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Acadêmico: José Renato Nalini Se há condutas que nos dão vergonha de pertencer à espécie que se autodenomina “racional”, outras há que nos dão orgulho de integrá-la.
Orgulho de ser gente Se há condutas que nos dão vergonha de pertencer à espécie que se autodenomina “racional”, outras há que nos dão orgulho de integrá-la. É o que acontece quando se toma conhecimento do trabalho de Yann Arthus-Bertrand, um cineasta, fotógrafo e militante ecológico francês, que na década de 1990 percorreu o globo para fotografar “A Terra Vista do Céu”. O resultado foi um livro que vendeu mais de quatro milhões de exemplares. Também produziu os filmes “Home: Nosso Planeta, nossa casa”, de 2009, “Humano: uma viagem pela vida”, de 2015 e “Legado: Nossa Herança”, em 2021. Embora tenha repetido, durante décadas, “não temos tempo para ser pessimistas”, hoje ele está deprimido. Sente-se impotente diante da degradação da paisagem do planeta. Os governos errantes em suas políticas públicas e as os meios de comunicação não se empenharam em convencer a opinião pública de que o fim do mundo está próximo. Sua militância ecológica o aproximou do Papa Francisco. Suas fotos ilustram a Encíclica “Laudato Si”, (O Senhor seja louvado), sobre o meio ambiente. É amigo de Sebastião Salgado, cujo discurso de posse pronunciou, quando do ingresso do fotógrafo brasileiro à Academia de Belas Artes da França. Não é homem apenas das fotos ou das palavras. Restaura uma fazenda particular na França. Mas está convencido de que os cientistas têm razão quando falam da “sexta extinção”. Tem dificuldades em aceitar essa indiferença total, indiferença da nossa civilização, diante do que está acontecendo. É surreal não querer acreditar no que todos sabemos. “Nós sabemos! É dito todos os dias. Milhares de cientistas dizem isso! E continuamos como antes!”. 2022 foi o ano mais quente e, coincidentemente, o ano em que a humanidade mais consumiu combustível fóssil. Mesmo sabendo que ele está nos matando e a toda espécie de vida que habita este planeta. Acredita ser urgente uma verdadeira revolução. Não será uma revolução política, porque os políticos são apenas o espelho daquilo que somos. A visão eleitoral é muito curta e egoísta. Não será uma revolução econômica, porque a economia só pensa em crescimento. Não será uma revolução científica, porque nos iludimos acreditando que a Terra dará um jeito, como sempre deu, e que a tecnologia nos salvará. Mas ela também não conseguirá desta vez. Tem de se, diz Yann, uma revolução espiritual: “O que posso eu, como homem, fazer? O que sou, qual é a minha missão? Muitas vezes termino minhas conferências mostrando meu primeiro neto – eu tenho sete – em meus braços. Ele tem confiança em mim, e digo a mim mesmo: qual é o futuro desse menino que confia em mim, qual é o futuro que estamos deixando para ele?”. Quem já disse não ter tempo para ser pessimista, agora está pessimista? Poderia responder como Saramago: “Não sou pessimista! O mundo é que anda péssimo!”. Mas ele pensa que o engajamento ainda poderá fazer um milagre. “A vida ainda é incrivelmente bela. Aos 77 anos, você fica um pouco mais perto das horas ruins. Tem que aproveitar a vida ao máximo. Acho que não tenho direito de ser pessimista. A vida é linda demais, e, acima de tudo, tenho muita sorte de fazer este trabalho”. Yann Arthus-Bertrand está fazendo um filme sobre migrantes. Entrevista refugiados e o faz com o celular, porque não houve quem quisesse patrocinar um projeto desses. Quando entrevistou uma mulher em Madagascar e perguntou a ela qual seria o maior sonho de sua vida, ela respondeu: “Gostaria de morrer com um sorriso”. Sorrir é um remédio gratuito. Está ao alcance de todos. Sorrir para o próximo, para que ele se impregne de um instante amorável. O que vai salvar o mundo não é a biodiversidade, nem os créditos de carbono, nem a bioeconomia. O que pode salvar o mundo é o amor. Mas antes, é preciso deixar de se enganar. O fenômeno do “não acreditamos no que sabemos”. É uma espécie de negação coletiva. Nada obstante uma pessoa como Antonio Guterrez, um político que sabe das coisas, tenha advertido os homens: “A humanidade abriu as portas para o inferno climático”. Depende de nós aceitar esse destino melancólico, ou fazer a revolução ecológica necessária. Sirvamo-nos do exemplo de seres humanos que levam a sério o tema ecologia, como Yann Arthur-Bertrand e Antonio Guterrez. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão, em 01 12 2023 voltar |
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