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HAGIOLOGIA PAULISTA
Acadêmico: José Renato Nalini
Hagiologia é a ciência do estudo dos santos, suas vidas e suas obras. Além de ciência, ela estimula a publicação de obras específicas

Hagiologia paulista

Hagiologia é a ciência do estudo dos santos, suas vidas e suas obras. Além de ciência, ela estimula a publicação de obras específicas, a fabricação de objetos de culto e liturgia e, o que interessa ao Estado, o turismo religioso. Em São Paulo existem alguns lugares bem frequentados por peregrinos e romeiros. Aparecida do Norte, com o Santuário da Padroeira do Brasil, Pirapora do Bom Jesus, hoje prejudicada com as espumas do envenenado Tietê, Tambaú, onde viveu o Padre Donizeti Tavares de Lima, considerado taumaturgo.

Na capital pode-se visitar o mosteiro em que viveu Madre Paulina e também o edifício da Luz, projetado e construído por um santo: Frei Antonio de Sant'Anna Galvão. Por sinal que a devoção a esse filho de Guaratinguetá é muito antiga, assim como aquela destinada a dois outros sacerdotes: José de Anchieta, hoje também canonizado e Belchior de Pontes.

Anota Affonso de E. Taunay que, em relação a Frei Galvão, "há uma particularidade curiosa, verdadeiro índice da veneração que lhe acompanha a memória: numerosos indivíduos trocaram os apelidos paternos pelo de Galvão, em virtude de promessa feita por seus pais e avós. São os "Galvão de promessa", muito conhecidos em todo o Estado de São Paulo".

Anchieta faleceu em 1597; Belchior de Pontes nasceu em 1643 e faleceu em 1719 e o franciscano Galvão nasceu em 1739 e faleceu em São Paulo, a 23 de dezembro de 1822. O ano passado registrou o bicentenário de seu falecimento, sem as grandes celebrações levadas a efeito em 1922, quando ele ainda não fora canonizado.

Seria muito interessante que a Igreja tivesse uma organização responsável por levantar todas as devoções populares que são longevas e que aos poucos desaparecem, diante da perda de católicos. Falava-se bastante na menina Izildinha, ou Maria Izilda de Castro Ribeiro, conhecida no Brasil como "Menina Izildinha", foi uma menina nascida em Portugal no ano 1887 e falecida com apenas 13 anos. Viveu uma vida simples e cheia de fé. Ela só passou a ser conhecida quando foi exumada 39 anos após sua morte e, para surpresa de todos, seu corpo estava intacto, perfeito, incorrupto, bem como seu vestido e as flores que a circundavam no caixão. A partir de então, a fama de santidade da menina alastrou-se. Posteriormente seu corpo foi trazido para o Brasil por um de seus irmãos e repousa em Monte Alto. Antoninho da Rocha Marmo nasceu em São Paulo em 1918 e morreu aos doze anos. O processo de santificação está em andamento e seu corpo foi trasladado para São José dos Campos, onde continua a ser cultuado.

O Padre Bento Dias Pacheco, ituano que se devotou à causa dos hansenianos, é outro candidato à santificação. Madre Maria Theodora Voiron, embora não brasileira, foi em São Paulo que se dedicou ao ensino e ao cuidado das crianças. Fundou o famoso Colégio do Patrocínio, em Itu e criou um asilo para receber crianças negras. Existe causa de santificação em andamento e ela já mereceu o título de "Venerável".

Itu parece um celeiro de santos, pois ali também nasceu Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, hoje "Servo de Deus". Foi o primeiro bispo de Jundiaí, nomeado em 1966 e onde permaneceu até falecer, em março de 1982. Ao apresenta-lo à nova diocese, da qual seria titular, o Cardeal Agnelo Rossi afirmou: "Trago-vos o máximo de substância, num mínimo de matéria". Pois Dom Gabriel era muito frágil: perdera um pulmão. Mas se transformava quando em pregação.

O processo de canonização também está em curso.

Numa sociedade que às vezes parece perder-se no declínio dos valores, em que a probidade, a honestidade e a ética parecem cair em desuso, é importante mostrar que houve existências contemporâneas dignas de figurar no hagiológio da Igreja Católica Apostólica Romana.

Ainda hoje existem pessoas cuja conduta paradigmática pode servir de inspiração a quem queira se comportar bem e seja continuamente dissuadido, sob argumento de que o mal é que em regra prospera.

Para o governo, estimular o turismo religioso é fonte de receita e também fórmula eficiente de semear fraternidade e convivência harmônica. Recuperemos nossas devoções e unamos o útil ao prazeroso.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 22 08 2023



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