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Acadêmico: José Renato Nalini Quem quer, chega lá! Mas precisa querer com vontade. Querer mesmo!
Quem quer chega lá! Alguns conceitos perdem substância no decorrer da História. Deixam de servir como guia. São relegados à arqueologia das letras. Pronunciá-los denuncia antiguidade superada, filiação a pensamentos há muito sepultos. Um desses conceitos é o de sacrifício pessoal para se alcançar a meta. Tudo tem de ser obtido com o menor esforço, pois dificuldades não estão na mira do que se propõem a atingir o mais depressa possível os seus ideais. Para estes, é interessante mergulhar em vidas passadas, para constatar que nem sempre se obtém o sucesso de maneira tranquila e que empenho, provação, queda e frustração fazem parte do trajeto. Menciono um caso concreto. Não é recente, mas é veraz. Nas lonjuras de Motuca, lugarejo perdido nas Minas Gerais, um simples José sentiu vontade de estudar direito. Paupérrimo, foi bater à porta de seu padrinho de batismo, o Barão de Varginha. Àquela época, o senhor feudal era convidado a apadrinhar todas as crianças que nascessem sob sua área de influência. O padrinho Barão era opulento e não tinha filhos. Ouviu pacientemente o afilhado. Mandou-o esperar e, em lugar dos recursos solicitados, trouxe-lhe uma enxada. E mais não disse. Não faltaram outras mãos caridosas. Os diretores do Colégio São José permitiram que ele estudasse de graça, em troca de trabalhar na escola. Encerrado o segundo grau, empregou-se como caixeiro. Economizou o minguado ordenado e mudou-se para Campanha, onde conseguiu formar-se na Escola Normal. Passou a lecionar e, poupando tostões, chegou a São Paulo. Entrou na São Francisco. Morava mal, praticamente de favor, mas estudou com afinco e fez um curso brilhante. Não que a situação financeira melhorasse. Prestes a ingressar no quinto ano, viu-se desprovido da quantia necessária ao pagamento da inscrição, espécie de matrícula. Colegas seus, que acompanhavam o seu caminho de privações, deixaram à sua porta exatamente a quantia necessária à continuidade do curso. Obteve o diploma e foi advogar em Mococa. Aos poucos, foi obtendo clientela e, com ela, remuneração suficiente para sobreviver. Já dispondo de boa situação financeira, volta a São Paulo e, após vários concursos, em 1911 é aprovado. Nomeado catedrático de direito internacional público e diplomacia, substituiu na Cátedra José Bonifácio de Oliveira Coutinho, genro de Campos Sales e falecido precocemente. Como professor, era tímido e de dicção caipira. Mas suas aulas eram objetivas claras, bem compreensíveis para os alunos. Sua assiduidade era de admirar. Nunca faltou a uma aula sequer. Chegou a escrever livros. Ao se referir à sua obra, “Ensaios de Filosofia do Direito” e “Direito Internacional Público”, quase a menosprezava, chamando-a de “produção menor”. Também escreveu um texto considerado importante à época: o livro “Servidões de Caminho”. Seus “Ensaios de Filosofia” parecem uma condensação sistematizada e tornada mais acessível, das ideias do grande Pedro Lessa. Por haver passado por necessidades, por haver experimentado mais do que pobreza, a miséria, José Mendes era um homem afável. O seu livro “Direito Internacional Público”, escrito em 1913, foi celebrado quando da comemoração do centenário, em 2013. O Professor José Mendes (1861-1918) escreveu inúmeros artigos sobre Direito Internacional, Direito Administrativo, Direito Constitucional e, durante sua permanência na São Francisco, de 1911 até seu falecimento em 1918, foi uma personalidade amiga dos alunos e de todas as demais pessoas que o procurassem. Tudo indicava certa ascendência indígena, pois tinha a bela cor acobreada. Era um homem forte. Vestia-se com singeleza. Nunca se libertou da pesada cinta de couro dos caboclos. Mercê de trabalho incansável, acumulou grande fortuna e foi morto exatamente por isso, em razão de uma contenda de divisas. Ninguém poderia prognosticar a obtenção de todos os êxitos que José Mendes logrou. Atestado de que força de vontade, espírito indômito, destemor, coragem para arrostar intempéries, tudo isso contribui para que os sonhos se convertam em realidade. Quem quer, chega lá! Mas precisa querer com vontade. Querer mesmo! Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão, em 05 11 2023 voltar |
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