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PEQUENAS LAMPARINAS NA ESCURIDÃO
Acadêmico: José Renato Nalini
Boas novas as pequenas lamparinas que São Paulo acende para nos livrar da escuridão nacional.

Pequenas lamparinas na escuridão

Quando se está prestes a mergulhar no desalento e na descrença, diante de tamanha desfaçatez e malversação do Erário e do interesse público, vislumbra-se algo que faz renascer aquela tímida e discreta esperança que se aninhara nas trevas.

Já falei da boa-nova anunciada pela Prefeitura de São Paulo, que vai tentar resolver o problema da Guarapiranga. Uma extensão de água com aquelas dimensões, deveria ser a verdadeira "praia" de São Paulo. Entretanto, por incúria, negligência ou até cumplicidade, tornou-se uma área ocupada por submoradias, sem tratamento do esgoto doméstico, sem planejamento, uma balbúrdia indigna da megalópole cosmopolita em que a conurbação fez gerar o maior agrupamento humano da América Latina.

Espera-se que haja interesse da iniciativa privada, que acordou para a questão ambiental e tem feito da agenda ESG um lema para ser cumprido e não mais uma fantasia retórica, tão a gosto da inconsequência brasileira.

A indústria da construção civil está à toda, edificando e adensando as poucas áreas restantes no centro servido por metrô e ônibus. Tem condições de uma contraprestação, de compensar benefícios obtidos na moderna concepção de planejamento, uma norma programática destituída de autoridade para engessar a cidade que cresce, a despeito de seu governo.

É preciso um trabalho de persuasão e de convencimento do Município, para que essas grandes empresas assumam a tarefa de reordenar e requalificar as orlas da Guarapiranga. Todos ganharão com isso. A qualidade de vida atinge a todos os moradores e todos os visitantes de São Paulo. Centro atrativo para todo o restante do Brasil e também para os estrangeiros. Tudo o que é de melhor no país, é aqui que acontece.

Outra boa notícia é a de que a Prefeitura da Capital quer concretizar a maior trilha verde da conurbação. Serão cerca de cento e setenta quilômetros, a rodear a Mata Atlântica e a interligar parques municiais e estaduais da zona sul de São Paulo.

A Trilha Interparques suprirá a ausência de verde, que é flagrante na zona leste e em outras partes da pauliceia. Parece possível a consolidação da ideia, pois o maior trecho já existe, estradas de terra em áreas rurais, para as quais será suficiente a sinalização padronizada. Outras partes demandarão investimento, mas São Paulo detém o terceiro orçamento da República e deve dar o exemplo, entregando à população bens públicos que se afastem de orçamentos secretos, Fundões Eleitoral e Partidário, pepitas de ouro para pastores, cartões corporativos secretos e outras práticas às quais o brasileiro sério não pode se acostumar e perder a capacidade de se indignar.

Importante nesse projeto é que a população foi ouvida. Moradores e frequentadores ajudaram a elaborar o esboço inicial de percurso. Os distritos de Parelheiros e Marsilac, até agora tão abandonados, entrou no radar da Prefeitura. Quando vereador, o Prefeito Ricardo Nunes prestigiou a população local e participou de eventos na EE "Profa. Regina Itapura de Miranda Brant de Carvalho", que ajudei a entregar quando Secretário Estadual de Educação. Ele tem apreço especial por aquela região.

Pensa-se em ofertar trilha para o pedestrianismo e para o ciclismo, de preferência ao tráfego de caminhões e demais veículos. Favorecer-se-á o ecoturismo, proteger-se-á o que resta de verde - e que ali é bastante, ao contrário de outros lados da megalópole - e incentivar-se-á a obtenção de maior renda para os que poderão explorar comércio e serviços compatíveis, como o da produção de mudas, plantas, viveiros, gastronomia, bar, artesanato e lembranças para turistas.

Agora espera-se que a Prefeitura abra outra janela de esperança que é multiplicar as árvores das quais a cidade tanto se ressente. Se o Brasil carece de um trilhão de árvores - número que foi eliminado desde a chegada dos colonizadores - a capital talvez precise de ao menos um milhão. É urgente criar mais viveiros, coletar as sementes que todos os anos as árvores produzem gratuitamente e que precisam se converter em novos exemplares da exuberante flora pátria.

Um bom começo é investir em educação ambiental, que deve ser formal e informal e comover toda a população paulistana. Árvore é vida, é esperança de dias melhores, é saúde e é higiene mental.

Boas novas as pequenas lamparinas que São Paulo acende para nos livrar da escuridão nacional.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 08 2023



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