Compartilhe
Tamanho da fonte


O COLEGIÃO ENGANADOR
Acadêmico: José Renato Nalini
O mundo real cobrará caro de quem optou por um diploma, fetiche que aos poucos cede espaço ao talento, à criatividade, à engenhosidade e ao empreendedorismo. Temas nunca enfrentados em nossos Colegiões.

O colegião enganador

Tenho refletido e martelado sobre uma questão aparentemente ignorada pela maioria. O Brasil tem mais faculdades de direito do que a soma de todas as demais, espalhadas pelo restante do planeta. Isso faz com que, a cada seis meses, despeje-se um jorro de bacharéis no mercado, que não absorverá senão pequena parte deles.

Quantos de nós conhecemos bacharéis que não conseguem passar no Exame da OAB? E a maioria das reprovações não deriva de falta de conhecimento jurídico, mas da deficiência em português.

Cláudio de Moura Castro fez uma análise muito semelhante, no artigo "Ensino superior e pseudossuperior", (Estadão de 7.5.23). Ele parte do que chama "dois cacoetes tupiniquins": 1. Educação superior deve seguir modelo único; 2. Universidade para todos. Se o primeiro é obsoleto, o segundo é um devaneio.

O Brasil se especializou no pseudossuperior, também chamado "Colegião". É que os brasileiros que conseguem terminar o Ensino Médio têm nível de maturidade correspondente ao europeu com quatro anos menos de escolaridade. "Portanto, há uma enorme proporção de matriculados que não atingiu o nível exigido para um real curso superior".

Tais cursos inflacionam as áreas sociais, inclusive o Direito. Seria interessante que todos os brasileiros tivessem o curso jurídico. Para conhecer seus direitos, mas – principalmente – os seus deveres, obrigações e responsabilidades. Mas não é o que acontece. Muito jovem ainda acredita no diploma de bacharel em ciências jurídicas. Quando se formam, têm a desilusão por prêmio: não conseguem sobreviver com o diploma. Continuarão a fazer aquilo que faziam antes dos cinco anos.

Cláudio Moura Castro acha que o "Colegião" é benéfico, pois poderá equiparar o bacharel brasileiro ao padrão europeu do fim do curso médio. Como a imensa maioria escolhe o ensino particular, o governo não gastou tanto com essa recuperação intelectual. Gasto do Estado sempre há, com os subsídios e o apoio governamental à educação.

A frustração do formado é muito frequente: "encolhe a cada ano, a proporção dos que encontram emprego com o mesmo nome do diploma. Nos dias de hoje, é bem menos da metade dos graduados. Isso causa alarme, denúncias e comentários furibundos.

Divirjo de Cláudio Moura e Castro, quando conclui que "o curso, qualquer que seja, é ensejo para exercitar o intelecto. Pode não ser tão bom, mas é educação". Iludidos com a perspectiva de que o diploma abrirá todas as portas, jovens que poderiam se dar melhor em profissões técnicas, muito melhor remuneradas do que aquelas nas quais permaneceram durante cinco anos, engrossarão a legião dos desalentados.

Já o acompanho quando diz que "o real problema é que não foram pensados como uma educação genérica, apropriada para fazer de quase tudo". E estou inteiramente de acordo com sua constatação: "Falta o mais importante: os alunos leem pouco, escrevem pouco, pensam pouco e resolvem poucos problemas...Naqueles cursos que seriam verdadeiramente profissionalizantes, desaba um dilúvio de teorias. Os alunos voam na estratosfera e têm pouco contato com o mundo real".

O mundo real cobrará caro de quem optou por um diploma, fetiche que aos poucos cede espaço ao talento, à criatividade, à engenhosidade e ao empreendedorismo. Temas nunca enfrentados em nossos Colegiões.

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 25 06 2023



voltar




 
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562.
Imagem de um cadeado  Política de privacidade.