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Acadêmico: José Renato Nalini Todos já devem ter ouvido falar dele. Poucos sabem o que ele significou para a História do Brasil. Falo de Eduardo Gomes, “O brigadeiro da libertação”.
O brigadeiro da libertação Todos já devem ter ouvido falar dele. Poucos sabem o que ele significou para a História do Brasil. Falo de Eduardo Gomes, que nasceu em Petrópolis a 20 de setembro de 1896, filho do Comandante Luiz Gomes. Cresceu ouvindo as tradições domésticas. Seu pai era patriota e idealista. Eduardo aprendeu as primeiras letras no curso Werneck. Era impenitente madrugador. Tendia para as ciências positivas. Depois fez Humanidades no Colégio São Vicente de Paulo. Conviveu ali com Raul de Leoni, Joaquim Nabuco e Luiz de Menezes. Terminou o curso secundário em 1912, quis logo ingressar no Exército, mas – embora aprovado nos exames – tinha apenas dezesseis anos. Não esmoreceu. Submeteu-se às provas uma vez mais e na terceira vez ingressou na Escola Militar que primeiro estava na Praia Vermelha e só depois no Realengo. Frequentou-a entre 1916 e 1924 e hauriu as tradições do ensino de Benjamim Constant. O episódio mais conhecido em que Eduardo Gomes se celebrizou foi aquele, posterior à I Grande Guerra, quando a tensão política fez com que o presidente do Clube Militar, Hermes da Fonseca, se opusesse ao presidente da República, Epitácio Pessoa. O presidente repreende severamente o Marechal Hermes e fecha por seis meses o Clube Militar. O exército recebeu como ofensa a prisão de sua mais alta patente. Isso fez com que a mocidade da Escola Militar se levantasse em armas. O tenente Eduardo Gomes quis lutar e se apresentou ao comandante do Forte de Copacabana, capitão Euclydes Hermes da Fonseca. Vinha para a revolução. Não pertencia à guarnição daquela praça, porque estava na Escola de Aviação, a estudar o curso de Observador aéreo de Artilharia. Pediu para estudar um canhão Schneider e aprendeu a manobra-lo. A artilharia do Forte de Copacabana bombardeia vários objetivos militares. Recusa-se a se render e é canhoneado pela fortaleza de Santa Cruz. Tudo resultou inútil. A revolução estava vencida. O capitão Euclydes Hermes da Fonseca franqueou a todos a saída e a guarnição do Forte se reduziu a 28 homens. O governo se propôs a parlamentar e, embora hasteada bandeira branca, aviões sobrevoam o Forte e o bombardeiam. O capitão Euclydes vai ao Catete, levar as condições para o rendimento e é preso. Sobram 27 no Forte. Rendição não está em pauta. Siqueira Campos, que assumira o comando, sugere explodir o forte e todos morrerem. Eduardo Gomes pondera que o patrimônio não era deles. Continuar o ataque poderia causar mais mortes inocentes. Propõe que marchem para a luta, unidos. Invocam “Benjamin Constant”, que dissera: “Vencer ou morrer”. A bandeira do forte é repartida em vinte e oito pedaços. Cada companheiro recebe um deles e Siqueira Campos guarda mais um para Euclydes. Siqueira Campos observa que a jornada é livre. Dez praças desistem. Caminham os restantes pela Avenida Atlântica: andrajosos, com fuzis e pistolas. Em plena jornada, surge um paisano: Otávio Correa. Pergunta ao grupo: - “Onde vão?” – “Vamos para a morte”. – “Por que?”. – “Para ajudar a salvar o Brasil!”. – “Então também vou!”. Nas imediações da atual rua Siqueira Campos, os primeiros tiros. Trava-se a absurda batalha. São dezoito contra quatro mil. A areia da praia tinge-se de vermelho. Já não há mais rebelde a abater. Entre os gravemente feridos, Siqueira Campos, Eduardo Gomes e Newton Prado. No dia seguinte, um estudante de Medicina de nome Celso, morador à rua Silveira Martins, 135, entrou no Forte de Copacabana depois que a guarnição saíra. Na mesa da sala do rancho, encontrou um documento: “Nada temeram. Não eram covardes. E tiveram hombridade. Comandante e subalternos: capitão Euclydes Hermes da Fonseca, tenente Antônio Siqueira Campos, Eduardo Gomes, Newton Prado, Mário Tamarindo Carpenter, José Pinto de Oliveira, Arthur Pereira da Silva, cabos Raimundo Lima Cruz e Manoel Antônio dos Reis, soldados Benedito José do Nascimento, Antônio Camilo de Freitas, João Rodrigues da Silva, José Joaquim da costa, José Olympio de Oliveira e Manoel Inácio dos Santos”. Quem se lembra hoje desses nomes? Os 18 do Forte! Mocidade idealista, atuou com bravura, mostrou ao Brasil que ainda havia brio entre sua gente. Aos 25 anos, Eduardo Gomes já era famoso em todo o Brasil. Sofreu fratura exposta do fêmur esquerdo. Mas curou-se e continuou patriota. Iria participar da Revolução Paulista de 1924, desdobramento lógico dos acontecimentos de 1922. Ainda estava longe de vir a ser chamado “O brigadeiro da libertação”. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 02 09 2023 voltar |
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