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Acadêmico: José Renato Nalini Armando de Salles Oliveira foi internado no Sanatório Esperança, onde faleceu aos cinquenta e sete anos. Assim como a democracia, foi vítima do golpe de 10.11.1937.
O golpe de 10.11.1937 Os dois candidatos à presidência eram homens dignos, honrados e democratas. José Américo de Almeida e Armando de Salles Oliveira. Assim que escolhidos por seus Partidos, cumprimentaram-se, cavalheirescamente. O pleito se desenrolaria dentro da normalidade, sem sobressaltos. Mas os boatos recrudesciam antes do 10 de novembro. Ao ter certeza da iminência do golpe, Armando de Salles Oliveira, que renunciara ao governo de São Paulo para disputar a presidência, lançou manifesto aos chefes militares. A carta de 8 de novembro de 1937 foi lida na Câmara e no Senado. Nela se exprime a extraordinária nobreza, a coragem e o idealismo do fundador da Universidade de São Paulo. Era uma derradeira tentativa de salvar a democracia e o regime: “As palavras que nesta carta dirijo aos chefes militares são o profundo e veemente apelo de um brasileiro sincero, cheio de emoção e de amargura ante o panorama nacional. Serão um grito de desespero, se quiserem, mas que, pelo seu puro acento, não poderá deixar insensíveis os que o escutarem: nele se exprimem as inquietações dos que sentem que outros graves perigos, além do comunismo, conspiram contra o Brasil. Se alguma força poderosa não intervir a tempo de impedir que se cumpram os maus pressentimentos que hoje anuviam a alma brasileira, um golpe terrível sacudirá de repente a Nação, abalando seus fundamentos até às últimas camadas e mutilando cruelmente as suas feições – aqueles traços conhecidos que, através dos tempos, se vêm incorporando na essência da nossa formação moral”. Prossegue, na intimorata demonstração de amor à Pátria: “Só não vê claro, quem não quer. Está em marcha a execução de um plano longamente preparado, que um pequeno grupo de homens, tão pequeno que se os podem contar nos dedos de uma só mão, ideou para escravizar o Brasil. Não são homens que aparecem nas cristas das vagas populares e que, por estas, são levados ao poder com ímpeto irresistível para que construam uma nova ordem política. Em lugar de ir debaixo para cima, como o mundo de nossos dias oferece tantos exemplos, a subversão das instituições brasileiras está sendo realizada do alto, com todas as armas que dispõe o poder. Há, de fato, quem esteja em desespero de causa: o Brasil”. O lancinante pleito de socorro não encontrou eco. No dia 10 de novembro dissolveu-se o Congresso, aboliu-se a Constituição vigente, implantou-se o Estado Novo, com o DNA do fascismo. Nessa mesma noite, Armando Salles foi procurado em sua residência, à Avenida Nossa Senhora de Copacabana, capital federal, e ali mantido em prisão domiciliar, até 20 de novembro. Em seguida conduzido para as Minas de Morro Velho, junto à Vila de Nova Lima, onde foi obrigado a residir, como hóspede dos engenheiros da Companhia Inglesa de Minas, até maio de 1938. Nesse período, foi proibido de receber visitas e esteve submetido a rigorosa vigilância policial. Depois de breve permanência na fazenda de um cunhado, em Espírito Santo do Pinhal, foi notificado de que deveria embarcar imediata e compulsoriamente para o estrangeiro, na qualidade de exilado político, por ordem do chefe do governo. A 3 de novembro de 1938, partiu para o desterro, embarcando em Santos no pequeno vapor francês “Lipari”, acompanhado da esposa, de seu filho Armandinho e de seu cunhado Júlio de Mesquita Filho, igualmente exilado. O ano de 1939 foi o do início da II Guerra Mundial. Armando embarcou para os Estados Unidos, onde chegou a 4 de abril, em Nova Iorque. Ali comparou a estabilidade da democracia norte-americana, o culto a George Washington e a Abraham Lincoln, ao legado da República Brasileira, prestes a completar seu meio século. A ditadura tupiniquim moveu-lhe um processo perante o Tribunal de Segurança Nacional. Julgado à revelia e acusado de atentar contra a ordem política e a segurança interna da República, foi condenado a dois anos de prisão. Sanção que subsistiu até abril de 1945, oportunidade em que o STF, reinstaurando o primado do direito de defesa, anulou a sentença condenatória. Armando de Salles Oliveira retornou ao Brasil a 7 de abril de 1945, já gravemente enfermo. Foi diretamente para o Sanatório Esperança, onde faleceu aos 17 de maio, aos cinquenta e sete anos. Assim como a democracia, foi vítima do golpe de 10.11.1937. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 21 09 2023 voltar |
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