulação ardente que eu quereria ver empenhados brasileiros e portugueses, na Europa e na América, para o engrandecimento das duas nações que falam a língua portuguesa - essa língua que ambos, autor e introdutor homenagearam nas “Festas Nacionais”, uma homenagem tão distinta. Quem tão bem escreve português, não pode odiar Portugal”.

Outra foi a postura de Thomaz Ribeiro, o primeiro Embaixador de Portugal no Brasil, depois da ruptura das relações diplomáticas entre os dois países, decretada por Floriano Peixoto.

Thomaz Ribeiro, o poeta de “D. Jayme”, veio ao Brasil pensando em acolhimento festivo e reverente. Ao encontrar ambiente adverso, grande foi seu desapontamento. E ao ler “Festas Nacionais”, escrito por alguém que fora Secretário do Presidente Prudente de Morais, entendeu que a mensagem nele contida refletia o pensamento oficial da República brasileira em relação à antiga metrópole.

Digerindo mal o conteúdo da obra, destinada a despertar na infância e juventude tupiniquim o acendrado amor à sua Pátria, Thomaz Ribeiro elaborou uma “Nota” que encaminhou ao Ministro das Relações Exteriores. Nela, sugeria que os dois países entrassem num acordo a fim de que não fosse mais admitida no Brasil a entrada de um só português e se concertassem todos os meios de fazer voltar para o Reino todos os que estavam aqui estabelecidos.

O Ministro, à época, era Carlos de Carvalho. Ele mostrou a “Nota” a Rodrigo Octávio, o autor de “Festas Nacionais”, pedindo sugestão sobre o que fazer. Ao final do encontro, disse a Rodrigo: “Vou procurar pessoalmente o caro Thomaz Ribeiro e ver o meio de consertar isso”.

Enfim, não foi acatada a proposta de Thomaz Ribeiro. Portugueses continuam chegando, brasileiros continuam emigrando para Portugal. Há estranhamento recíproco. Mas o Brasil bem poderia se espelhar na metrópole para se transformar em país realmente civilizado. A transformação dos lusos após ingresso na Comunidade Europeia é prova eloquente de que, em havendo vontade política, superam-se entraves, rompem-se barreiras e se ingressa na contemporaneidade.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 02 03 2024



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