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Acadêmico: José Renato Nalini Quem o conheceu testemunhou a elegância de sua figura, a maneira apurada de se exprimir, a consciência humilde de seu valor.
Reinaldo Porchat Nos “Retratos a Pena”, que Aureliano Leite escreveu, para traçar o perfil de pessoas que ele admirava, quando chega em Reinaldo Porchat ele diz que muitas vezes a boa impressão vai empalidecendo e, ao cabo de certo tempo, desaparece por completo. Isso seria consequência da evolução intelectual. Mais esclarecidos, nos desencantamos com figuras anteriormente admiradas. Mas com Reinaldo Porchat isso não ocorreu. Por sinal, foi exatamente o contrário. “Calouro, eu amei no mestre a cultura jurídica profunda especializada no direito romano, a eloquência oratória veiculada por uma língua castiça, estilizada, tudo coroado por virtudes morais chocantes numa época de desregramentos”. Sim, constatar que pessoas continuam íntegras quando a era é propícia ao deboche, causa estranheza e encantamento. Algo muito adequado aos nossos dias. Já maduro, Aureliano Leite enxergava as mesmas qualidades brilharem até com maior fulgor em Reinaldo Porchat. “Sua cultura jurídica e sua eloquência oratória extravasaram das arcadas da Academia de Direito para a vida profissional, o Conselho Superior de Ensino, o senado do estado, para a política de ideias. E em todos esses campos de ação elas se impuseram tão fundamente como se impunham aos calouros de meu tempo”. O atributo mais eloquente em Reinaldo Porchat, para os seus contemporâneos, foi sua moralidade. Nascera em Santos, em 23 de maio de 1868 e faleceu em São Paulo, em 12 de outubro de 1953, aos 85 anos. Filho de Victorino Porchat e de Prudência da Silva Teles, era neto do botânico suíço Henri Victor Porchat, nascido em Genebra e radicado em Santos, onde adquiriu a ilha que hoje leva o seu nome. Reinaldo foi catedrático de Direito Romano nas Arcadas e também foi diretor da Faculdade. Entre 1934 e 1938, foi o Primeiro Reitor da recém-criada Universidade de São Paulo, em cujo campus existe uma estátua em sua homenagem. Eleito em 1923 Senador Estadual em São Paulo, foi também eleito membro da Academia Paulista de Letras. Casou-se com Maria Júlia de Luné (1873-1921) e ambos foram pais de Oswaldo de Luné Porchat, Alcyr de Luné Porchat e Edith de Luné Porchat, que se casou com Eusébio Matoso. Quem o conheceu testemunhou a elegância de sua figura, a maneira apurada de se exprimir, a consciência humilde de seu valor. Nunca se valeu de seu prestígio para obter vantagem, pois de severo feitio íntimo, adversário de transigências, conchavos ou falcatruas. Aureliano Leite chega a afirmar, enquanto Reinaldo Porchat era vivo: “Ele vale-me hoje mais do que me valia quando eu calouro. É que o contraste de sua personalidade moral com o despudor contemporâneo se tornou mais vivo. É que a ignorância, fazendo-se menor em mim, pode aproximar-me mais de seu espírito”. Essas palavras constavam de um artigo que Aureliano publicara no “Diário Popular”. Reinaldo Porchat as leu e enviou missiva de agradecimento ao redator: “...compreendi também a razão dos louvores com que foi habilmente tecido o meu retrato a pena. É que o traçou um amigo, desses que têm talento e cultura, e que, por causa disso generosos, querem distribuir com um velho professor um pouco desse tesouro com que se exornam fulgurando no livro e na imprensa”. E continua: “Quanta generosidade! Mas também, que felicidade para mim! Sei o que sou. Porém sei muito mais o que não sou. Mas, se os meus bons amigos alunos, mais amigos do que alunos, assim dizem de mim com tanta arte (e com tanto engenho), eu me sinto realmente feliz, não pelo supor verdadeiro o que se contenha nas frases lindas que escreveram, mas pela prova que tenho de haver logrado a fortuna de fazer dos bons alunos amigos dedicados que me amparam, na marcha da vida, tão cortada de asperezas, com o seu carinho sincero e compensador. Muito obrigado. E um afetuoso abraço do Reinaldo Porchat”. Belo testemunho! Quantos professores hoje recebem esse carinho? Melhor ainda: quantos alunos devotam a seus mestres essa admiração? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão, em 14 11 2023 voltar |
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