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CENTENÁRIO DO PROJETO CUBATÃO
Acadêmico: José Renato Nalini
Há um século, Alexander Mackenzie iniciava o desafio do Projeto Cubatão. A Light procurava uma fonte de energia hidrelétrica na Serra do Mar.

Centenário do Projeto Cubatão

Há um século, Alexander Mackenzie iniciava o desafio do Projeto Cubatão. A Light procurava uma fonte de energia hidrelétrica na Serra do Mar. A ideia era direcionar vários rios, como o Tietê, por exemplo, para a muralha verde e aproveitar suas águas que desceriam e se converteriam em eletricidade. Intentavam construir túneis por onde passariam as águas em direção aos tubos adutores e, com a queda de setecentos e cinquenta metros, até às turbinas instaladas no sopé do maciço, obter-se-ia a tão ambicionada energia.

Havia muita resistência a esse plano. Seria algo inédito no Brasil, de elevadíssimo custo e a ameaça da malária. A região de Cubatão era considerada “Mar Morto”, inaproveitável para qualquer empreendimento. A Light arrostou as dificuldades. Contratou o sanitarista Arthur Neiva, que havia trabalhado na abertura do Canal do Panamá, onde a malária vitimou não só os trabalhadores, mas também a população local. Sua atuação foi providencial.

Inaugurou-se o primeiro gerador em 10.10.1926 e o “Diário da Noite” de 13.10.1926 noticiava: “Quem viu um faroeste pode fazer ideia perfeita das duas cidades improvisadas em madeira e folha de zinco que a SP Light Power criou para os seis mil trabalhadores e trezentos e cinquenta empregados de escritórios que seus serviços ali reclamavam”.

O canadense Alexander Mackenzie, súdito de Sua Majestade o Rei Jorge V, quis mostrar sua obra para o autor dos versos de “The Five Nations”, de 1903, inspirados no sucesso das empresas britânicas espalhadas por todo o planeta. Façanha do Império em cujas terras o sol nunca se punha.

Rudyard Kipling veio e se maravilhou com a Serra do Mar e suas generosas tempestades tropicais. Chamou o Brasil de “o país dos relâmpagos”. O Prêmio Nobel de Literatura de 1907, célebre autor de “Se”, que toda a juventude do século passado conhecia e declamava, chegou ao Rio no dia 13 de fevereiro de 1927. Foi recebido no Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras, presentes dezessete acadêmicos, dentre eles Afonso Celso e Coelho Neto. Também presente Getúlio Vargas, que depois se tornaria imortal na mesma Casa de Machado.

Foi na segunda semana de março que ele desembarcou do navio Sierra Cordoba, no porto de Santos, em companhia do advogado Alexander Mackenzie, Vice-Presidente da Light. Visitou a usina e não se encantou com a gigantesca obra. Ficou irritado com a descrição de alguns trabalhadores, que contaram que após o desmatamento da Serra, a chuva trazia muita terra com a erosão e que eles estavam plantando eucaliptos para dar maior coesão ao solo. Só que as formigas também gostavam de eucalipto e não deixavam as mudas se desenvolverem.

Kipling estranhou a observação empírica de homens rústicos, na profecia de que o resultado da interferência no ambiente não seria exitoso. Comentaram com ele: “Quando se começa a interferir com a natureza, não se pode mais parar”.

Ele também esteve em São Paulo, hospedado no Hotel Esplanada, estabelecimento refinado, atrás do Teatro Municipal, que sediou também as empresas de Antônio Ermírio de Moraes, a Votorantim. Próximo à magnífica edificação que leva exatamente o nome de Alexandre Mackenzie e que foi sede da Light e depois da Eletropaulo. Hoje é um Shopping-Center.

Esteve no Butantã, que chamou de “fazenda de criação de cobras onde se preparam e distribuem soros contra as dentadas das cobras venenosas, que são abundantes por aqui”.

Estranhou o trânsito da capital, criticando os agentes que “deixam o trânsito ultrapassar de um lado para outro indiferentemente, e se espantam de que o índice de acidentes não baixe”. Chegou a escrever um poema – “Canção do dínamo” – sobre a usina de Cubatão e também “Canção das Bananas”, cujo carregamento no porto de Santos achou exótico: “Montões de bananas desciam o rio em barcaças e se juntavam às cargas verdes de vapores cremes com chaminés pretas e vermelhas. A atmosfera é a do Sul da Índia”.

Relacionou-se cordialmente com todos os que o receberam e anotou em seu diário: “O brasileiro diz que o seu país é cheio de corrupção”. Ainda bem que isso terminou!

Rudyard Kipling nasceu em Bombaim, na Índia, em 1865. O romancista e poeta do triunfante imperialismo britânico da época vitoriana faleceu em Sussex, na Grã-Bretanha, em 1936.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 11 09 2023





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