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Acadêmico: José Renato Nalini Os cientistas estão roucos e sem voz, de tanto alertar os governos e a população de que as mudanças climáticas representam o maior perigo para a humanidade.
Só não ouve quem não quer Os cientistas estão roucos e sem voz, de tanto alertar os governos e a população de que as mudanças climáticas representam o maior perigo para a humanidade. Todos são responsáveis pela preservação da natureza, à luz do artigo 225 da Constituição da República, a verdadeira "Bíblia cívica" dos brasileiros. Mas a responsabilidade dos governos - de todos os níveis - é potencializada. Primeiro, porque os governantes são sustentados pelo povo. O único titular da soberania, nesta nação, é o povo. O conjunto dos cidadãos do Estado. O povo elege e o povo sustenta. Paga os salários dos exercentes de toda função pública. Tem direito a exigir seriedade e compromisso. Deve causar indignação verificar que a preocupação está mais no propagandear de uma gestão, de satisfazer apaniguados com cargos e com contratos, de cortejar os que empolgaram o poder e o exercem no plantão periódico - bendita a transitoriedade das gestões - do que em se acautelar para que a população não sofra as consequências da mutação climática. Sim. Líderes e administradores que ganharam a eleição têm obrigação de adaptar as cidades e preparar a população para o enfrentamento de secas, ondas de calor, inundações, enchentes, ciclones, incêndios, perdas de safra. Quem permite que se construa em áreas inóspitas, inapropriadas para edificações, é responsável pelas tragédias previsíveis. Plena e perfeitamente previsíveis. Quem é conivente com o desmatamento é responsável pela erosão, pela mudança do microclima, pelo desaparecimento da fauna, pela extinção dos cursos d'água. Quem não repõe as árvores ceifadas criminosamente ou arrancadas pelo vandalismo, é responsável pelo agravamento da elevação da temperatura. A delinquência climática admite múltiplas formas. A omissão é uma delas e é mais generalizada do que se possa imaginar. Desde a negação do conhecimento científico, da conivência com a exploração cruel e criminosa da natureza, por "desenvolvimentistas" que só querem dinheiro no bolso e estão se lixando para o futuro das novas gerações. Não se preocupam sequer com a possibilidade - cada vez mais próxima - de inexistirem essas futuras gerações. Querem é faturar e encontram políticos parceiros ou ignorantes, ou que acumulam essas duas condições simultaneamente. Os desastres ambientais estão aqui e não nos é dado negar. Acontecem aqui e agora e continuarão a ocorrer, cada vez com maior intensidade. Os eventos climáticos extremos são causados pelo homem, destruidor da natureza, sacrílego profanador do ambiente. Até quando os omissos, os cúmplices, os gananciosos exterminadores do futuro continuarão a viver sem que paguem por sua criminosa omissão? A Justiça climática precisa ser acionada para a responsabilização de todos os governantes que se omitirem diante de tragédias que sempre atingem os mais frágeis: os mais pobres, os desprovidos de quase tudo, e que perdem esse "quase nada" e até a vida por negligência governamental. As coisas não acontecem por acaso. Não se culpe São Pedro. Ele não tem nada a ver com isso. As consequências nefastas de episódios lamentáveis, que parecem causados pela natureza, têm como responsáveis os governos. Estes é que têm a obrigação de zelar pela segurança e higidez existencial dos habitantes da cidade. Não se fala em "culpa", em sentido estrito, mas em responsabilidade objetiva. Quem pretende os bônus, tem de arcar com os ônus. É assim que funciona. Publicado no Jornal de Jundiaí, em 26 10 2023 voltar |
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