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Acadêmico: José Renato Nalini Existe um novo CEO na praça: o CHO – Chief Happiness Officer, uma espécie de “diretor de felicidade”.
Diretoria de felicidade O “mal estar” da civilização, a “ecoansiedade” e outras enfermidades mentais como estresse, depressão e infinitas síndromes, quais a do pânico, tudo tem feito a iniciativa privada pensar nos cuidados que a saúde da alma está por merecer. É por isso que existe um novo CEO na praça: o CHO – Chief Happiness Officer, uma espécie de “diretor de felicidade”. O que ele tem de fazer? Elaborar ações voltadas à preservação da saúde mental e do bem-estar dos funcionários. A experiência já teve início no Grupo Heineken, depois de muito debate. A primeira providência tomada foi a formação de “embaixadores da felicidade” – funcionários de diferentes cargos e áreas, que se oferecem para receber treinamento sobre a ciência da felicidade. A capacitação consiste em dinâmicas sobre emoções e relacionamentos positivos, além de oferta de conhecimento teórico para influenciar e interagir com lideranças naturais que sempre existem em qualquer espaço de convívio. Faz-se, a cada quinzena, uma pesquisa confidencial para avaliar o nível de satisfação dos funcionários com o ambiente de trabalho e com as suas vidas pessoais. Isso orienta as ações e permite um diagnóstico do ambiente da empresa. Uma outra marca que já tem CHO é a Chilli Beans. Ela, de início, contratou um consultor de felicidade. A ciência da felicidade existe e é objeto de estudo, inclusive em Harvard. Ela permite a realização de uma série de atividades com vistas a desanuviar o ambiente e a reforçar a necessidade da camaradagem, da polidez e da harmonia. Workshops, reuniões com os funcionários, tudo serve para aplainar arestas. O importante é que a empresa se propôs a ouvir os seus colaboradores e a se interessar pelos seus problemas pessoais, que repercutem – indubitavelmente – no rendimento do trabalho. Ainda existem regimes severos, de disciplina rígida, com excessiva vigilância que é considerada sabotadora da felicidade. Os bons patrões sabem que se hostilizarem seus trabalhadores, estarão preparando algo bem desagradável, na linha do “dormindo com o inimigo”. Por isso, é de interesse da empresa propiciar um ambiente ameno, cordial e, se possível, até fraterno para aqueles que passam a maior parte do dia dentro do estabelecimento onde trabalham. Empresas há que desenvolvem análogas iniciativas, com nome diverso. Assim a Ambev, que tem uma diretoria de saúde mental. O Woba, de escritórios compartilhados, chama o seu departamento de “head of love”, algo como “líder do amor”. Existe ainda o Instituto Feliciência, que oferece cursos para formação de diretores de felicidade e adverte sobre o perigo do “happywashing”, inspirado no “greenwashing”. Isso ocorre quando as empresas não estão efetivamente comprometidas a melhorar o ambiente de trabalho, mas usam o certificado do treinamento para promover a própria marca. Só que “o castigo vem a cavalo”. Os colaboradores percebem a hipocrisia. Sofre a empresa o chamado “efeito rebote”. O funcionário que poderia até ser neutro, passa a ser um velado inimigo da empresa. Ainda não existe, ao menos de maneira oficial e estruturada, iniciativa análoga no Poder Público. E ele precisaria cuidar disso. Em contato com juízes, vejo que eles estão muito desanimados com a carga de trabalho e com a burocracia das planilhas. Têm de preencher relatórios, de comprovar produtividade. Transformam-se em autômatos infelizes. Os que têm coragem se exoneram e partem para outra atividade. Também a polícia militar, com o crescente número de suicídios, precisa pensar nisso com carinho. A função é terrível. O único profissional que jura oferecer a própria vida para salvar a vida alheia. E o magistério, este mártir do sistema, é sempre espezinhado. O professor vocacionado é equiparado àquele que nada produz, vê o governo pagar consultorias milionárias, mantidas por pessoas gradas que nunca enfrentaram uma sala de aula e têm de engolir estratégias, metodologias e material de ensino sobre os quais nunca foram consultados. Todos esses setores – e outros também – precisariam cursar o “Masterclass of Happiness”, as aulas de felicidade que a Finlândia promove e que tem razão de ser. Afinal, a Finlândia foi eleita, pela sexta vez consecutiva, o país mais feliz do mundo, segundo o World Happiness Report, o relatório mundial de felicidade da ONU. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 23 09 2023 voltar |
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