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Acadêmico: José Renato Nalini Em todas as áreas, o Brasil precisa de técnicos, de tecnólogos, de profissionais que gostem do que fazem e que procuram se adaptar à contemporaneidade.
Faculdade? Só por paixão Existe o fetiche do diploma universitário na terra dos bacharéis. O sonho da classe média antiga era ter filho doutor. Nos dois primeiros governos Lula, ele multiplicou o número de Universidades Federais. É aquela mentalidade antiga: precisa de diploma. O mundo mudou. O investimento há de ser feito na primeira infância. Adotar uma educação que abandone a pretensão de transmitir uma enciclopédia ao aluno, com informações que ele nunca usará. Desconhecendo o fenômeno da internet. Nunca houve tanta informação disponível e acessível. Educar é preparar criança e jovem a encontrar alegria de viver num ambiente desafiador. O educando precisa ser treinado a conviver, a desenvolver empatia, capacidade de comunicação, curiosidade intensa e infinita por aprender. Principalmente por si mesmo. Encontrar as trajetórias, no universo de conhecimento à sua disposição. Ninguém pode hoje se arvorar em detentor de toda a sabedoria. O professor deve ser um parceiro, um indutor dessa curiosidade. Orientar o infante a encontrar o que realmente interessa nas redes sociais. Fazê-lo se apaixonar pela pesquisa e desenvolver criatividade, engenhosidade e ousadia. Diploma já foi requisito para o exercício de uma profissão rentável e prazerosa. Hoje não é mais. O mundo precisa de técnicos. Em todas as áreas: agricultura, silvicultura, medicina, enfermagem, turismo, tecnologias da comunicação e informação. Esta área é aquela em que o Brasil é mais carente. China, India, Indonésia, Austrália, Nova Zelândia. Todas em nossa frente. Enquanto isso, nós afugentamos o adolescente de uma escola insossa, chata, em que ele não tem voz nem vez. Por isso é que 70 dos alunos da área de TI não concluem a faculdade. O sonho dos pais já não é o sonho dos filhos. Com certeza, não será também o dos netos. É o que os números mostram. O Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Instituto Semesp, que congrega as faculdades privadas, mostra que 55,5 dos alunos que começaram a faculdade em 2017 já tinham desistido em 2021. Quais os motivos? É claro que há falta de dinheiro para as mensalidades e as exigências do trabalho. Mas na área da Tecnologia, exatamente aquela de cuja carência o Brasil mais se ressente, o percentual de abandono chega aos vergonhosos 70. O mercado aquecido contrata independentemente do diploma. A prática laboral ensina mais do que a Faculdade. Por isso é que o Estado deveria incentivar a criação de mais Universidades Corporativas, chamassem assim ou não. Quem vai empregar é que sabe de suas necessidades. O empresário não joga dinheiro fora. Quando ele vê que o candidato sabe fazer, ele não vai examinar diploma nem histórico escolar. A Universidade parece atuar desvinculada do mercado. Muitas iniciativas são estritamente empresariais. Talvez seja mais vantajoso criar uma Faculdade do que construir um shopping ou um condomínio. No shopping, o empreendedor terá de lutar com a oscilação da economia, numa República em que não existe segurança jurídica, nem se pode apostar no acerto do sistema Justiça. Já uma faculdade precisa do que? De um espaço físico - hoje nem tanto - e de alguns abnegados que aceitem a remuneração atribuída a um professor universitário. Enquanto na iniciativa privada o cliente insatisfeito volta a questionar a propaganda enganosa e quer indenização por eventuais prejuízos, quem sai de uma Faculdade toma o seu rumo e nunca indagará à Faculdade em que se formou se ela o ressarcirá do tempo perdido inutilmente. Em todas as áreas, o Brasil precisa de técnicos, de tecnólogos, de profissionais que gostem do que fazem e que procuram se adaptar à contemporaneidade. Sempre dinâmica, sempre surpreendente, com o inesperado a rondar as profissões e os fazeres. Para ser feliz, não é preciso diploma universitário. Há muitos que se sacrificam e depois percebem que o diploma não lhes abriu as portas do sucesso. Continuam a fazer aquilo que faziam antes. Só que frustrados. E isso porque tiveram um ensino fundamental de baixíssima qualidade, que os deixou iletrados e incapazes de acompanhar as exposições na Faculdade. Só vale a pena fazer um curso universitário se houver paixão indomável, incontida, capaz de superar todos os óbices. Estes são inúmeros. Vencerá quem se vencer e arrostar as dificuldades. Então, sim, o diploma adquirirá o valor que nossos pais atribuíam a ele. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 07 08 2023 voltar |
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