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Acadêmico: José Renato Nalini Uma coisa é certa: a educação está a reboque das transformações.
Desperdiçamos talentos? No discurso atual, muitos dizem que não sabemos investir em talentos. Na verdade, não sabemos detectá-los. Uma educação anacrônica, baseada na memorização, afugenta a criatividade. Crianças e jovens que têm inventividade, engenhosidade, saem do paradigma imposto pelo controle e pela avaliação, têm suas iniciativas amputadas. Prevalece o modelo da zona de conforto. Ordem e disciplina. Obediência cega à autoridade. Sem questionamentos estéreis. Essa prática vai se refletir no ambiente de trabalho. O que é que a empresa contemporânea espera de seu empregado? Luiz Carlos Cabrera, em recente exposição, falou sobre a elaboração do modelo das trocas simbólicas, bem aplicável ao tema. Depois da Revolução Industrial, o lema era: eu te dou emprego seguro e quero sua lealdade. O simbolismo era muito singelo: a permanência no emprego e o conceito de lealdade. Conceito mais de obediência, de disciplina rígida, reflexo da educação antiga. O direito do trabalhador era trabalhar sem reclamar. Lembremos que em 1917, quando anarquistas teriam influenciado a grande greve paulista, a Lei Adolfo Gordo expulsou, sumariamente, os estrangeiros acusados de incitarem os operários de Piratininga. Com o aplauso da sociedade à época. Voltando ao conceito de troca simbólica, houve o desemprego em massa com a crise do petróleo e, em seguida, veio a globalização. O conceito de downsizing surge então. Isso aconteceu em 1968 nos Estados Unidos e, dez anos depois, chegou ao Brasil. Foi o plano de demissão voluntária do Banco do Brasil. Dizia-se que, para alguém ser mandado embora do Banco do Brasil, seria necessária a assinatura do Presidente da República. Não era verdade. A partir daí, a empresa começa a se interessar por conhecer melhor o seu empregado, para saber de suas expectativas e anseios. Aumentou a exigência por formação e experiência do trabalhador. Um subproduto: explodem as faculdades, para poder oferecer profissional de maior proficiência e atender à demanda. Hoje, fala-se na produtividade do home office. Os antiquados ficaram surpresos ao constatar que trabalhar em casa aumenta a produtividade. O número de horas alocadas é menor. O trabalhador fica mais satisfeito ao ter disponibilidade maior de seu tempo. A pandemia colocou o indivíduo face a face com a morte. Isso valorizou o plano de saúde. O benefício do plano de saúde ganhou carga simbólica muito expressiva. Nunca se falou tanto em feedback: estimular o sentido de pertencimento, disseminar um ambiente inclusivo e diversificado. O que aconteceu com a retenção e retração de talentos? O conceito de talento mudou. Antes era o sujeito bem formado, de boa família, com mestrado e formação diferenciada. A pandemia mostrou soluções formidáveis tomadas por pessoas sem qualificação, mas verdadeiramente sábias. Uma pessoa da limpeza, um porteiro, um gestor da linha de produção, um caixa bancário. Se ele fizer diferença para o cliente e para a empresa, é considerado um talento. O diploma não é mais o diferencial. A concorrência internacional na área das TICs se intensifica. Pode-se trabalhar em qualquer lugar. O envelhecimento da população e o talento dos cinquentões desabrocha. Há pessoas extraordinariamente bem formadas que reveem as suas condições de trabalho, são vistos como talentos e precisam ser considerados pelas empresas. Um fenômeno que irrita o mundo inteiro: o desafio do quiet quiting. É o profissional que não se voluntaria, não leva serviço para casa, obedece o horário. Não "veste a camisa". Isso afeta muito a produtividade. As áreas de gestão de pessoas não estão conseguindo resolver esse problema. O que a empresa precisa fazer hoje? Conhecer melhor as necessidades e exigências desses talentos. Rever o processo das trocas. O que ele quer e que eu posso atender? De que é que eu não posso abrir mão? O fundamental é refletir a respeito. A régua das trocas simbólicas auxilia a revisão das estratégias das empresas? Uma coisa é certa: a educação está a reboque das transformações. Alguns professores, por curiosidade invencível ou autodidatismo, navegam tranquilamente pelas novas tecnologias. Mas não existe um projeto consistente para encarar a Inteligência Artificial e tudo aquilo que ela pode oferecer para melhorar o ambiente de trabalho e a convivência entre os humanos. Por falta dessa estratégia, têm razão os que afirmam que desperdiçamos talentos, em lugar de nos valermos deles para alavancar a economia tupiniquim. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 10 08 2023 voltar |
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