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Acadêmico: José Renato Nalini Recordar o lema ambientalista dos primeiros tempos: “pensar globalmente, agir localmente”.
O que se pode fazer? São Paulo, a cidade, perdeu o equivalente a dois Parques Ibirapueras em vegetação, em apenas um ano. A área de cobertura vegetal da macrometrópole paulista recebeu 273 alertas de desmatamento entre julho de 2022 a julho de 2023. A perda foi de 370,73 hectares, ou sejam, dois Parques Ibirapueras. O pior é que essa destruição priorizou a região das nascentes. Como se a capital dispusesse de água abundante e não registrasse cíclicas secas, que importam em racionamento e em suplício para os milhões que nela habitam. A destruição é um desastre. Uma tragédia. Um verdadeiro crime. Verde que desapareceu. Verde que não volta mais. Até regiões mais arborizadas, como os jardins, têm suas árvores vitimadas por motosserras ativas nos fins de semana e não se enxerga reposição. Esse grande extermínio contemplou o sistema de mananciais PCJ, que designa as bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Mas também perderam floresta os sistemas de Alto Cotia, Ituparanga, Cantareira, Guarapiranga-Billings, Paraíba do Sul e Alto Tietê. Todas essas bacias são de elevado interesse para o abastecimento público de água na região. Precisa explicar que mata e água dialogam? A floresta capta água e alimenta aquíferos. Evita processos erosivos. Por causa da evapotranspiração, o processo de devolução da umidade para a atmosfera, ela produz chuva. É preciso aumentar, sim, a fiscalização. Mas, muito mais importante do que isso, é preciso educação ecológica. Um povo civilizado seria o primeiro protetor da flora e da água. O governo tem um discurso edificante, mas uma prática miserável. Permite o desmatamento, é cúmplice de um adensamento que não tem compensação. Deixa áreas ociosas ao léu, quando elas poderiam abrigar cobertura vegetal supridora da devastação que tem sido a regra. O inverno quente que nos foi oferecido em 2023 não pode ser atribuído a “El Niño”, mas à mudança climática gerada pelo mau uso dos recursos naturais, do extermínio da cobertura vegetal e das sequelas que dessa insanidade provêm. A conscientização tem de mirar as crianças e os jovens, primeiro porque são mais sensíveis à causa ecológica, segundo, porque serão eles os principais prejudicados com a insensatez das gerações que não perceberam a aproximação do caos e continuaram com suas práticas inclementes. Uma conurbação insana, como São Paulo, não oferece qualidade de vida para a sua população. Existem áreas paulistanas que são cor de cinza e com temperatura mais elevada do que alguns oásis. Por sinal, oásis que têm deixado de ser verdes, porque avança a construção e consequente derrubada de árvores sadias. Sem reposição, frise-se. As árvores que ainda sobrevivem produzem sementes. Estas ficam à deriva, caem nos passeios, quando chove são destinadas às bocas-de-lobo. Deveria existir um serviço de obrigatória cata dessas sementes – ipês, bauínias, sibipirunas, jacarandá mimoso – para que, semeadas em viveiros, pudessem um dia compensar a perda de exemplares adultos. Quanto tempo demora para uma árvore crescer? Entretanto, com a motosserra ativa, em alguns minutos ela é destruída. Sem lamento, sem remorso, por um animal-racional que vive algumas décadas, mas que – enquanto está nesta peregrinação – faz um estrago muito maior do que sua passagem pela Terra trouxe de vantagens para a humanidade. A Constituição do Brasil tem o artigo 225, dispositivo considerado a mais bela norma fundante produzida no século XX. Só que a promissora esperança de potência verde transformou-se rapidamente em Pária Ambiental, para orgulho dos néscios. Impõe-se aos educadores de bom senso assumir a responsabilidade de tornar a educação ambiental algo concreto e assertivo, não só para mostrar que o maior perigo que ronda a humanidade é a mudança climática. Mas para fazer com que, no limite de capacidade de cada um, algo se realize em contrário ao destino caótico em pleno curso. Recordar o lema ambientalista dos primeiros tempos: “pensar globalmente, agir localmente”. São Paulo precisa ser uma cidade mais verde, para ser mais humana. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão, em 28 10 2023 voltar |
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