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Acadêmico: José Renato Nalini A Revolução de julho de 1924 é um recorte interessante sobre a conduta dos homens. Como reagem ao inesperado e como se portam diante do perigo.
Não dá para esquecer Faltam menos de seis meses para 2024. Ano em que será celebrado o centenário da Revolução de 1924, muito esquecida por quase todos, mais atentos à Revolução Constitucionalista de 1932. Todavia, é importante que os paulistas se recordem desse movimento e do protagonismo de algumas autoridades que se destacaram em vários aspectos. A Revolução de julho de 1924 é um recorte interessante sobre a conduta dos homens. Como reagem ao inesperado e como se portam diante do perigo. Positivamente, impressiona a figura de José Carlos de Macedo Soares, que se houve com heroísmo raro para pessoas de sua categoria. Não tinha cargo ou função pública. Era Presidente da Associação Comercial de São Paulo. Homem rico, elegante, convivia com a alta sociedade. Chegou a escrever um livro, editado em Paris, em 1925, para narrar sua participação no episódio. O título é eloquente: "Justiça - A revolta militar em São Paulo". Começa com o "Diário da Revolução". Na manhã de 5 de julho de 1924, Macedo Soares e a mulher deixam Campos do Jordão, onde costumavam passar temporadas, rumo a São Paulo. Quando passaram por Pindamonhangaba, ele foi avisado por Roberto Simonsen de que estourara um conflito armado em São Paulo. Imediatamente, Macedo Soares passa um telegrama ao Presidente do Estado, Carlos de Campos: "Estão correndo aqui boatos revolução contra governo Vossa Excelência. Inteiramente solidário eminente amigo sigo para São Paulo automóvel a fim por sua disposição mês fracos préstimos". Chegou à capital depois da meia noite. Na manhã seguinte, reuniu representantes das "classes conservadoras", que publicaram um manifesto lamentando o bombardeio que já durava 48 horas. Hipotecaram apoio a Carlos de Campos. No dia 7 de julho, conta Macedo Soares, "campeava na rua a desordem. O tiroteio contínuo, em combates travados a cada esquina, nas ruas mais centrais, impedia o funcionamento normal do comércio. Bandos armados disputavam a posse de certos edifícios públicos, tais como as estações das estradas de ferro e a repartição do Telégrafo Nacional, batalhando com mais intensa atividade na rua Florêncio de Abreu, no Largo de São Bento, no viaduto de Santa Efigênia e nos arredores dos Campos Elíseos". Persistiram os tiroteios e os saques a armazéns. Mortes incontáveis, pois a cidade estava acéfala. O Presidente Carlos de Campos abandonou os Campos Elíseos e tomou rumo ignorado. A única autoridade que permaneceu a postos foi o Prefeito Firmiano Pinto. Ele convocou reunião de emergência, à qual compareceram Macedo Soares, Altino Arantes, Alcântara Machado, Meirelles Reis e outros. Resolveu-se contactar o líder dos revoltosos, que ninguém ainda sabia quem fosse. No quartel Revolucionário souberam que o chefe era o General Isidoro Dias Lopes, acolitado pelo Major Miguel Costa. Convencionou-se que a administração da cidade, principalmente quanto ao abastecimento da população e poder de polícia prosseguissem como se não houvera luta armada. O General Isidoro declarou não ter dúvidas quanto a acatar a autoridade do Prefeito, diante da natureza meramente administrativa de suas funções. Iniciou-se um período de estreita colaboração entre a sociedade civil, representada por José Carlos de Macedo Soares e o comandante da insurreição, o General Dias Lopes. Enquanto isso, as forças legalistas da União continuaram a atacar São Paulo de forma aleatória. Aviões lançavam bombas em residências, matando pessoas cuja identidade sequer foi apurada. O número de mortos foi calculado pela Casa Rodovalho, que era a funerária à época. Foi a sociedade civil que organizou a Guarda Municipal e o Corpo de Bombeiros. Outra autoridade que não se recusou a atuar humanitariamente foi o Arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva. As Igrejas passaram a receber os refugiados, cujas casas foram destruídas, a cuidar dos enfermos e a alimentar todos os desabrigados. O prêmio que José Carlos Macedo Soares recebeu por ter evitado maiores desastres em São Paulo foi uma denúncia como incurso no artigo 107 do Código Penal então vigente. Outros aspectos da Revolução de 1924 precisam ser destacados e espera-se que haja celebração condigna, para evidenciar o quão poderosa pode ser a reação da sociedade civil, quando o governo se acovarda e abandona seus postos. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 16 08 2023 voltar |
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