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E OS GUARDIÕES DA SERRA?
Acadêmico: José Renato Nalini
As nossas crianças não merecem uma Jundiaí tórrida e desprovida de verde. Elas também gostariam de ver os "Guardiões da Serra" em ação.

E os guardiões da Serra?

A Prefeitura do Rio de Janeiro instituiu o Programa "Guardiões do Mangue", com o intuito de reverter a destruição desse ecossistema costeiro e úmido, presente em regiões tropicais e subtropicais. O Brasil já teve a maior faixa de manguezal do planeta, calculada em cerca de vinte mil quilômetros quadrados de extensão.

Levantamento recente indica a perda de dois terços dessa área na baía de Guanabara. Com isso, perde-se o papel fundamental na preservação de diversas espécies vegetais e animais, além de auxílio na erosão. O mangue surge do contato do ambiente terrestre e marítimo, ou seja, dos rios e dos mares. O ambiente lodoso dos manguezais proporciona um solo com pouca oxigenação, com grande quantidade de água salobra.

A flora se adaptou a ele e suas raízes externas, aéreas, auxiliam a busca do oxigênio na superfície. Os manguezais são ricos em nutrientes, diante da abundância de matéria orgânica em decomposição. Tem fauna própria, que sustenta inúmeras famílias.

Os convocados pela Prefeitura ganharão ajuda de custo e serão responsáveis por capinar e limpar a área, retirando resíduos sólidos, além de reportar aos órgãos de fiscalização, situações irregulares, como o descarte de lixo, captura ilegal de espécies e construções vedadas na área de preservação ambiental.

O empenho da municipalidade é envolver os moradores das comunidades para a assistência e o cuidado nas áreas verdes, ante a vivência que já têm com o lugar.

O Estado também tem seu plano de restauração e conservação, aliando-se à iniciativa da Prefeitura.

Algo análogo poderia e deveria ser feito em relação à Serra do Japi. Ela é vendida como atrativo para o boom imobiliário, mas sofre riscos e é sempre vulnerável a queimadas, à caça irregular, ao desmatamento.

O Prefeito Walmor Barbosa Martins, há pouco falecido, alimentava a ideia de criar uma Guarda Montada para a Serra, ao exemplo da polícia montada do Canadá. Empecilhos à época o impediram de concretizar o projeto. Mas hoje, com o poderio da municipalidade, uma das maiores do Estado, com renda suficiente para estabelecer serviços compatíveis com a sua condição de detentora do último grande maciço serrano coberto de vegetação nativa, nada impede – ao contrário – tudo recomenda que a Serra mereça especial tutela.

Sei que moradores tradicionais têm enfrentado problemas que não são solucionados a favor do ambiente. É a maldita Auri sacra fames" uma expressão em latim que significa "maldita fome de ouro". Essa expressão foi utilizada por Virgílio, no clássico livro "Eneida", para condenar a ambição desmedida das riquezas. A ganância enxerga cifrão em tudo. Por isso a destruição crescente da natureza, que – extenuada e desalentada – responde com as grandes catástrofes.

O diferencial de Jundiaí, em relação às "cidades cor de cinza" que formam a "Grande São Paulo" é exatamente a Serra do Japi. O grande Aziz Nacib Ab'Saber (1924-2012), que tanto auxiliou nossa terra para o tombamento da Serra do Japi – e que deveria ter uma estátua de gratidão em lugar de honra nesta cidade – explicava que o solo de quartzo da Serra é muito vulnerável. Se a cobertura vegetal desaparecer, o que restará será um areião desértico.

As nossas crianças não merecem uma Jundiaí tórrida e desprovida de verde. Elas também gostariam de ver os "Guardiões da Serra" em ação. Eles também poderiam auxiliar as incursões turísticas para impedir que o descarte de resíduos sólidos – o lixo mesmo... – polua esse santuário que recebemos gratuitamente. Mas que nem sempre conseguimos respeitar.

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 22 10 2023



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