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Acadêmico: José Renato Nalini Enquanto aqui estamos, nem sempre cultivamos os que se foram. A tristeza foi nuvem passageira.
Nuvem passageira Estamos todos em marcha e um dia abriremos espaço para que alguém continue a caminhada. Nem sempre nos damos conta de que o único insumo insubstituível é o tempo. Ninguém consegue comprar um minuto a mais de vida. Quando a caminhada termina, acabou. É o fim. "C'est fini", como dizem os franceses. Enquanto aqui estamos, nem sempre cultivamos os que se foram. Breve notícia, o pranto da família e dos mais íntimos. Missa de sétimo dia. Depois a vida continua. A tristeza foi nuvem passageira. Passamos a enfrentar outros afazeres e a cumprir novas obrigações. Deixamos de meditar sobre aqueles que partiram, alguns com participação ativa na vida comunitária e merecedores de especial consideração. Jundiaí perdeu pessoas como Idibal Matto Pivetta, que aqui nasceu em 28 de julho de 1931 e que se tornaria bem conhecido no Brasil. Cursou direito na São Francisco e ali, em 1969, junto com colegas, fundou o grupo "Teatro União e Olho Vivo", que se mantém ativo. Dedicou-se à dramaturgia popular e ao teatro de resistência. Acumulou prêmios como o de melhor autor nacional da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte. Defendeu presos políticos durante a ditadura. Foi preso e torturado no DOI-Codi e, por causa disso, os seus textos teatrais passaram a ser censurados. Em virtude disso, teve de passar a usar um pseudônimo. Ficou mais conhecido como César Vieira. Contou histórias do povo negro e continuou a ser perseguido, como contou seu filho Lucas Cesar de Moraes Pivetta, conhecido como Cesinha Pivetta. Para ele, o pai é a "maior referência de vida em todos os aspectos culturais, sociais, intelectuais. Um cara muito humano, solidário, fraterno. A gente conviveu de forma íntima, como dois amigos muito próximos e companheiros mesmo". Idival trabalhou diretamente com o povo nas ruas, com o seu trabalho de vanguarda, a conciliar a arte e a luta por direitos dos mais vulneráveis. Morreu aos 92 anos em 23 de outubro último, na Beneficiência Portuguesa – Mirante, na capital. Também há pouco falecia o médico Antonio Mendes Pereira, de família tradicional e referência na medicina jundiaiense. Soube da partida de Jocely Trivelato, que muito lutou e trabalhou pela educação. Pouco antes, Jundiaí perdia Údi Bocchino, a Maria de Lourdes, irmã do Mário Augusto e da Ana. Seus pais, D. Mary e Sr. Generoso Mário Bocchino eram um exemplo de família. Nunca me esqueço da bela residência à esquina da Rangel Pestana com a rua da Padroeira, que fora sede do Tênis Clube antes de receber os Bocchino. À entrada, um caramanchão de glicínias era uma atração quando floriam. A cada partida, é uma parte da história da cidade e nossa própria que se vai. Oportunidade para refletir sobre o mistério da morte. Quero crer que não tenhamos sido criados para acabar de vez. Para onde vão nossos sonhos, nossos anseios, nossas angústias, nossas aflições? Tudo definitivamente encerrado? A morte está sempre à espreita. Chega sem avisar. E é bom que assim seja. Como seria aflitivo saber qual será a hora da partida! O mais democrático dos eventos é imparcial para com todos. Ninguém consegue se subtrair à sua chegada. E que isso nos torne mais humildes, menos pretensiosos, menos gananciosos. Capazes de valorizar o convívio e a afeição. O que sentimos em relação aos outros e o que suscitamos que outros sintam em relação a nós mesmos, é a única bagagem que poderemos levar quando chegar a nossa vez. Publicado no Jornal de Jundiaí, em 30 11 2023 voltar |
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