|
||||
| ||||
Acadêmico: José Renato Nalini Independência que significa não se ajoelhar perante o deus dinheiro, o deus poder, o deus matéria. Essa a independência que dignifica o ser humano.
Qual independência? A celebração da independência do Brasil chega aos 201 anos, sem o brilho oficial do ano passado. Melhor ainda para se avaliar o que significa a data. Em 1822, o país era uma colônia portuguesa, alçada à condição de Vice-Reino por um acaso histórico. A invasão napoleônica em Lisboa, no ano de 1808, obrigou a família real a se refugiar em suas terras além-mar. Novamente forçado a viajar, D. João VI deixou aqui seu filho Pedro, que acabou por proclamar a ruptura com Portugal, a 7 de setembro de 1822, às margens do riacho do Ipiranga. Àquela altura, fazia sentido a declaração de independência. Prevalecia o conceito de soberania clássica: poder incontrastável e absoluto, incondicionado, para definir o direito dentro de um determinado território. Hoje, é difícil sustentar que exista um tal atributo e que ele seja titularizado por um Estado. Estado era definido como nação politicamente organizada, mas sociologicamente considerado uma sociedade de fins gerais, em cujo âmbito podem se desenvolver as sociedades de fins particulares e também buscar suas próprias finalidades os indivíduos. Esse Estado já não frui de uma soberania nos moldes como ela foi ensinada nas aulas de Teoria Geral do Estado. A complexidade da vida moderna impôs laços condicionantes às nações. Elas dependem, umas das outras. Ainda as mais poderosas, equilibram-se num jogo oscilante de predomínio de suas forças, que hoje residem prioritariamente na inteligência, no conhecimento, na informação e no controle de dados. Verdade que o ensino formal continua a insistir nas velhas teclas. Mas como explicar que o poderio econômico é repartido com grandes conglomerados empresariais? Os gigantes da área de comunicação têm capital superior ao da expressiva maior parte dos Estados conhecidos. Tudo isso veio afetar a simbologia resultante da concepção de soberania, da qual resulta a ideia de independência. O que se entende hoje por patriotismo? Quem é que se dispõe a morrer pela Pátria? Isso ocorre em todo o planeta. No século passado, principalmente em sua primeira metade, se a mestra indagasse em sua classe do ensino fundamental quem estaria disposto a morrer pela Pátria, com certeza haveria voluntários. E hoje? Formulada a mesma pergunta, quem se levantará? E se alguém aceitar o repto, será que a disposição é para valer? Um excessivo individualismo, convertido em egoísmo consumista, é a característica da sociedade contemporânea. Estimulado por maus exemplos das elites, mais preocupadas com o próprio umbigo do que em minorar a desgraça alheia. "Você, para mim, é problema exclusivamente seu!", poderia ser o lema de considerável parcela da sociedade. Independência, em nossos dias, pode existir no estrito âmbito da consciência individual. Traduzida pela inexistência ou fragilidade de amarras que nos vinculam ao dinheiro, ao poder, aos bens materiais que permanecerão aqui, após nossa passagem pela História. Livre é o homem que precisa de pouco para subsistir. Liberdade de pensamento, liberdade para ter ideias e para mudar de ideias. Independência que significa não se ajoelhar perante o deus dinheiro, o deus poder, o deus matéria. Essa a independência que dignifica o ser humano. Saudades, sim, dos desfiles escolares, do brio estudantil, dos ensaios de fanfarra. Mas tudo isso permaneceu no passado, tempo que não volta mais. Ainda assim, feliz 7 de setembro para todos! Publicado no Jornal de Jundiaí, em 07 09 2023 voltar |
||||
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562. |