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Acadêmico: José Renato Nalini O delicioso livro de memórias de Laura Oliveira Rodrigo Octávio, “Elos de uma Corrente”, permite o resgate de uma São Paulo antiga, provinciana, mas fiel a valores e princípios hoje sepultados.
As Mesquitas e as Lébeis O delicioso livro de memórias de Laura Oliveira Rodrigo Octávio, “Elos de uma Corrente”, permite o resgate de uma São Paulo antiga, provinciana, mas fiel a valores e princípios hoje sepultados. Um dos relatos da autora é o da longínqua amizade entre sua família e “as” Mesquitas. Estas eram Esther, Rachel, casada com Armando de Salles Oliveira, Maria, casada com Carolino da Motta e Silva, Sarah, que se casou com Antonio Mendonça, avós de Antonio Penteado Mendonça, o famoso advogado securitário e atual Presidente da Academia Paulista de Letras, Judith, casada com Carlos Vieira de Carvalho e Lia Mesquita. A avó de Laura, “Mariquinhas, fora amiga de Nhá Lica, a mulher de “vovô” César, que era José Alves de Cerqueira César, célebre político paulista; suas filhas, Lucilla, casada com Júlio César Ferreira de Mesquita, o jornalista por excelência, e Mariquinhas César (outra Mariquinhas), vieram a ser amigas da mãe de Laura. “O vovô Cesar morava no Largo da Liberdade, e muita vez fui lá com mamãe. Era um homem de estatura fora do comum, compleição sadia, rosado, e uns olhos doces, azuis, de que nunca me esqueço. Tinha uma fala paulista, bem arrastada, e diziam que descendia de Amador Bueno; isto emprestava algo de fabuloso à sua personalidade. Nhá Lica, morena, redondinha, era Salles, irmã de Campos Salles. O livro do neto Alfredo (Alfredo Mesquita, o caçula da família, fundador da Escola Dramática de São Paulo), “Sylvia Pellica na Liberdade”, dá bem ideia do ambiente daquela casa”. Já as Mesquitas moraram na Consolação, na rua da Liberdade e, por fim, na Avenida Higienópolis, esquina da Angélica. Conta Laura haver brincado muito com Julinho, Júlio de Mesquita Filho e com Chiquinho, Francisco Mesquita, ambos diretores de “O Estado de São Paulo”. Mas veio a ser fraterna amiga de Sarah, exatamente a avó do Nico. Eram tão íntimas as famílias, que costumavam passar temporadas no chalé do Guarujá. Algo simples e bonito, numa praia linda e deserta. Na visão de Laura, Júlio Mesquita era um “homem bonito, filho de portugueses, olhos de conta, olhar forte, bigodes fartos, tez rosada e uma simpatia no trato”. Narra suas visitas à Fazenda Louveira, outra hospedagem que os Mesquita ofereceram à família de Laura. Foi o tempo em que mais conversaram: “éramos os únicos que comíamos: o pessoal lá era meio sem fome, e a comida deliciosa. Nem sei por que D. Lucila fazia tanta quantidade de coisas gostosas”. Já as Lébeis, moraram na rua General Jardim, onde Horácio Sabino, tio de Laura, também havia residido, antes de construir sua casa. Eram Sebastião Lébeis e D. Zilota, Elisa Magalhães. Ele, filho de alemão e brasileira, era bem mais brasileiro que alemão. O pai fora proprietário do Hotel de França, num dos “quatro cantos” das ruas Direita e São Bento. Na lembrança de Laura, “D. Zilota era muito bonita, com lindas cores naturais, olhos grandes, e logo minha simpatia de criança foi se dirigindo a ela, que foi minha grande amiga depois que amadureci. Era uma dona de casa exemplar, conseguindo, no tempo do fogão a lenha e de panelas de ferro, que tudo andasse brilhando como níquel polido”. O casal tinha três filhos e três filhas. A mais velha, Judith, com problemas cardíacos, não chegou à maturidade. Restaram Cecília, que se casou com Theodomiro Dias, pai do jurista José Carlos Dias, e Lourdes, que veio a se casar com o médico Simeão Bomfim, pais de Paulo Lébeis Bomfim, o último “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Bem depois, quando a Família Lébeis já residia à rua Rego Freitas, nasceram Raul Lébeis e a cantora Magdalena Lébeis, ambos tios de Paulo Bomfim. Foi em casa dos Lébeis que Laura conheceu Mário de Andrade, “rapazinho feioso e acaipirado; eu nunca poderia imaginar que ele depois se tornaria um líder de nossa literatura por quem tenho grande admiração”. Laura também conheceu “Noné”, o Oswald de Andrade, um revolucionário da Semana de Arte Moderna. “Era um menino como nós, e não sei porque o chamavam assim. A mãe dele era imensamente gorda e contavam que um dia entrou na banheira para tomar banho e ficou presa, sem poder sair; foi preciso arrombar a porta e puxá-la com veemência”. O interessante disso tudo é que Antonio Penteado Mendonça, o “Nico”, e Paulo Bomfim, o poeta, foram amigos-irmãos durante toda a vida. Laços de família que não se esvaem, mas que se reiteram, sólidos e confiáveis, nas gerações que se sucedem. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 10 02 2024 voltar |
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