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Acadêmico: Gabriel Chalita Agradeço a você, alicerce dos valores que prossigo tentando viver. Sou ainda aprendiz na arte de ser bom.
É dia dos pais, pai. E você não está. A quem eu devo abraçar? A quem eu devo agradecer a paternidade linda que me apresentou o mundo como um campo fértil para plantar e colher amor? Já faz tempo, pai. O tempo é um apagador de muitas coisas. Não as suas. Suas letras prosseguem gravadas em mim, formam palavras, formam poemas, formam ensinamentos.Você me formou com a força dos seus exemplos. Acordei pensando em vários deles. Compartilho um que vale por muitos. Seu respeito, seu cuidado, seu romantismo com minha mãe, a mulher da sua vida, a mulher das nossas vidas. Vocês se conheceram em uma calçada, em uma cidade do interior. Vocês desconheceram, depois disso, uma vida sem o outro. Foram anos de entrega. De um chorar acompanhado. De um sorrir alinhado às costuras que vocês foram fazendo no tecido da existência. Como era lindo ver você dizendo romantismos. Como era lindo vocês se olhando, depois de anos e anos de casados. "Meu amor", disse tantas vezes minha mãe, "o que você quer para jantar"? E a resposta vinha como variações de uma mesma canção, "Quero jantar com você, meu amor" ou "Você escolhe, eu tenho o principal, você; todo o resto é acessório" ou "Quero jantar o que te agradar, meu amor". Vocês dois caminhando de mãos dadas nas calçadas da pequena cidade até a Igreja, para rezarem juntos. Vocês dois sentados, vendo televisão, comendo sementes de abóbora, bebendo a conversa nos intervalos das antigas novelas. Vocês dois se banhando juntos nas águas do mar. Boiando juntos a certeza de terem feito a escolha certa e confiando que as ondas não seriam suficientemente fortes para atrapalhar aqueles dias. Meu Deus, como as cenas fazem filme em mim. Foi há tanto tempo e prosseguem fazendo filme em mim. O filme bom da minha infância. O filme bom da minha juventude, dos dias em que fui me despedindo daquele ninho e voando o voo necessário dos que precisam conhecer o mundo. O filme das voltas para casa, da alegria da chegada, dos ditos que ensinavam cuidado na despedida. Um dia, nos despedimos sem as consultas às escolhas da liberdade. Depois de uma festa de casamento, depois de um pequeno mal estar, tudo tão rápido, seus olhos se fecharam, sua alma se abriu para a eternidade. Minha mãe abraçou o que sobrou de mim. No seu quarto, alguns bilhetes de amor enfeitavam a lembrança. O travesseiro ainda usado por você, pai. As fotografias. O que consegui dizer a ela foi: "Chora, mãe, chora de saudade e chora de gratidão pela linda história de amor de vocês". O seu filme, pai, o filme que passa imagens tantas em mim me faz querer ser melhor, me faz cultivar a serenidade, virtude tão sua, me faz ouvir, como você ouvia, sem pressa, sem preconceitos. Por aqui, pai, há muitos estranhamentos. Há muitos homens descompromissados com a palavra respeito, com o verbo cuidar. Não consigo compreender os que dizem amar desamando, os que decidem viver juntos desvivendo compromissos de amor. Agradeço a você, alicerce dos valores que prossigo tentando viver. Sou ainda aprendiz na arte de ser bom. Você, meu bom José, foi e é um homem bom. Feliz dia dos pais, pai. Publicado no site do jornal O Dia, 13 de agosto de 2023. voltar |
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