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A PENA FECUNDA DE COUTO DE MAGALHÃES
Acadêmico: José Renato Nalini
Uma biografia completa de Couto de Magalhães ainda está por ser escrita, como homem de vida intensa e bem aproveitada. Uma das figuras mais originais da sociedade brasileira.

A pena fecunda de Couto de Magalhães

Quem ouve falar de Couto de Magalhães nem sempre conhece detalhes da vida desse mineiro de Diamantina, nascido a 1º de novembro de 1837. Quando veio se matricular na São Francisco, já cursara um ano da Escola Central do Rio e era considerado estrela de primeira grandeza, por seus dotes culturais e literários.

Descendia do grande navegador português Magalhães, o que explica a sua paixão pelas viagens. A mãe, Tereza do Prado Vieira Couto, era de clã paulista. Em suas veias também corria sangue indígena. Mais literato do que jurista, era excelente o seu preparo de humanidades, assimiladas no famoso colégio mineiro do Caraça. Tinha facilidade em aprender idiomas e estudou o grego, o latim, o sânscrito e chegou a falar mais seis línguas, além de vários dialetos indígenas. Mais do que a palavra, sua pena fecunda granjeava-lhe grande número de admiradores. Escrevia romance, crítica literária e crônicas históricas.

Era um excêntrico, seu convívio era com sacerdotes mais idosos e tinha intensa afeição pelas diversões fluviais. Banhos nos rios, exercícios de natação e submersão, passeios em canoa, pesca, etc. No primeiro ano do bacharelado abriu um curso de filosofia no Mosteiro de São Bento. O produto dessas lições, aplicava em auxílio a colegas pouco abastados. Muito simples, na sua formatura não se lembrou de fazer roupa nova. Refratário ao casamento conservou-se solteiro.

Doutorou-se, estreou na vida pública na condição de secretário da província de Minas, cujo presidente era seu amigo o Padre Vicente Pires da Motta. No ano seguinte foi nomeado presidente da Província de Goiás e, em seguida, presidente da província do Pará. A primeira nomeação, em fins de 1862, ocorreu quando ele mal completara 24 anos de idade.

Altivo, apôs um “Não se cumpra” a uma ordem do Ministro da Justiça ordenando reintegração de um oficial da Guarda Nacional destituído do cargo após processo regular. Isso lhe rendeu um processo. Vindo à Corte, após conversar com o Imperador, não foi processado e foi nomeado presidente da Província de Mato Grosso, então invadida por paraguaios.

Viajou pelo Brasil inteiro e era considerado um segundo Anhanguera. Legou relatos de viagem ainda hoje muito interessantes, como “Viagem ao Araguaia”. Era também bom negociante. De homem pobre, tornou-se milionário. Quando sua fortuna atingiu a astronômica importância de 3 milhões de réis, manifestou ao banqueiro depositário o desejo de ver tal soma. Quando conduzido à caixa-forte do banco deparou-se com o volume, exclamou: “Vil metal, ouro sublime! Algoz e providência! Arma para o mal, instrumento para o bem! Serás meu, não serei teu” Hás de ser o meu escravo e jamais o meu senhor!”. Muitos dos ricos de hoje deveriam se imbuir de tal espírito.

Esteve fora do Brasil e ao voltar, radicou-se em São Paulo. Dedicou-se à indústria e empregou capital em várias empresas ferroviárias. Afastado da política, em 1889 foi chamado a assumir a Província de São Paulo, a pedido insistente do Visconde de Ouro Preto. Nessa posição estava quando ocorreu o golpe de 15 de novembro. Tanto correligionários como adversários admiraram sua retidão, a serenidade, a atitude calma, correta e digna, quando deixou o governo e retirou-se do palácio, após a proclamação do governo revolucionário que lhe devia suceder.

Uma biografia completa de Couto de Magalhães ainda está por ser escrita. Ele mesmo sugeriu isso, como homem de vida intensa e bem aproveitada, uma das figuras mais originais da sociedade brasileira, ao escrever: “...este que vos escreve estas linhas, amigo leitor, é o que mais tem viajado a nossa terra e um dos que mais têm visto esta pobre humanidade na paz e na guerra, na peste, na fome, na luta a mais apertada pela vida, desde o índio nu e antropófago das solidões do Araguaia desde o soldado enfurecido com o sangue dos combates, até a sociedade mais aristocrática e culta do West End de Londres. Quantas e quantas situações e caracteres, pois, não têm sido postos diante das lentes de meus pobres olhos?”.

Faleceu no Rio de Janeiro a 14 de setembro de 1898.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 04 10 2023



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