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Acadêmico: José Renato Nalini Lamentável a falta de regulamentação da profissão "pedagogo", a vítima na descontinuidade dos planos educacionais que são alterados a cada gestão.
Marketing do pedagogo Redimensionar a imagem do pedagogo, esse profissional tão importante, que deveria merecer maior atenção e mais intenso respeito por parte do Estado e da sociedade, foi o propósito de Wânia Madeira ao escrever o livro que acabo de ler. Seu nome é "Marketing Pessoal de um Pedagogo" e foi a dissertação de Mestrado da autora, prefaciada pela professora Liana Gottlieb, autoridade em Ciências da Comunicação. Wânia Madeira tem expertise para a tarefa a que se propôs. Graduada em Pedagogia pela USP, militou na escola pública durante décadas, terminando como diretora concursada. Valeu-se desse trajeto para recuperar memórias, dela extraindo lições que partilha com as novas gerações, após aprender que os atributos pessoais são mais importantes do que a formação pedagógica. Lamentável a falta de regulamentação da profissão "pedagogo", a vítima na descontinuidade dos planos educacionais que são alterados a cada gestão. Comprovou que o pedagogo é um "fac-totum" nas escolas e que tem de atuar como "líder emergencial" em não poucas situações. Foi o que sucedeu na tragédia mais recente, o homicídio da professora Elisabeth Tenreiro, na EE "Thomazina Montoro", justamente a mãe do governador Franco Montoro, em Vila Sônia, região do Morumbi. Onde situado o Palácio do Governo Estadual. Edificante a lembrança de quem inspirou Wânia a estudar Pedagogia na USP: a festejada Professora Ivanira de Souza Lima Dadalt, que cursou Letras na mesma esplêndida Universidade. A gratidão é uma virtude negligenciada e quem a cultiva evidencia rara sensibilidade. Algo que Wânia transmite em todo o livro, como na citação a Janusz Korczak, que escreveu "Como amar uma criança": "Entre estes milhões de homens, está você, que deu à luz a um homem a mais. O que é ele? Um galhinho, uma poeira, um nada (...) Neste nada há qualquer coisa que sente, deseja, observa; que sofre e que odeia; que é feliz e que ama; que tem confiança e que duvida; que acolhe e que rejeita. Este grão de poeira encerra em seu pensamento as estrelas e os oceanos, as montanhas e os precipícios. E o que é a essência da alma senão todo o universo, faltando apenas as suas dimensões. É esta a contradição inerente ao ser humano: nascido de um quase nada, Deus está nele". Tanta sofisticação ganhou a Pedagogia, que o envoltório científico inibe exatamente a mais importante missão a ela confiada: concretizar a ciência e a arte da educação. Os tratados e os cursos pouco mencionam a criatividade, as atividades artísticas, o lúdico educativo. Não se enfatiza a prática educativa, algo que um Reitor da USP me confidenciou quando procurei - então na condição de Secretário Estadual da Educação - apoio da Universidade para combater o iletramento: "Os alunos escrevem artigos, ensaios, dissertações e teses! Mas não querem contato com a sala de aula...". Consciente disso, Wânia considerava os alunos sua prioridade: "Em meus períodos diários, na escola, os horários de intervalo eram dedicados em geral a eles, no pátio. Costumava deixar os professores à vontade na sala dos professores e caminhava entre o alunado. Momentos felizes, esses...". Foi a partir das deficiências na construção da imagem do pedagogo que Wânia foi se interessar pelo Marketing, o resgate do respeito à profissão, que se enfatizou com a invocação a Gandhi: "Eles não conseguem levar embora nosso respeito próprio, se não o entregarmos a eles". Vale a leitura do livro de Wânia Madeira, seja por pedagogos, seja por interessados no aprimoramento contínuo da educação brasileira. Publicado no Jornal de Jundiaí, em 04 05 2023 voltar |
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