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Acadêmico: José Renato Nalini
Há quem questione o fato de serem apenas quarenta os acadêmicos. Essa a tradição copiada do modelo francês, a mais famosa Academia, por sua vez inspirada no Jardim de Akademos de Platão.
As entranhas das Academias O inesquecível jusfilósofo Miguel Reale, imortal pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia Paulista de Letras, declamava um poema em francês retratando a nossa realidade. Algo assim: “Somos quarenta e podemos ser ignorados; somos trinta e nove e ajoelham-se a nossos pés”. Como “genou”, joelho em francês, rima com “nous”, nós, a poesia era bem interessante. Há quem questione o fato de serem apenas quarenta os acadêmicos. Essa a tradição copiada do modelo francês, a mais famosa Academia, por sua vez inspirada no Jardim de Akademos de Platão. Integrar uma Academia de Letras é um enorme prazer. Conviver com pessoas que buscam o saber, que apreciam a cultura, que leem e escrevem. E o mais importante é que o cargo é vitalício. Quem ingressa, nela permanece até à morte física. Ainda assim, é preciso ser lembrado a cada posse naquela cadeira. Essa a verdadeira imortalidade, como salientava a querida e saudosa Lygia Fagundes Telles. Ela também repetia um dito atribuído a Olavo Bilac: “Somos imortais porque não temos onde cair mortos...”. Machado de Assis, ao criar a ABL em 1897, queria que ela fosse uma casa plural: com alguns escritores, pois é de Letras; com gente jovem, para ter alegria. Com celebridades, para ser conhecida. Mas, principalmente, a Academia tem de ser uma casa de bom convívio. Essa a intenção de seu fundador, isso o que a Academia Paulista de Letras, criada em 1909, pretende preservar. A leitura das “Memórias” de Manuel Oliveira Lima, diplomata e um dos fundadores da ABL, tem várias menções à Academia Brasileira de Letras. Ele mostra as concessões que os acadêmicos às vezes fazem: “A Academia Brasileira escolheu o general Dantas Barreto por ser Ministro da Guerra e, sobretudo, por haver prometido, segundo propalava o Sr. Coelho Neto, obter o chamado “Palácio Monroe”, pavilhão de exibição, para sede de uma companhia que era então composta de frades mendicantes. Não me pesa na consciência ter contribuído para dar a Nabuco semelhante panegírico: votei em Alfredo de Carvalho, apesar deste ter tido a fraqueza de retirar a sua candidatura diante da do soldado de Canudos (Euclides da Cunha)”. Oliveira Lima narra como era a sua conduta acadêmica: “O meu único pecado enquanto participava nos trabalhos acadêmicos foi o voto dado ao Sr. Lauro Muller, não pelos seus poemas, que a metáfora do Sr. Graça Aranha chamou de pedra e que eu antes chamaria de gesso, mas para não ser increpado, após minha longa divergência de Rio Branco, de ser sistematicamente infenso aos ministros do exterior. Com o meu esprit de minorité, votei sempre com as minorias: por Domingos Olympio, romancista e publicista, contra Mário de Alencar, escritor de meias frases; pro Pinto da Rocha contra o Arcebispo Dom Silvério; por Gustavo Barroso, sempre que se apresentou. É verdade que também votei pelo Sr. Austregésilo porque, pondo de parte os seus estudos de clínica social, num ponto nunca deixei minha camaradagem com a Prudência e é em viver bem com os médicos, dos quais a gente sempre carece. Além disso, falava em mim outro aspecto: o instinto de conservação. O concorrente de Austregésilo era Gilberto Amado e, como nesse tempo eu frequentava a Academia, não me queria arriscar um dia ao azar de um tiro”. Numa carta que Joaquim Nabuco enviou a Oliveira Lima, ele também fala na Academia: “Não votei no Mário por causa da cabala oficial, a que alude. Meu candidato era o Jaceguai, e em falta dele, o Orlando. Votei pela dívida em que estava com o pai, José de Alencar, por o ter atacado, quando jovem, com tanta falta de veneração nacional, e votei também por pensar que os grandes nomes literários têm preferência a uma cadeira na Academia por duas gerações, a segunda eleição podendo mesmo ser de puro favor, para encorajar a arte. Depois sabe que desejo agradar ao Machado, o pai do cenáculo. O Padre Severiano pode esperar, tem talento para subir e muito, desde que deixe Petrópolis, com que anda a desandar bordoadas sobre todos. É um gênero esse em literatura, o da pancadaria, que a Academia não deve animar”. Quem quiser chegar à Academia, pelo menos a Paulista, a qual tento servir, tem de flertar com ela, namorá-la, noivá-la para só então casar-se. Aclamação unânime ou unção de parte de um só padrinho não costuma surtir efeito. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 05 01 2023 voltar |
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