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OS LANGGAARD E OS RODRIGO OCTÁVIO
Acadêmico: José Renato Nalini
A revisita a algumas famílias que tiveram relevância na História do Brasil e, notadamente, na história de São Paulo, comprova o cosmopolitismo de nossa terra.

Os Langgaard e os Rodrigo Octávio

A revisita a algumas famílias que tiveram relevância na História do Brasil e, notadamente, na história de São Paulo, comprova o cosmopolitismo de nossa terra. Theodor Henrik Johannes Langgaard, nascido na Dinamarca a 27 de julho de 1813, filho de Jens Bartholomeu Langgaard, morreu no Rio de Janeiro a 30 de outubro de 1883.

Casara-se em 16 de abril de 1842 com sua prima Hermantina Nicolina Christina Nielsen. O jovem casal dinamarquês, recém-casado, veio se aventurar em terras paulistas. Ele era médico.

Radicaram-se em Ipanema, não a praia carioca, mas em Sorocaba, onde o jovem trabalhou na usina de ferro do pai de Varnhagen. Embora necessitasse da revalidação de seu título de médico, passou a atender toda a comunidade sorocabana e granjeou fama por sua competência e afabilidade.

Quando o Imperador Pedro II visitou a Usina de Ipanema, se fez acompanhar do Dr. Cruz Jobim, que além de médico da Casa Imperial, era diretor da Faculdade de Medicina. Logo se entenderam os dois facultativos e o Dr. Cruz Jobim convidou o moço dinamarquês a prestar exames no Rio. Passou brilhantemente e, depois de Sorocaba, veio a residir em Campinas. Foi em Campinas que a linda filha Luiza, aos 16 anos, em 1865, vem a se casar com o advogado baiano que tinha vindo estudar nas Arcadas: Rodrigo Ignácio de Oliveira Menezes. Este, ainda estudante, adotou o nome Rodrigo Octávio e, com o consentimento do pai, passou a usá-lo para sempre.

Rodrigo Octávio de Oliveira Menezes (1840-1880), diplomou-se bacharel a 22 de novembro de 1861 e nesse mesmo mês defendeu tese. Muito ilustrado, foi delegado de polícia em Campinas, depois tornou-se advogado no Rio, para onde se mudou em 1870. Foi nomeado Presidente do Paraná no governo Sinimbu entre 1878 e 1879. Escolheu então, para chefe de Polícia, seu amigo Carlos de Carvalho. Também foi grande amigo de Aureliano Tavares Bastos, razão pelo qual o filho o escolheu como patrono da Cadeira 35 da Academia Brasileira de Letras.

Sim, o primeiro Rodrigo Octávio foi o pai de Rodrigo Octávio de Langgaard Menezes, nascido em Campinas em 1866, antes dos pais se mudarem para o Rio, onde a febre amarela ceifou a vida de sua mãe.

Os filhos do Dr. Langgard, com quem iniciamos esta conversa, foram estudar na Dinamarca. Otto estudou farmácia, radicou-se em Campinas e sua filha Lully foi a segunda mulher do Dr. Barbosa de Oiveira. Francisco de Ipanema Langgaard fixou-se na Dinamarca onde constituiu família. Nunca mais voltou ao Brasil.

Luizinha e Rodrigo mudaram-se para o Rio em 1870, e logo em seguida veio o casal Langgaard. Luizinha ficou viúva com seis filhos e o mais velho não tinha ainda catorze anos: Rodrigo, Hermantina, Luiza, Theodoro, Eugênia e João. Pouco depois morria-lhe o pai, em 1883, muito abalado com a perda prematura do genro, falecido antes dos quarenta anos.

Rodrigo Octávio, o primogênito, nascido a 11 de outubro de 1866, faleceu a 28 de fevereiro de 1944 e veio a ser considerado grande jurista, com fama internacional. A convite de Washington Luís, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Além da fama no universo jurídico, era, acima de tudo, um coração generoso. Sempre beneficiava quem dele necessitasse.

Sua irmã Hermantina se casou com um diplomata, Manuel Pontes. Viveu em Buenos Aires, Marselha e Lisboa. Brilhava na sociedade. O casal se desentendeu, vieram para o Brasil, apenas a mulher e o filho. Pontes não voltou mais e morreu em Pau, na França.

Luiza, cujo apelido era Lully, quando jovem enamorou-se de um italiano original, Pietro Caminada. Ganhou de noivado um carro e sua parelha de cavalos. Falava em grandezas mirabolantes. Casaram-se e as brigas se sucediam. Mas Lully não podia viver sem o Caminada, com quem ficou até à morte dele, em 1923. O Caminada tinha algumas boas ideias e imaginou a passagem dos bondes pelos Arcos da Lapa. Ganhou o direito da ideia. Comprou uma ponta de terreno em Copacabana-Arpoador e seus herdeiros conseguiram boa indenização do Exército, que ocupou a área.

Theodoro falava bem inglês e seu pai obteve para ele boa colocação nos Estados Unidos. Eugênia, Genesy para todos, casou-se com o engenheiro naval Manuel San Juan, foi muito feliz, teve uma filha, Maria Luíza, e muito cedo enviuvou. João nasceu pouco antes da morte do pai e se casou com Delfina Guimarães.

Esses eram os Langgaard – Rodrigo Octávio, dinamarqueses, baianos, paulistas, cariocas, campineiros. Boa mistura, um pouco do que é feita a gente que ajudou São Paulo a ser o que é.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 05 02 2024




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