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Acadêmico: José Renato Nalini Onde tudo isso foi parar? As nossas festinhas familiares acabaram? Mais um sinal dos tempos que provoca nossas saudades.
Folguedos de tempos idos A primeira lembrança de festa junina remonta à mais tenra infância. Me avô materno era João. João Barbosa, filho de Rita Langue, uma alemã. A véspera da festa onomástica era motivo de festa. Fogueira, quentão, canjica, bolo de fubá, pé-de-moleque, paçoquinha. Sanfoneiro e quadrilha. Nunca fui amigo dos fogos de artifício, embora fosse vizinho nosso o André fogueteiro. Talvez porque um buscapé tenha me atingido quando de uma festa junina realizada num terreno em defronte a minha casa, à rua 15 de novembro. Depois vieram as festas juninas do Ginásio Divino Salvador. O diretor, Padre Paulo de Sá Gurgel, foi pedir à diretora do Ginásio São Vicente que permitisse às suas alunas dançarem com os estudantes salvatorianos. Para convencer a Madre vicentina, acrescentou: - "Irmã, não tenho culpa se as meninas mais bonitas e mais educadas são as suas alunas..." Era tudo muito artesanal e espontâneo. Íamos buscar bambu para enfeitar o pátio no sítio do Flávio D'Angieri, já que Flavinho e Tióca eram alunos do Divino. Uma semana a fazer as bandeirinhas de papel de seda colorido, coladas a barbantes que ornamentavam o espaço, dentro do próprio colégio. Pedia-se "prenda" para o comércio do entorno, o que era fácil pois os filhos dos comerciantes estudavam no próprio Divino. As barracas funcionavam com o voluntariado das mães, que levavam seus quitutes, suas especializadas, para serem adquiridas ou leiloadas. Correio elegante, leilões, sorteios os mais diversos. Tudo tão ingênuo, tão singelo, mas com tamanha alegria, que valia a pena. Aprendia-se a conviver, a coordenar o trabalho, a se relacionar com outros públicos. Muito namorico tinha início nessas festas. E não se perdia a oportunidade de resgatar a História do Brasil, a importância da cultura e das tradições lusas transplantadas para a Colônia. O motivo ensejador do culto aos três santos do mês de Junho. Mas havia também a comemoração familiar. O casal Léta e Oswaldo Bárbaro sempre recebeu para festejos juninos em sua acolhedora residência da Ponte São João. Ambos se fantasiavam. Oswaldo era também uma espécie de artista. Assumia o comando da celebração, ora era o noivo, ora era o irritado pai da noiva, que forçava o noivo pândego a se casar. Ora fazia o papel do padre, pois o "casamento caipira" não podia faltar nessa ocasião. Quem chegou a fazer festa junina no sítio "Paraíso Terrestre" foi outro casal atuante em nossa sociedade: Adelaide e João Fernandes Gimenes Molina. Ela sempre envolvida com a filantropia, com a Roda da Amizade, com a Rede Feminina de Combate ao Câncer, com o Top Clube, com tudo o mais que surgisse e necessitasse de liderança feminina corajosa para pedir a colaboração de quem pudesse amenizar a sorte dos infelizes. As festas juninas da Chácara de Jacyro Martinasso à rua do Retiro também fizeram história. Jacyro, como o Dr. Molina, era um benemérito. Aceitava todos os desafios. Realizou as melhores Festas da Uva que Jundiaí já teve. Mas nessa data, vestia-se com chapéu de palha, camisa xadrez, "puxava" a quadrilha e animava a festa. Uma jundiaiense que levava a sério os folguedos juninos era a inesquecível Eloisa Lotierzo. Ela sabia todas as "simpatias", conhecia todas as fórmulas adequadas para cada véspera, pois cada santo tinha as suas peculiaridades. As "sortes" da véspera de Santo Antonio, o casamenteiro; as lendas de João Baptista, o primo de Jesus, o precursor; o guardião dos paramos celestes, São Pedro. Onde tudo isso foi parar? O Nordeste continua a realizar enormes concentrações de gente do Brasil inteiro, uma atração turística inscrita no calendário dos maiores eventos. Mas as nossas festinhas familiares? Elas acabaram? Mais um sinal dos tempos que provoca nossas saudades. Publicado no Jornal de Jundiaí, em 15 06 2023 voltar |
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