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Acadêmico: José Renato Nalini Todos têm obrigação de fazer algo - e bastante - para a educação. Se não fazem, estão em débito.
Hoje é o dia do herói! Acho que é fácil descobrir quem é o herói cuja data se comemora hoje. O professor. Este ser sacrificado tão importante quanto ignorado. Ele sofre a síndrome dos "Ps": Pais, Padres, Professores. Perderam a aura simbólica de tempos idos. Tempos de respeito absoluto e de reverência merecida a quem faz jús. O magistério foi sendo desprezado e o reflexo está na remuneração. Até os mais idealistas vão desanimando com o descaso do Poder Púbico, para quem parece convir uma geração de imbecis. Gente que pensa dá trabalho. Vai questionar, vai querer fiscalizar, vai querer controlar orçamento. Não vai concordar com "malfeitos", nome simpático para a podridão da política partidária que atrai gananciosos artífices de projetos pessoais. A vida de um professor - ponderando que noventa por cento da categoria é de mulheres - é um calvário. Para sobreviver, é obrigado a lecionar em vários estabelecimentos, em horários que impedem uma vida saudável. Corre-se de uma escola para outra, enfrentando toda sorte de intempéries. O alunado não é mais aquela equipe coesa e cordata, que admira e ama a professora. Talvez inebriada pela cultura do consumismo, considera o mestre - ou a mestra - um empregado seu. Já não homenageia, nem é polido, nem se lembra mais do "dia do professor". Certos pais continuam a mimar seus filhos e não deixam que eles cresçam. Até mesmo na Faculdade, vão tirar satisfação do professor que "ousou" reprovar o aluno faltante. Quando cientificados de que a reprovação foi por ausência, dizem que o filho frequentou as aulas e arrematam: "Meu filho não mente!". As exigências do "patrão", quase sempre o Estado-membro, que no caso de São Paulo tem cerca de cinco mil e quatrocentas escolas e quatro milhões de alunos, vão desde a elaboração de planilhas de produtividade, ao treino do alunado para os testes do IDEB, com avaliações bimensais. Além de dar aulas, o professor tem de elaborar as provas. Aplicá-las e corrigi-las. Elaborar relatórios. Prestar contas. Participar de grupos de planejamento. Enquanto isso, o governo contrata consultorias quase sempre mantidas por milionários diletantes que gostam de planejar a educação pública, mas nunca enfrentaram uma sala de aula. Saudades das antigas alfabetizadoras, que sabiam administrar uma sala e que obtinham êxito ao abrir a mente da criança para o mundo maravilhoso da leitura. Já se pensou em convocá-las, embora aposentadas, para tentar suprir a deficiência vergonhosa de um analfabetismo crônico e crescente. O resultado dessa tragédia do magistério é o repúdio que os universitários devotam à carreira docente. Tive experiência pessoal: ao visitar milhares de salas de aula, perguntava aos alunos o que seriam quando adultos. Ninguém queria ser professor. E quando eu insistia, diziam que não vale a pena ser desrespeitado, mal remunerado, mal reconhecido, seja pelo "patrão", o governo, seja pelos alunos, seja por seus pais. Pensar que no Japão, o professor é o único profissional que não precisa se curvar perante o Imperador, mas que merece deste o cumprimento especial e toda a reverência. Isso ajuda a explicar a diferença da cultura japonesa e da cultura brasileira. Enquanto a sociedade concordar com esse estado de coisas, o Brasil não terá jeito. E a responsabilidade pela educação não é só do governo. Educação é uma coisa muito séria para deixar sob a coordenação exclusiva de governos transitórios e mais interessados em respostas rápidas para a próxima eleição ou para a matriz da pestilência chamada reeleição. É responsabilidade da família e da sociedade. Todos têm obrigação de fazer algo - e bastante - para a educação. Se não fazem, estão em débito. Quem vai pagar é o futuro pouco alentador desta Nação. Mesmo assim, "feliz dia do professor"! Este herói injustiçado. Publicado no Jornal de Jundiaí, em 15 10 2023 voltar |
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