Compartilhe
Tamanho da fonte


OS FILHOS DA MARQUESA
Acadêmico: José Renato Nalini
É muito interessante vasculhar a descendência de figuras que para si atraem toda a atenção, mas geraram rebentos que também influenciaram a história da Nação.

Os filhos da Marquesa

Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, é personagem célebre na História do Brasil. Por ela apaixonou-se o jovem Príncipe Regente, Pedro de Alcântara Orleans e Bourbon. Foram sete anos de convívio, alguns filhos e muito material para a maledicência cortesã e plebeia.

Desfeito o romance, com o segundo casamento do Imperador, a Marquesa continuou influente na sociedade e veio a se casar com Rafael Tobias de Aguiar. Foi benemérita e a ela São Paulo deve, entre outros favores, situar a primeira escola de direito do Brasil, a secular São Francisco.

Nas Arcadas estudaram ao menos dois dos filhos de Domitila e Rafael. O primeiro levou o nome do pai e nasceu na capital em 1835.

Levou uma reprovação do Professor Furtado e jurou desforra. Como era valente, os colegas temiam o encontro entre ambos. E o encontro se deu. Só que não houve agressão física. Rafael contentou-se com o grito “Sem ceroulas!” e correu em seguida. A assistência entendeu que foi melhor assim.

Rafael e seu irmão Brasílico eram apaixonados por cavalo e criavam e educavam exemplares de raça apurada, próprios para corrida, para sela e para cobertura. Vangloriavam-se de serem os melhores cavaleiros de São Paulo. Um dia convidaram o Major Jesuíno, afamado criador de animais, com estância em Itapetininga. Desafiaram-no a montar um cavalo ainda não domado. Propuseram aposta de dez contos.

O Major Jesuíno disse que só apostaria o valor que trazia em sua bolsa. Os irmãos aceitaram, se prontificaram a contar e apuraram cinquenta contos. Diante disso, foram eles que desistiram da aposta.

Rafael foi deputado à Assembleia Provincial no biênio 1860-61. Nunca advogou, viveu de suas rendas e faleceu em 31 de outubro de 1891.

O segundo filho do casal Domitila-Rafael foi João Tobias de Aguiar e Castro. Inteligente, mas não muito estudioso. No dia de sua formatura, em 1858, a Marquesa ofereceu um suntuoso jantar. A baixela era de ouro e a porcelana inglesa. Um serviço esplêndido e luxuoso.

Poucos dias após, foi nomeado delegado de polícia de Itu, onde fixou residência e foi fazendeiro. Aos 28 de dezembro de 1858, também em Itu, casou-se com Ana Barros de Aguiar, filha do 1º Barão de Itu.

Seguiu a tradição paterna e ingressou no Partido Liberal. Foi eleito deputado à Assembleia Provincial nos biênios 1862-63, 1864-65 e 1866-67. Pouco depois, tornou-se republicano e a 10 de setembro de 1872, foi eleito membro da diretoria do Clube Republicano de Itu, juntamente com João Tibiriçá Piratininga, presidente, Antonio Francisco de Paula Souza, 1º Secretário, Inácio Xavier Campos de Mesquita, 2º secretário e adjuntos, ele e Francisco Emídio da Fonseca Pacheco.

João Tobias foi secretário da Convenção de Itu, reunida em abril de 1873 sob a presidência de João Tibiriçá Piratininga, pai de Jorge Tibiriçá, que foi presidente da Província de São Paulo. Esses nomes indígenas – Tibiriçá Piratininga – foram adotados pela família que, originalmente, era Almeida Prado.

Eleito para a primeira Comissão Permanente, nessa qualidade colaborou para a adoção das Bases Constitucionais do Estado de São Paulo, das quais é um dos signatários. O segundo Congresso Republicano, reunido em abril de 1874, prorrogou os poderes da Comissão Permanente, agora também integrada por Campos Sales, Martinho Prado e Américo Brasiliense.

Foi Senador por São Paulo, onde faleceu e 1901. Foi considerado um veterano campeão da República, embora sua família – mais exatamente sua mãe e os parentes dela – tenham usufruído consideravelmente das benesses do Império.

Conta-se que num jantar em homenagem a Cerqueira Cesar, o orador José Luiz Almeida Nogueira iniciou com rasgados elogios à Monarquia. João Tobias de Aguiar e Castro, expansivo e nervoso, tornou-se inquieto e prestes a intervir. Mas o discurso enveredou por encômios à República. Então João Tobias veio, a final, a abraçar efusivamente o autor da oração, dizendo: “Não imagina as impressões diversas que acabo de experimentar, ouvindo as suas palavras. A princípio, a sensação de surpresa e de reprovação pela inconveniência de um tal discurso, nesta ocasião e neste meio; quase explodi de raiva! Depois, a de tristeza, por me parecer tão desorientada uma tal inteligência; veio-me um nó à garganta; por fim, a de alegria e a de admiração pelo espírito, pelo conceito, pela lucidez e coerência! Parabéns!”.

É muito interessante vasculhar a descendência de figuras que para si atraem toda a atenção, mas geraram rebentos que também influenciaram a história da Nação.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 20 09 2023



voltar




 
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562.
Imagem de um cadeado  Política de privacidade.