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Acadêmico: José Renato Nalini Vale a pena ler “Reflexões sobre a vida”, de Roberto Vidal da Silva Martins, que nos conduzem a um sereno e imprescindível exame de consciência.
Reflexões sobre a vida Esse o nome de um livro escrito por Roberto Vidal da Silva Martins, o terceiro filho de Ruth e Ives Gandra da Silva Martins. Ele já publicara “Perestroika”, pela Resenha Universitária e “O Aborto no Direito Comparado” pela CEJUP. “Pelos frutos se conhece a árvore”. As mensagens de Roberto mostram que Ruth e Ives souberam formar sua prole. Ele recorda frases de efeito, capazes de suscitar meditação quanto ao que é mais importante em nossa existência: encarar esta peregrinação como etapa transitória a caminho da verdadeira finalidade humana. A respeito da Covid e das centenas de milhares de mortes, menciona Einstein: “O homem encontra Deus por trás de cada porta que a ciência abre”. Não há qualquer incompatibilidade entre ciência e fé. Ambas se complementam. O que às vezes prevalece, numa sociedade egoísta, consumista e imediatista, é a pretensão do bicho-homem, que se esquece da lição de Blaise Pascal: “A grandeza do homem está em reconhecer a sua pequenez”. Há várias menções a essa figura fabulosa que é Viktor Frankl. Embora podendo escapar ao nazismo, abre mão de sua passagem para os Estados Unidos e a entrega a outro judeu e vai enfrentar os horrores do campo de concentração junto ao pai. Este não conseguiu sobreviver, mas Frankl subsistiu e, quando indagado como suportara o flagelo, respondeu: “Quando se tem um “porquê”, aceita-se qualquer “como”. São paulino como o pai, Roberto compara a efêmera passagem da humanidade pelo planeta como uma partida de futebol. Noventa minutos de jogo, raros os racionais que ultrapassam o centenário. Assim mesmo, com o benefício dos “acréscimos” concedidos pelo árbitro. Nossas faltas nos dão cartão amarelo, equivalente a pecados veniais. Ou vermelho, a infração do pecado mortal. Polido e cordial, Roberto leva a sério o supraprincípio norteador da vida brasileira que é a dignidade da pessoa humana. Conversa com o semelhante. Ao sair da missa e constatar que um outro fiel usava a camisa do São Paulo Futebol Clube, cumprimentou o jovem: “Parabéns pela opção!”. E a resposta foi: “Obrigado, mas a melhor opção está aqui atrás!”. E apontou para a Igreja. É uma prova de que Deus nos fala constantemente, a nós que nem sempre estamos aptos a captar Seus dizeres. Sobre Joseph Ratzinger, o filósofo Bento XVI, que muitos chamavam “o rottweiler de Deus”, por sua ortodoxia, Roberto salienta que o jornalista alemão Peter Seewald, ao entrevistá-lo, impressionou-se com o sorriso do Papa. “Ele tem um sorriso que desarma!”. Algo que Ives, Crodowaldo Pavan e eu experimentamos, ao entregar ao Papa o título de “Acadêmico Honorário da Academia Paulista de Letras”, quando de sua visita a São Paulo. Nessa tarde, no Mosteiro de São Bento, o Papa sorria, benevolente e acolhedor, segurava nossas mãos e repetia: “Mas que honra!”, em italiano. Ratzinger foi um destemido e afetuoso defensor da religião. E o fez com doçura: “Sorri, acolhe afetuosamente aos que o chamam para conversar, escuta mais do que fala, e defende com serenidade e fidelidade os princípios cristãos que ninguém está obrigado a viver. Devem vivê-los, mas não estão obrigados a isso. As pessoas são livres”. Livres até para as escolhas mais difíceis. Minha família, que em Jundiaí era chamada de “pilar de São Bento”, experimentou a ventura de entregar à clausura duas de suas melhores expressões. Opção que muitos estranham, pois há outros carismas. Crianças a necessitar de cuidados. Idosos, enfermos, a pobreza desassistida. Mas Roberto invoca o sacerdote Chautard que proclamava: “Dez carmelitas rezando valem muito mais do que vinte missionários pregando”. Inegável que o mundo precisa de oração e talvez o Brasil necessite mais do que outros países. Aqui enfrentamos questões que outras nações já superaram. Dentre as quais aquela que Santa Teresa de Calcutá enfatizou: “Este mundo tem essa corrupção endêmica, pois os políticos do mundo inteiro ficam muito pouco tempo de joelhos”. Vale a pena ler “Reflexões sobre a vida”, de Roberto Vidal da Silva Martins, que nos conduzem a um sereno e imprescindível exame de consciência. Algo que a azáfama da rotina e a requisição para questões estéreis podem nos furtar, sem que nos demos conta. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão, em 05 12 2023 voltar |
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