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ELOS DE UMA CORRENTE
Acadêmico: José Renato Nalini
Esse é o título das memórias de Laura Oliveira Rodrigo Octavio, um exercício de trazer à tona tudo aquilo que mais a impressionou quando criança e jovem.

Elos de uma corrente

Esse é o título das memórias de Laura Oliveira Rodrigo Octavio, um exercício de trazer à tona tudo aquilo que mais a impressionou quando criança e jovem. Algo que as pessoas deveriam fazer, para que as histórias familiares não se percam após à partida dos mais experientes. Além da História oficial, que é o relato de fatos e de suas datas, na versão dos poderosos, interessa à humanidade reter a trajetória de vidas anônimas ou quase anônimas. Pois é dessa matéria que se compõe a sociedade, não apenas dos fatos considerados gloriosos ou dignos de celebração.

Interessante como os nomes se repetiam nas famílias tradicionais. Tanto que Laura se vê obrigada a fazer um esclarecimento logo no início: Marietta Pederneiras Rodrigo Octávio era sua sogra e vai aparecer no livro como “Sinhá”. Marietta Pederneiras Vampré foi sua irmã mais velha. Marietta Oliveira Pereira é sua tia, irmã de seu pai. Três Mariettas no mesmo grupo parental!

Dois Rodrigos Octávios: o sogro de Laura, que ela chama “tio Rodrigo” e o filho dele, marido dela, que surge nas reminiscências como “Didi”. E três Lauras: a própria autora, mais Laura Pederneiras, irmã de sua sogra, conhecida como “Laíta” e Laura Rodrigo Octávio, irmã de seu marido, no livro aparece como “Laurinha”.

O propósito da autora é guardar para filhos e netos, as histórias que ela ouviu em criança e que sempre a encantaram. Na condição de mais velha, quis resgatá-las “antes que o elo que me prende a essa corrente se gaste demasiadamente”. Em seguida ela se recorda da vovó Mariquinhas, nascida a 10 de setembro de 1842, em Rio Claro, batizada Maria Carolina. Perdeu a mãe aos oito anos e, aos doze, o pai já quis casá-la com um amigo dele, Joaquim Gonçalves Cardoso, que tinha “apenas” cinquenta e seis anos. O padre se recusou a celebrar o casamento. Batizara a menina e sabia que ela não teria como suportar os encargos do matrimônio.

Todavia, o pai insistiu e a menina se casou com Joaquim, que sofreu um acidente e ficou preso ao leito. A vida de casada foi o treino da enfermagem. Quando enviuvou, Maria Carolina estava no Rio de Janeiro e, quando atingiu a idade núbil, encontrou Ricardo Leão Sabino, que enviuvara duas vezes. Casou-se com ele em 1860.

Ricardo nascera a 14 de abril de 1814, era maranhense, filho do desembargador Joaquim José Sabino Rezende Faria e Silva. Sua mãe, Josepha, era filha do engenheiro inglês Lord Philip Belfort e de Adelaide de Mattos. Foi para Coimbra, estudar na Universidade. Entusiasta, lutou ao lado de D. Pedro contra D. Miguel. Muito culto, ao voltar para o Maranhão fundou uma escola, onde se matriculara em 1835 Gonçalves Dias, para aprender latim, francês e filosofia.

Seguiu Caxias ao Sul e se radicou no Rio de Janeiro, onde se casou com Maria Carolina, avó de Laura, onde sua mãe, Amélia Adelaide, nasceu a 3 de janeiro de 1862. Vieram depois Maria Carolina, Horácio, que viria a se tornar o famoso Horácio Sabino, Lavínia e Elvira.

Ricardo Sabino era um aventureiro. Fez a família morar em muitos lugares, pois sempre acreditava que iria fazer fortuna. Contava a vovó Mariquinhas que em Santa Catarina o frio era tamanho, que ela, então com sete anos, para lavar o rosto precisava quebrar o gelo na tina d’água que ficava ao relento. Para ajudar a mãe a fazer o mingau do irmãozinho, tinha de subir num banco para não deixar empedrar o leite com farinha.

Ele também se alistou, junto com três filhos, na guerra do Paraguai. Um deles perdeu a vida. A família veio parar em São Paulo e Mariquinhas queria dar uma educação esmerada a seu filho Sabino. Moravam na antiga Praça do Congresso, hoje João Mendes.

Amélia Adelaide, mãe de Laura, foi casada com Oscar Pederneiras, com quem teve dois filhos: Marietta e Armando. Oscar teve pneumonia e morreu em 1890. Em 8 de dezembro de 1891, Amélia Adelaide se casou com Numa de Oliveira, então com vinte e um anos. A mulher era oito anos mais velha. O casal perdeu o primeiro filho e Laura nasceu a 3 de março de 1894, à rua da Glória. Recebeu o nome da tia, Laura Pederneiras, a quem sua mãe admirava. Batizada na Igreja do Estácio, no Rio, teve por padrinhos Maria José e José Ferreira Vaz, que lhe deram um estojo de prata com talher, copo, argola, chocalho e canequinha de café. Esta, Laura ofereceu à sua bisneta, Laura também, nascida em Montevidéu a 12 de agosto de 1965.

Já eram muitos os elos de uma corrente que ainda teria inúmeros outros. Voltarei ao assunto.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 21 01 2024



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