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VILA ARENS E JOÃO PRATUDO
Acadêmico: José Renato Nalini
Usava camisa de meia listrada, uma flor no paletó, chapéu de palha, calça presa à cintura com uma corda. Caminhava por toda a cidade, alegre, falante e ia servindo a todos.

Vila Arens e João Pratudo

A Vila Arens é um dos bairros mais importantes de Jundiaí. Foi ali que a Família Arens realizou empreendimentos imobiliários que chamaram poderosa indústria, alavanca do progresso jundiaiense. De uma pequena oficina mecânica derivou a Trivisoli, depois a poderosa Argos Industrial S/A, cujo complexo orgulhava nossa gente. Produzia o brim utilizado no fardamento das três Armas: Exército, Marinha e Aeronáutica. Onde foi parar aquela gigante, a menina dos olhos da família Diederichsen?

A tradição no ramo dos tecidos ali comparecia com a Fábrica de Tecidos São Bento, que começou movida a vapor, que então era uma novidade. Também havia outras fiações. São Luís, por exemplo. A empresa Gasparian também produzia tecidos. Quando criança, ouvia muito dizer que uma delas pertencia a JJ Abdala, que não era, na verdade, o melhor dos patrões.

A Sifco, indústria metalúrgica, também estava em Vila Arens. E a metalurgia dos Irmãos Dal Santo. A inesquecível CICA – Companhia Industrial de Conservas Alimentícias. "Se a marca é Cica, bons produtos indica". Tanta coisa boa em Vila Arens!

Ali os salvatorianos escolheram o espaço para a criação de um Seminário e uma escola para meninos, que surgiu como Ginásio Divino Salvador, na década de cinquenta do século passado. Evoluiu para Colégio Divino Salvador, na General Carneiro, situado ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a paróquia entregue ao zelo salvatoriano. Os primeiros e heroicos tempos em que o diretor era o cearense de Barbalha, Padre Paulo de Sá Gurgel, que tinha outro irmão padre, Otávio de Sá Gurgel e que era primo do Padre Mário Teixeira Gurgel, depois Bispo de Itabira em Minas. Todos da família de Monsenhor Walfredo Gurgel, governador do Rio Grande do Norte.

De vila Arens partiram os trilhos rumo ao interior da Companhia Paulista de Estradas de Ferro e ali chegaram os decantados trilhos da antiga São Paulo Railway, a "Inglesa", depois Estrada de Ferro Santos a Jundiaí.

A urbanização cresceu em direção à Vila Rami, Vila Progresso, Agapeama e à Várzea Paulista e Campo Limpo Paulista, igualmente bairros jundiaienses, antes de se emanciparem.

Num recorte antigo de "A Gazeta", encontro notícia de que Jundiaí possuía um tipo popular, chamado "João Pratudo". Esse apelido indicava que ele era "para tudo mesmo". Aquilo que se costuma chamar de "pau para toda obra". Pessoa chamada para ajudar a descarregar um caminhão, para capinar um terreno baldio, para fazer uma entrega, para consertar alguma coisa.

Usava camisa de meia listrada, uma flor no paletó, chapéu de palha, calça presa à cintura com uma corda. Caminhava por toda a cidade, alegre, falante e ia servindo a todos. Um tipo folclórico, daqueles que vão desaparecendo e sendo substituídos por espécimes humanas machucadas pela vida, marcadas pelo consumo de drogas, entregues à embriaguez e ao abandono.

Quando as mães queriam assustar as meninas travessas, diziam: "Olhe que faço você casar com o João Pratudo". Era o suficiente para que elas entrassem nos eixos. Hoje, as cidades cresceram tanto, as relações interpessoais rarearam, já não existem tipos como o "Susto", a "Gilda", a "Maria dos Trapos", a "Brilhanta" e outros que dão saudades, pois símbolos de uma era que já se foi e que não volta mais.

Desapareceram, como inúmeras outras indústrias jundiaienses. Onde a Vigorelli, a Vulcabrás, a Duratex, a Cidamar? Fala-se em reindustrialização. Ela virá também para Jundiaí?

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 03 08 2023



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