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Acadêmico: José Renato Nalini Por prestarmos exclusiva atenção ao nosso próprio umbigo, às nossas insignificâncias e aos nossos interesses, descuidamo-nos de preservar bons exemplos.
Quanta história perdida Pretensiosos, pensamos que o mundo começou quando nascemos. Não lembramos de que ele não vai terminar quando morrermos. Quantas gerações nos antecederam, passaram e delas todos se esqueceram? Não existíamos, ninguém sentia nossa falta. Partiremos em definitivo e, pouco depois, ninguém se lembrará de nós. Se fôssemos racionais, levaríamos isto a sério. Seríamos mais atentos aos semelhantes e cuidadosos em relação à natureza, da qual fazemos parte. Sem ela, abreviaremos o final da aventura humana sobre a Terra. Por prestarmos exclusiva atenção ao nosso próprio umbigo, às nossas insignificâncias e aos nossos interesses, descuidamo-nos de preservar bons exemplos, de colecionar vidas ilustres, que deveriam servir de faróis para as sucessivas gerações vindouras. Jundiaí, uma povoação que começou em 1615, é pródiga de personagens que mereceriam um Panteão histórico. Alguns vultos célebres são conservados em logradouros que também mudam de nome, ao sabor dos ventos e da política partidária. Mas centenas de milhares de pessoas por aqui passaram, viveram, sentiram alegrias e angústias. Morreram. Estão enterradas no Cemitério da Saudade, cujo nome é Nossa Senhora do Desterro, cuja parte merecedora de tombamento está à míngua. É obrigação do Município zelar pela arte funérea marmórea, de excelente qualidade artística, representativa de uma época. Não deixar que o tempo corroa e destrua os últimos testemunhos de trajetórias singulares. Quem já se deteve a fazer um levantamento dos jundiaienses ilustres enterrados na parte antiga da necrópole? Ainda que as famílias tenham desaparecido, o dever municipal é conservar os túmulos da nobiliarquia desta terra. É assim que se mantém a ideia de pertencimento. Cemitérios, em todo o mundo civilizado, são locais para estudo de história, de arquitetura, de estilo de vida e de morte. No afã de cultuar o poderoso de plantão, a cidade vai perdendo suas tradições. Não se incentiva a pesquisa nas escolas municipais. Não há prêmios destinados aos escavadores de memórias, que levantam identidades olvidadas e trazem à luz experiências que ainda hoje servem para mostrar como fomos melhores em nossos costumes, em nossos hábitos, em nossos valores e em nossa forma de se fazer política. Encontro, por exemplo, nas "Tradições e reminiscências" da Academia de São Paulo, escrita por José Luiz Almeida Nogueira, sobre os primeiros tempos da velha e sempre nova São Francisco, raríssimas menções a Jundiaí, no elenco dos primeiros alunos que ali estudaram. Vinham de Itu, de Sorocaba, de Porto Feliz, da Conceição dos Guarulhos, de Jacareí e Taubaté. Muitos da capital, outros de Santos. Não encontrei um aluno das primeiras turmas, que fosse jundiaiense nato. Num dos formandos de 1858, ou seja, turma 1854-1858, há uma referência a Jundiaí. O nome do bacharelando é Rafael de Aguiar Paes de Barros, filho de Bento Paes de Barros e Leonarda Aguiar Paes de Barros, os primeiros Barões de Itu. Nasceu em Itu, a 28 de dezembro de 1835. Seu irmão, Antônio de Aguiar Barros, foi o Marquês de Itu. Foi advogado em Itu e fazendeiro em Jundiaí. Qual teria sido a sua fazenda? Onde ela se situava? O que é feito dela? O que virou? Segundo Almeida Nogueira, foi liberal e depois republicano. Foi um grande propagandista da República. Na verdade, criava cavalos de raça e foi um dos fundadores do Jóquei Clube de São Paulo. Abolicionista, nunca teve escravos. Sempre usou do braço livre e foi um dos fundadores da Sociedade Promotora de Imigração, a qual presidiu. Publicado no Jornal de Jundiaí, em 31 08 2023 voltar |
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