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A FILOSOFIA NA USP
Acadêmico: José Renato Nalini
O fundador da USP cuidou de consolidar a Instituição, apoiando-a durante seu profícuo governo. Confiava em que ela deveria exercer sua influência sobre toda a Nação.

A filosofia na USP

Ao criar a Universidade de São Paulo, Armando de Salles Oliveira não se limitou a reunir as oito grandes escolas já existentes. Agregou-lhe outros institutos e instituições científicas e de ensino. E não podia conceber a ausência de uma Faculdade de Filosofia.

Era também a ideia de seu cunhado, amigo e colaborador, Júlio de Mesquita Filho. Num discurso proferido em 1950, este procedeu a um retrospecto histórico sobre a criação da unidade de Filosofia: “Ela brotara no espírito daqueles que, desde 1922, viam que o Brasil se encaminhava para uma solução violenta da sua crise política. E, depois da derrota de São Paulo em 1932, que significou um profundo golpe na democracia em nosso país, mais necessária se tornou, ainda, uma reforma profunda no Brasil. Politicamente, não se poderia conseguir isso, mas a tarefa seria possível se se lograsse atingir a consciência dos moços. Assim, meditando no exílio, chegou-se à ideia de que, sem uma reforma total do ensino nacional, jamais o Brasil sairia do caos. A análise dos motivos que levaram o país ao círculo revolucionário, que culminou em 1930, estava a demonstrar à geração do orador que, caso lhe fosse possível retornar um dia ao poder, necessário se impunha reformar o mecanismo cultural do país, criando entre nós os órgãos e institutos que existiam nos outros países da civilização latina ocidental e aos quais incumbia a formação das elites pensantes. Todos conheciam a divisa da Faculdade de Filosofia: “Scientia vinces”, mas nem todos sabiam que, de fato, essa divisa queria significar: “Vendido pelas urnas, Paulista, vencerás pela Cultura”, divisa que exprimia o pensamento íntimo dos fundadores da Universidade de São Paulo”.

A formação cultural de ambos – Júlio de Mesquita Filho e Armando de Salles Oliveira – era sólida. Eram humanistas convictos. Leitores assíduos dos enciclopedistas, admiradores da cultura greco-romana. Comungavam da certeza de que a formação do espírito deveria ser integral e harmônica, entre todas as ciências e esferas do pensamento.

Contratou-se para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, um grupo bem respeitado: André Dreyfus, para Biologia Geral, Luiz Cintra do Prado para a cadeira de Física e Plínio Ayrosa para ensinar Etnografia Brasileira e Língua Tupi-Guarani. O professor George Dumas, grande amigo do brasil, auxiliou o professor Teodoro Ramos a contratar professores estrangeiros. Coube ao segundo diretor da Faculdade de Filosofia, Antonio de Almeida Prado, instalar a nova Escola, aparelhando-a e iniciando seus cursos. Mas devem ser incluídos Fernando de Azevedo e Almeida Júnior, dois próceres na luta pela instalação da Faculdade de Filosofia.

A colheita de talentos foi bem sucedida. Vieram da Alemanha Ernest Breslau, zoólogo conhecedor da fauna brasileira, Heinrich Rheinboldt, químico de fama mundial, o botânico Felix Rawistscher, conhecido internacionalmente por seus trabalhos originais quanto à adaptação da planta ao meio ambiente. Em França foram contratados Emile Coornaert, que ocupava a cátedra de História da Civilização na Sorbonne, Paul Arbousse Bastide, mestre na Sociologia na Universidade de Besançon, Robert Garric, da Faculdade de Lille e da Sorbonne, Pierre Deffontaines, que ensinava Geografia no Instituto Católico de Lille, Ettiene Borne, da Psicologia na Universidade de Paris e Michel Berveiller, da cadeira de Literatura Greco-Latina em Paris. Vieram da Itália Francesco Piccolo, professor de Latim da Universidade de Roma, Luigi Fantappié, exponencial na matemática, Ettore Onorato, especialista em Mineralogia e Petrografia da Universidade de Cagliari e Gleb Whatagin, para a cátedra de Física Geral.

O fundador da USP cuidou de consolidar a Instituição, apoiando-a durante seu profícuo governo. Confiava em que ela deveria exercer sua influência sobre toda a Nação. Para ele, “a Universidade deverá ser um centro de convergência das diferentes mentalidades, tendências e correntes de opinião, para cristalizar, através da unidade de formação do espírito, os princípios e ideais da vida nacional”.

Bem nascida, a USP prosperou. Sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, tem uma história de dignidade e de profunda transformação do pensamento brasileiro.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 19 09 2023



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