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Acadêmico: José Renato Nalini Até os mais fervorosos defensores da floresta amazônica desconhecem o que ela realmente vale em termos financeiros.
Quanto vale a Amazônia? Até os mais fervorosos defensores da floresta amazônica desconhecem o que ela realmente vale em termos financeiros. Confesso que sempre negligenciei esse cálculo. Afinal, preservar a vida é algo insuscetível de ser avaliado em cifras. Mas encontrei um estudo de Pablo Acosta, economista líder de Desenvolvimento Humano para o Brasil do Banco Mundial e doutor em Economia pela Universidade de Illinois, que me impressionou favoravelmente. No texto "Quanto nós devemos pagar para preservar a Amazônia", (FSP, 12.7.23), ele diz que, com a ajuda de outros economistas, fez uma estimativa a partir de valores mínimos. Eles foram divididos em valores privados, que incluem o turismo e a produção sustentável de madeira, castanha-do-pará, borracha e outros bens e em valores públicos. Estes podem ser regionais, que envolvem benefícios ecossistêmicos para todo o continente, por meio da regulação do clima local e da precipitação (atuação dos chamados "rios voadores", que nascem na Amazônia, mas beneficiam vasta extensão territorial, muito além do Brasil), a polinização e a proteção das florestas intactas contra incêndios. Já os valores públicos globais, que representam a maior parte do valor da Amazônia, diante de sua enorme capacidade de armazenar CO2, que segundo avaliação modesta e conservadora vale 40 dólares por tonelada, abrangem o chamado "valor de opção". O que vem a ser isso? Uma verdadeira arca do tesouro medicinal para a indústria farmacêutica. Generosa oferta gratuita da exuberante biodiversidade amazônica. Sem falar na potencialidade de exploração desses produtos naturais para as indústrias alimentícia e de cosméticos. Pois bem: a ponderada análise desses economistas prevê que a Amazônia gera um valor anual de pelo menos trezentos e dezessete bilhões de dólares. Isso é muitas vezes o que se conseguiria com a exploração do corte de árvores para extração de madeira, a pecuária, soja ou mineração. Estas destinações implicariam em alguma coisa entre quarenta e três e noventa e oito bilhões de dólares. Pois é o que a economia, trabalhada cientificamente, comprova e demonstra. Esse estudo precisa ser conhecido pelos empresários, pela Universidade, pelo Terceiro Setor, pela sociedade inteira. Porque esta faixa de brasileiros é que pode exigir do Estado uma postura consequencialista em relação ao bioma imprescindível para a já abalada saúde do planeta. É perfeitamente possível monetizar esse valor. Há recursos de doação, como o Fundo Amazônico, já apoiado pela Noruega e pela Alemanha, com promessa de doação dos Estados Unidos. A cidadania tupiniquim, com seus bancos, suas empresas, poderiam chegar a destinar cento e vinte milhões de dólares por ano, enquanto os Estados Unidos contribuiriam com trezentos e quarenta e cinco milhões e os canadenses com trinta e oito milhões. O potencial do mercado de carbono é algo de que não se pode abrir mão. Agora é preciso que o Governo Brasileiro deixe o palanque, abandone o discurso e passe à efetiva ação. Lembre-se que a Amazônia brasileira perde ao menos 0,3 a cada ano. A proposta de Pablo Acosta é de que se pague apenas a parte da floresta com risco real de desmatamento. Com vinculação da compensação necessária pelo desmatamento evitado, ao valor de oportunidade de conversão da floresta para outros usos. Por exemplo: se a área estimada da floresta em risco em determinado ano fosse de 12.200 quilômetros quadrados, o equivalente à área destruída em 2021 e se essa área fosse inteiramente protegida, haveria necessidade de desembolso de quantia entre cinco a dez bilhões de dólares. É claro que são investimentos consideráveis. O valor intermediário de sete bilhões de dólares, corresponde a 0,4 do PIB brasileiro. Mas é algo imprescindível para salvar não apenas a floresta, mas a humanidade toda. Os brasileiros não podem se esquecer de que a cultura do "soltar a boiada" implicou em trágica intensificação do desmatamento nos últimos sete anos. Isso fez com que a Amazônia deixasse de ser sumidouro de carbono para se converter em emissor líquido desse gás. O risco mais trágico é o de que se alcance um ponto de inflexão depois do qual não há retorno. Seria primeiro a morte permanente de grandes extensões florestais e, em seguida, a morte de qualquer espécie de vida. Não só na Amazônia, mas em toda a Terra. Quem tiver juízo precisa se engajar nessa causa. Ou queremos interromper a trajetória do bicho-homem sobre o planeta? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 08 08 2023 voltar |
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