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AOS ÍNDIOS O QUE É DELES
Acadêmico: José Renato Nalini
Oportuno e justo demarcar mais duas terras indígenas, Rio Gregório em Tarauacá, no Ace e Acapuri de Cima, em Fonte Boa, Amazonas.

Aos índios o que é deles

Espantoso que ainda exista quem se recuse a enxergar o óbvio: quando os portugueses aqui chegaram, havia seres humanos habitando o território. Quantos milênios aqui permaneceram? Foram mais civilizados do que o branco. Este começou por exterminar a Mata Atlântica, de cuja exuberância os lusos concluíram haver redescoberto o Jardim do Éden.

Em seguida, iniciou-se o genocídio. Quantas etnias desapareceram? Com que legitimidade pode-se dizer que o direito imposto à terra conquistada a ferro, fogo e sangue, é mais legítimo do que os costumes jurídicos indígenas? A se encarar o que aconteceu com o Brasil desde 1500 até hoje, o bom senso concluiria que os indígenas são mais amigos da natureza do que nós. Mais respeitadores da vida do que nós. Mais preservacionistas do que nós.

A Austrália resolveu melhor essa questão. Ali, os autóctones têm o seu estatuto reconhecido e não contestado. Aqui, há quem considere absurdo devolver parcela mínima do território que era deles, para que continuem a viver e a conservar aquilo que encontramos intocado há cinco séculos e que conseguimos destruir com tanta inclemência.

Oportuno e justo demarcar mais duas terras indígenas, Rio Gregório em Tarauacá, no Ace e Acapuri de Cima, em Fonte Boa, Amazonas. Mais seis demarcações em marcha, acompanhadas pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. Recentemente a ministra Rosa Weber promoveu a tradução da Constituição Cidadã para o nheengatu. Há pessoas lúcidas e sensíveis num Brasil que, às vezes, parece tomado pela ira, pela intolerância e por uma absurda histeria de fanatismo.

Mais uma boa notícia para um Brasil que precisa tanto disso: a aceleração do processo de regularização fundiária na Amazônia, com a revigoração da Câmara Técnica de Destinação. As terras públicas da região estão sendo tomadas pela criminalidade organizada e isso prejudica o povo brasileiro e a própria humanidade. Pois a delinquência sem alma é muito eficiente na destruição da natureza e na continuidade do ecocídio que inclui a eliminação dos remanescentes dos verdadeiros donos da terra.

Publicado no jornal Diário do Litoral, em 27 10 2023



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