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A GÊNESE DA USP
Acadêmico: José Renato Nalini
A Universidade de São Paulo nasceu de um sonho. O principal sonhador foi Armando de Salles Oliveira.

A gênese da USP

A Universidade de São Paulo, esse orgulho brasileiro com o qual se convive tão naturalmente como se ela sempre tivesse existido, nasceu de um sonho. O principal sonhador foi Armando de Salles Oliveira. Paulista que gostaria de um epitáfio: “Foi este o homem que fundou a Universidade de São Paulo”.

Tal desejo íntimo foi várias vezes manifestado. Numa delas, foi o discurso proferido a 26 de dezembro de 1936, quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa: “Um dos consolidadores da nação norte-americana, compondo o próprio epitáfio, pedia que gravassem em seu túmulo estas singelas palavras: ‘Aqui foi enterrado Thomas Jefferson, autor da declaração da independência americana, do estatuto da Virgínia para a liberdade religiosa e fundador da Universidade de Virgínia’. Deixando de aludir aos cargos eminentes que ele ocupara em sua esplendorosa carreira política, aquele grande espírito, um dos maiores que apareceram no Novo Mundo, julgava a criação de uma Universidade um título de glória tão alto como a elaboração da carta fundamental das liberdades americanas”.

Armando tinha muito presente a lição de P. Dijon, quando explicitou a missão das Universidades: “Como as circunvoluções do cérebro, dobradas sobre si mesmas, formam o órgão do pensamento, assim também as diversas ciências devem se reunir em um só grupo que são as Faculdades, as quais, por sua vez, se congregam na Universidade para integrar o grande órgão da ciência coletiva e nacional”.

Em visita a Humberto de Campos, já combalido pela enfermidade, Armando esclareceu o que pretendia com a USP: “Eu considero a Universidade, nos moldes a que vai obedecer a nossa, um dos maiores serviços porventura prestados ao país, na hora presente, pelo meu Estado. A Universidade de São Paulo é a primeira semente do Brasil novo”.

A aspiração patriótica era prover nosso país de uma geração desvencilhada de servidões e apta ao exercício da democracia. Daí a definição do pensamento do criador da Universidade paulista: “Nós precisamos iniciar, imediatamente, a formação de uma geração forte de homens públicos, responsáveis pelo Brasil de amanhã. São Paulo vai, desde já, cuidar da parte que lhe compete. Um dos nossos males, e a que são devidas as mais fundas inquietações desta hora, é o autodidatismo. O autodidatismo dá personalidade, mas anula a quase totalidade das energias poderosas por ele concedidas ao indivíduo, isolando-o dos demais. É isso que determina em nós a infinidade de ideias que circulam sobre os mesmos problemas nacionais, contribuindo para que estes não sejam jamais resolvidos. A Universidade, submetendo um grupo de alunos aos mesmos mestres, disciplinando-os na mesma direção, não forma unicamente homens públicos, mas uma consciência coletiva, uma grande força intelectual e moral, que continua a viver e a atuar mesmo quando alguns indivíduos desaparecem. A Universidade cria as elites. E a crise brasileira não é popular, mas das classes superiores; não é das massas, mas dos que devem dirigi-las e não se acham preparados, nem conjugados para lhes imprimir direção. São Paulo compreendeu isso e vai iniciar a grande marcha. A Universidade que estamos fundando, servida por especialistas eminentes, vai formar e disciplinar para a vida pública, para as necessidades de sua política e de sua ciência, a primeira geração homogênea, depois da República. Saídos dos mesmos bancos, orientados pelas mesmas ideias, sob o influxo dos mesmos líderes do pensamento humano, as vindouras gerações paulistas constituirão legiões serenas e esclarecidas que se oporão, em conjunto, à anarquia mental que ameaça destruir a civilização em nossa terra”.

Era a aspiração que impulsionava um idealista que protagonizou dias angustiantes e sofridos em tempos de conflitos em 1922, em 1924, em 1930 e em 1932. A Universidade de São Paulo não seria somente um foco de cultura, de ciência e de técnica, mas deveria constituir um centro de irradiação da doutrina da Unidade Nacional. Um celeiro de incubação de democratas, uma oficina de formação de dirigentes compenetrados de seus deveres para com a Pátria e para com a sociedade.

Embora provindo das ciências exatas, Armando de Salles Oliveira nutria perfeita consciência de que as ciências humanas eram essenciais à educação integral da juventude. Uma Universidade concebida em sua mais ampla concepção. Despertar, na mocidade, as potencialidades que dela fariam uma cidadania apta a enfrentar os desafios postos em um século que já enfrentara um grande e cruento conflito mundial e a permitir o desenvolvimento inteiro da personalidade humana, rumo à plenitude possível. A Universidade como instrumento hábil a concretizar o caminho da perfectibilidade, vocação humana indeclinável.

Foi acalentada por esse espírito superior que nasceu a nossa USP.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 14 09 2023



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