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Acadêmico: José Renato Nalini Mais um pouco da vida de Theodoro Langgaard, para atender aos que nele enxergam personalidade a ser lembrada, mesmo tanto tempo depois de sua partida para o etéreo.
Saga do Dr. Langgaard Volto ao tema da família Langgaard – Rodrigo Octávio, pois alguns amigos gostaram e pediram mais detalhes. Encontro-os no livro “Minhas Memórias dos Outros”, de Rodrigo Octávio, seu neto. A história parece romance. João Henrique Theodoro Langgaard, conhecido como Dr. Theodoro Langgard, foi médico respeitado na Corte Imperial, Rio de Janeiro. Faleceu em 30 de outubro de 1883, com setenta anos. Nascera na Dinamarca em 1813, onde se formara em Medicina e se casara, em 1842, com sua prima Hermantina Nicolina Christina Nielsen. Theodoro tinha sangue azul. Descendia de nobre família escandinava, envolvida em tragédia. O pai dele se casara com uma jovem que, sem família, fora criada no castelo de respeitáveis fidalgos, como filha da casa. Vivera em discreta opulência daquela gente de raça, que guardava a singeleza e a bonomia no trato. Dizia-se que ela era fruto de amores reais. Linda, por ela se apaixonou o bisavô de Rodrigo Octávio. Tiveram três rapazes e uma filha. Ocorre que um integrante da Corte se apaixonou por Frau Laggaard, que o repeliu. Insistente, continuou a assediá-la e, quando ela contou ao marido, este duelou com o ofensor da honra matrimonial. Matou-o. O bisavô teve de deixar Copenhague, para não responder a processo. Partiu para Kiel, depois para Hamburgo. Tristes por deixarem a pátria, mulher e marido morreram, nessa ordem. Os filhos, crianças e desamparados, foram abrigados em um educandário para órfãos. O mais velho, talentoso, conseguiu empregar-se numa relojoaria e, com seus ganhos, logo tirou o outro irmão do asilo. Com o trabalho da dupla, pode sair do abrigo o terceiro irmão. E assim aconteceu com a caçula. Logo após o casamento de Theodoro com Hermantina, o casal veio para o Brasil e foi morar em Ipanema, na fábrica de ferro fundada por Varnhagen, município de Sorocaba. Obteve as credenciais para clinicar no Brasil, submetendo-se a exame na Corte. Foi convidado a transferir-se para o Rio, capital do Império, mas preferiu ficar em Sorocaba e depois se mudou para Campinas. Foi ali que a mãe de Rodrigo Octávio se casou em 1865 e ele nasceu no ano seguinte. O Dr. Langgaard chegou a retornar para Copenhague em visita. Recebeu do governo dinamarquês a medalha de ouro por serviços extraordinários prestados por um nacional no estrangeiro. Mas voltou para Campinas, pois passara a amar a terra de adoção. Diz o neto, Rodrigo Octávio, que embora o avô fosse médico muito estimado em Campinas, conquistara também dois desafetos, colegas de profissão: o irlandês Ricardo Gumbleton Daunt e o alemão Bertholdi. Com o irlandês, ainda reinava a polidez. Com o alemão, ausentes até os cumprimentos formais. Acirrada hostilidade. Como acabou a história? Um dos filhos do Dr. Langgaard, chamado Francisco de Ipanema e conhecido como Chico, fora apanhado por animais de uma tropa e, com fratura na perna, ficou estatelado na rua. Por ali passava o Dr. Bertholdi, que o carregou no colo e o tratou. Quando o pai de Chico soube, correu até à casa do colega e, vendo o carinho com que o filho era tratado, abraçou o que era considerado inimigo. Ficaram amigos para sempre. O pai de Rodrigo Octávio, formado em direito, foi advogar na Corte. O avô, que não suportava as saudades da filha e dos netos, mudou-se também para o Rio. Ali perdeu a esposa em 1872, vítima de febre amarela. Mas continuou a clinicar e publicou o “Formulário”, que especificava todos os males que poderiam acometer as pessoas e indicava o tratamento. Com isso, tornou-se conhecido em todo o Brasil. Também publicou um “Dicionário de Medicina Doméstica e Popular”, em três volumes. Mais um pouco da vida de Theodoro Langgaard, para atender aos que nele enxergam personalidade a ser lembrada, mesmo tanto tempo depois de sua partida para o etéreo. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 22 de fevereiro de 2024. voltar |
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