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Acadêmico: José Renato Nalini Diz-se que a sensação de se apaixonar assim que se enxerga uma pessoa é uma lenda. Mas isso existe.
Amor à primeira vista Diz-se que a sensação de se apaixonar assim que se enxerga uma pessoa é uma lenda. Mas isso existe. Há quem confesse ter sido alvejado pelo cupido logo ao olhar pioneiro. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Antônio Dias Novaes, um paulista de Queluz, nascido em 31.7.1835, da Turma Acadêmica 1855-1859 das Arcadas. Era animado, comunicativo, simpático, jovial, divertido. Mas inimigo dos livros e bastante afeiçoado ao jogo. Era tão hábil nas atividades lúdicas que necessitavam de raciocínio e que se praticavam à época – solo, boston e voltarete – que foi solicitado a reformar as regras deste último jogo. Integrou uma comissão da qual faziam parte Martim Francisco e Bento de Paula Souza. O resultado foi a publicação de um livro que se tornou o código do voltarete, como se jogava no Brasil. Além disso, era abonado pela sorte. Como não estudava, só sabia um ponto para o exame preparatório de ingresso ao Curso Jurídico, na disciplina História Universal. Lera apenas o capítulo “Rivalidade entre Sylla e Mário”. Pois foi justamente esse o que sorteou. Era um fumante impenitente. Não conseguia se livrar do vício. Mas prometeu passar todos os janeiros sem fumar. E conseguiu cumprir a promessa. Figura muito popular e estimada por seus colegas da São Francisco. Era estudante ainda, quando veio a se casar e daí a história do amor à primeira vista. Valera-se dos feriados de 7 e 8 de setembro para fazer uma excursão a Campinas, em companhia de seus amigos João Gabriel de Moraes Navarro, Ataliba Nogueira e Francisco Azarias de Queiroz Botelho. Chegaram a Campinas no dia 6. Nesse mesmo dia, viu Maria Thereza de Paula, filha do Tenente-Coronel José Francisco de Paula, um dos primeiros fazendeiros de Campinas e dos iniciadores da lavoura de café no município. Apaixonou-se perdidamente. Conseguiu convencer o pai a conceder sua mão em casamento. A cerimônia realizou-se no dia 9. No dia 10, voltavam para São Paulo. Depois de formado, veio residir em Campinas, onde foi vereador. Em seguida mudou-se para a Capital e foi Presidente da Caixa Econômica. Em seguida, diretor do Banco de São Paulo, cargo que ocupava quando veio a falecer a 18 de dezembro de 1900. Foi pai dos Doutores Paula Novaes e Elias Novaes e sogro dos Doutores Adolfo Melchert, Adolfo Greft Borba, Luiz Frutuoso da Costa e Coronel Deraldo Jordão. Foi seu irmão Luiz Dias Novaes, igualmente bacharel das Arcadas da turma de 1856. Um outro campineiro, João Gabriel de Moraes Navarro, nascido em 1837, perdeu os pais ainda criança. Abastado fazendeiro, parente de seu pai, custeou os seus estudos. Quando cursava o 3º ano do curso jurídico, veio a se casar com moça rica e melhorou o seu padrão de vida. Bacharelou-se em 19 de novembro de 1859 e voltou para Campinas, onde foi recebido festivamente. É o que consta de um artigo de João Egídio de Sousa Aranha, sob título “Dr. João Gabriel”, publicado no “Diário de Campinas” de 5.2.1899, nº 6.862, exemplar conservado no Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas. Impôs-se como orador. Foi quem introduziu em Campinas a moda dos discursos em banquetes e reuniões familiares, como lembra Rafael Duarte no livro “Campinas de Outrora”. O amor de João Gabriel veio a calhar, para equilibrar suas finanças. Ainda estudante, ele envolveu-se num incidente ocorrido dentro de um teatro em São Paulo. A presença de um sacerdote incitou zombaria dos acadêmicos. Começaram a entoar uma espécie de ladainha, em altos brados. Era impossível ouvir o que os artistas diziam. Instaurou-se um tumulto. O delegado de polícia era o Professor Furtado, lente da São Francisco. Ele ordenou a suspensão do drama, diante da balbúrdia. Mas o Presidente da Província, Fernandes Torres, mandou continuar. Os acadêmicos se revoltaram e, solidários com o Furtado, impediram a continuidade. Quando Fernandes Torres quis argumentar que pensara atender aos estudantes, João Gabriel Moraes Navarro gritou: “Não foi a nosso pedido! Foi a pedido de Cristina!”. Cristina era conhecida mundana que a boataria vinculava ao Presidente da Província, que por ela fazia qualquer coisa. Três singelos padrões, empiricamente comprovados, de modalidades de amor: à primeira vista, amor à vista, amor clandestino. Afinal, quantas as tonalidades que pode ostentar sentimento tal, capaz de mover o sol e as demais estrelas? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 13 09 2023 voltar |
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