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O DESESPERO TEM PRESSA
Acadêmico: José Renato Nalini
O desespero dos ecologistas tem razão em ter pressa. Agora, é passar do discurso estéril para a prática real

O desespero tem pressa

Quem se angustiou quando assistiu à decadência ecológica do Brasil nos últimos quatro anos tinha a esperança de que a partir deste ano, tudo mudaria. Mas, infelizmente, os dados continuam péssimos. O primeiro trimestre registrou a maior destruição do cerrado e uma das maiores da Amazônia. Procura-se tornar ainda mais vulnerável a Mata Atlântica, o bioma que se tornou o mais frágil, diante da especulação imobiliária e de um crescimento populacional em metástase, diante da ausência de planejamento familiar.


O genocídio continua firme. A Secretaria Especial de saúde Indígena e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas registram mortes de crianças kanamaris que ainda não completaram um ano, por diarreia e desidratação resultante das dragas de garimpo numa das regiões até há pouco mais preservadas da Amazônia.

Na região do médio Juruá e do rio Jutai, o skanamaris vivem na aldeia Igarapé Preto, território ainda não demarcado. Já os katukinas estão na Terra Indigena Rio Biá, demarcada desde 1997, entre Carauari e Jutaí. Os óbitos resultam de garimpo ilegal de ouro, que lança mercúrio, resíduos sólidos e outros materiais pesados no rio usado pelos indígenas para a sua sobrevivência.

O Instituto Socioambiental - ISA, em estudo pormenorizado, prova que 397 terras indígenas podem ser impactadas por obras planejadas pelo governo federal, como a construção de rodovias, ferrovias e usinas hidrelétricas. Isso representa 66 ou dois terços dos 599 territórios com algum tipo de delimitação geográfica no banco de dados do ISA. 92 povos isolados podem ser impactados, neste número considerados grupos cuja existência sequer é confirmada pela FUNAI. O estudo consta do livro "Povos Indígenas no Brasil 2017-2022", lançado pelo ISA no final de março. A maior quantidade de obras é de pequenas centrais hidrelétricas: são 419. Depois vêm as usinas hidrelétricas: 85 e 72 rodovias. 44 portos, 12 ferrovias, 9 linhas de transmissão e 7 dutos.

Não é difícil comprovar que usinas afetam o regime hídrico, as vazões de rios e isso ameaça a segurança alimentar das comunidades. Sem falar no fluxo de trabalhadores que trazem atividades ilegais e aumentam o desmatamento. Toda vez que se abre uma estrada, acelera-se a grilagem de terras nos arredores do percurso.


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Será que a presença de Rodrigo Agostinho, hoje Presidente do IBAMA e um ambientalista muito sério conseguirá atenuar o potencial risco de acabar com várias etnias, a caminho da extinção há muito e reduzir o crime da devastação ecológica?

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Enquanto boa parte dos considerados "lúcidos" condenam a atuação das redes sociais, é interessante observar que o Google anunciou que seu braço Google Earth passou a incluir imagens do avanço do desmatamento na Amazônia até 2022. A atualização da plataforma desde 2020 permitiu acompanhar o nível avassalador da destruição da floresta, que teve índices recordes nos últimos anos.

Esse anúncio foi feito no evento "Sustentabilidade com Google-Amazônia", realizado em Belém. As imagens de satélite utilizadas pelo Google Earth possuem registros desde 1984 e, com a ferramenta timelapse, consegue mostrar em detalhes as modificações perpetradas pelos homens na cobertura florestal. O serviço já é utilizado pelo Mapbiomas, criado em 2019 e capaz de realizar mapeamento anual do uso do solo e da superfície de água, sem prejuízo do monitoramento mensal das marcas do fogo.

Por isso é forçoso reconhecer que existe tecnologia suficiente para detectar os pontos de destruição, até para descobrir início de incêndio. Mas de que vale a informação se não servir para obviar a ação criminosa de organizações que se apoderaram dos vários biomas brasileiros e atuam na certeza da impunidade, porque o sistema Justiça é complexo, burocrático e caótico?

Verdade que o novo governo só completou cem dias há pouco. Mas é preciso atuar com garra e coragem. Em lugar de dar espaço às desgraças ocorridas, é urgente mostrar que os tempos são outros. O mundo inteiro acompanha com interesse tudo o que acontece nos biomas brasileiros, principalmente na Amazônia. Condenar o que se fez no passado recente e permitir que os índices de devastamento continuem a disputar recordes não tranquiliza os que ainda se preocupam com a ecologia, tão negligenciada no Brasil de nossos dias.

O desespero dos ecologistas tem razão em ter pressa. Agora, é passar do discurso estéril para a prática real, cujos efeitos concretos são a derradeira esperança dos homens de bem.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 18 04 2023



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