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Acadêmico: José Renato Nalini
O Dr. Clóvis de Sá e Benevides, Figura austera, tido como representante da velha nobiliarquia imperial, foi diretor do Hospital do Sesi, em Jundiaí.
Sá e Benevides
Quando Jundiaí possuía Hospital do Sesi, entregue à administração da inesquecível Vitória Furlan de Souza, benemérita que chegou a se candidatar a Prefeita de Jundiaí, o diretor clínico era o Dr. Clóvis de Sá e Benevides. Figura austera, tido como representante da velha nobiliarquia imperial. Tive poucos contatos com ele, quando "tia" Vica me chamou para substituir uma funcionária e fiquei por seis meses no almoxarifado, liberando remédios. Isso ocorreu em 1963 e parece que foi ontem.
Um sobrinho do Dr. Clóvis, chamado Fileno, convidou uma turma de Jundiaí para uma Semana Santa em Ilhabela, onde possuía uma casa muito agradável. Perdi de vista os Sá e Benevides.
Encontro agora, a rememorar os primeiros tempos da São Francisco, o nome de José Maria Corrêa de Sá e Benevides, fluminense de Campos, onde nasceu a 7 de junho de 1833. Descendia de Estácio de Sá, fundador do Rio de Janeiro. Dá para entender como eram orgulhosos da ascendência. Era uma das linhagens mais antigas do Brasil e Portugal. Por parte de pai, descendia dos Viscondes de Asseca e de Salvador Correa de Sá e Benevides, o libertador de Angola. Pela mãe, era neto do VI Conde da Ponte que, em 1808, como Governador, recebeu na Bahia o então Príncipe Regente D. João. Descendia também do 1º Marquês de Pombal e de sua mulher austríaca, a Condessa de Daun.
Dom Pedro II visitava e se hospedava na fazenda de José Maria Corrêa de Sá em Jacarepaguá, por volta de 1844, oportunidade em que ensinava os filhos do anfitrião a declamarem odes do poeta francês da moda, Béranger.
José Maria era estudioso e culto. Cursou a São Francisco de 1850 a 1854. Logo após a formatura, casou-se com uma filha do Conselheiro Brotero. Na Corte, foi sócio em advocacia de José Bonifácio. Doutorou-se, prestou concurso e foi nomeado lente da Faculdade e passou, em 1877 a catedrático de Direito Natural, Público e das Gentes.
Era monarquista sectário do direito divino e católico ultramontano. A Filosofia de Direito era a de Tomás de Aquino e de Ventura de Raulica. Foi Presidente da Província de Minas e da do Rio de Janeiro.
Voltou para São Paulo e foi eleito deputado à Assembleia Provincial para o biênio 1872-1873.
Homem íntegro, de nobilíssimo caráter, mas de temperamento mais do que rígido, chegando a ser ríspido e intransigente quando defendia seus pontos de vista, dos quais era irredutível, às vezes parecia prepotente. Certa feita, ao defender uma posição política, proclamava enfaticamente, da tribuna da Assembleia Provincial: - "Eu não sou "mendista", eu não sou "pradista", eu não sou "rodriguista", eu não sou "duardista", eu não sou "delfinista"...
Nisso foi aparteado pelo Padre Valadão, seu colega de Parlamento: - "Vossa Excelência é "benevidista"! O que provocou hilaridade no Plenário.
Muito exigente quanto ao vernáculo, num Júri em que ele era advogado e Pedro Taques o promotor, a testemunha, rústica e humilde, não entendia o que o advogado perguntava. O Promotor Taques aproveitou: - "O advogado se exprime em termos elevados. Como é que a testemunha vai entender?". Benevides então respondeu: "Então sugiro fazer as perguntas na única linguagem que sei empregar e a nobre promotoria traduzirá em termos chulos, servindo assim de intérprete".
Era um duelo entre pessoas educadas. Coisa que rareia em nossos dias.
Publicado no Jornal de Jundiaí, em 13 08 2023
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