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ZANCANER SABIA FAZER POLÍTICA
Acadêmico: José Renato Nalini
Saudades de Orlando Zancaner, cujo centenário de nascimento ocorreu em 18 de março de 2023, sem as comemorações que merecia.

Zancaner sabia fazer política

Saudades de Orlando Zancaner, cujo centenário de nascimento ocorreu em 18 de março de 2023, sem as comemorações que merecia.

Convivi com Zancaner no período em que integrei a gestão municipal de Jundiaí de Walmor Barbosa Martins, outra liderança que perdemos neste 2023.

Simpático, afável, bem-humorado, era um homem cuja personalidade se impunha naturalmente. O Governador Roberto Costa de Abreu Sodré o tinha em alta conta. Zancaner possuía em sua gaveta, na Secretaria da Cultura, atos de nomeação pré-assinados pelo governador, tamanha a confiança que Sodré nele depositava.

Seu nome completo: Orlando Gabriel Zancaner (1923 — 1995). Paulista de Catiguá, nasceu em 18 de março de 1923. Advogado formado em 1947 pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, iniciou a vida política em Catanduva, elegendo-se Vereador à Câmara Municipal (1951/55). Mas o legislativo não o satisfez. Era um executor, um fazedor, um realizador. Tinha de ir para o Executivo.

Facilmente eleito pela população catanduvense, foi Vice-Prefeito do município (1955/58). Deputado Estadual eleito pelo Partido Social Progressista (PSP) à 4a Legislatura Bandeirante (1959/63), reelegeu-se por mais dois mandatos consecutivos (1963/67 e 1967/71), este último pela Aliança Renovadora Nacional (Arena).

Assumiu a Presidência da Assembléia Legislativa em 1° de junho de 1970, exercendo até 30 de janeiro de 1971, quando renunciou, em decorrência de sua eleição ao Senado da República. Foi sucedido, na Presidência da Assembleia, pelo Deputado Manoel Alexandre Marcondes Machado Filho, até as eleições realizadas em 15 de março de 1971.

Foi durante sua campanha para o Senado que tive oportunidade de acompanhá-lo pelo interior. Enquanto rodávamos pela estrada, íamos lembrando os nomes dos Prefeitos, suas esposas e filhos, vereadores e demais cidadãos influentes de cada município. Mais eficiente até do que Paulo Maluf, Zancaner já descia do carro falando o nome de quem abraçaria logo em seguida. Não havia como perder eleição.

Dinâmico, não parava para almoçar. Comia um sanduíche ou um pastel. Não perdia tempo. E faturava todos os pleitos dos quais participava. Sempre com folga e galhardamente.

Orlando Zancaner exerceu o mandato de Senador de 1971 até 1976, quando renunciou, por ter sido indicado para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (1976/93), onde ocupou a Presidência em três ocasiões.

No governo de Roberto Costa de Abreu Sodré, assumiu a pasta da Cultura, Esportes e Turismo, numa gestão dinâmica e sedutora. Estava em todas as cidades, distribuía material esportivo e fanfarras, incentivava espetáculos locais e regionais. Seu gabinete estava sempre lotado de interioranos que o adoravam e ele fazia questão de participar dos eventos em qualquer localidade do Estado.

Enquanto Senador, foi-me valioso apoio na carreira que eu então iniciava no Ministério Público Paulista. Como Promotor Substituto, estive em Votuporanga, depois em Itu e logo passei a fazer parte da Equipe do Assalto, em São Paulo. Quando chegou a vez da promoção, um colega bem influente, Hamilton Lima Barros, seria apoiado por João Baptista Figueiredo, então responsável pelo SNI – Serviço Nacional de Informações.

Àquele tempo, o MP elaborava uma lista tríplice e a encaminhava ao Governador, que nomeava um promotor. Para não embaraçar o meu colega e amigo carioca, que queria ser titular de Ubatuba, pensou-se em colocar na lista tríplice dois candidatos fracos, que não fossem páreo. Escolheram Antonio Eras Filho e eu. Contei para o Zancaner que eu seria preterido, porque o candidato favorito possuía uma “bomba atômica”: o apoio do poderoso chefe do SNI.

Zancaner não se impressionou. “Se ele tem uma bomba atômica, o nosso governador é caipira, prefere “traques”! Encarregou o seu gabinete de pedir apoio a prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, chefes de partidos e “infuencers”. Não deu outra. Fui promovido para Ubatuba em 1975. Foi uma surpresa e, a partir daí, começou-se a pensar que eu era alguém com prestígio. Devo isso ao meu querido amigo Zancaner.

Mais tarde, ele foi Diretor do Banco do Estado de São Paulo (1993/94). Faleceu em 9 de maio de 1995, em São Paulo. Figura extraordinária na vida pública de São Paulo.

Publicado no Blog do Fausto Macedo, em 23 11 2023



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