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HABILIDADE EM PLENÁRIO
Acadêmico: José Renato Nalini
Os Plenários dos Parlamentos sempre foram palco de retórica apurada, ao menos quando a oratória era uma arte praticada desde os bancos escolares.

Habilidade em plenário

Os Plenários dos Parlamentos sempre foram palco de retórica apurada, ao menos quando a oratória era uma arte praticada desde os bancos escolares. Oradores célebres tinham tiradas fulgurosas, que passavam a enfeitar as lendas que persistiam por gerações.

Quando a palavra passou a ser negligenciada e, pior do que isso, maltratada, os exemplos dos órgãos legislativos recentes não são dos mais encomiásticos. Pobreza vernacular, expressões chulas, desforço físico, ofensas multifárias. Injúria, calúnia e difamação reiteradas, só que a imunidade parlamentar impede apuração judicial das condutas. Aquilo que Carlos Heitor Cony chamava de "imunidade para lamentar".

Ficam as memórias de talentos singulares como o do campineiro Pedro Taques de Almeida Alvim Júnior, nascido na terra de Carlos Gomes e Campos Sales em 22 de setembro de 1827. Bacharel das Arcadas em 1853, foi festejado jornalista e advogado.

Foi o primeiro redator-chefe do "Correio Paulistano", a partir de 1854. Fundou em 1865, ao lado de Delfino Pinheiro de Ulhoa Cintra, o "Diário de São Paulo", órgão do Partido Conservador.

O memorialista Afonso A. de Freitas, em suas "Tradições e Reminiscências Paulistanas", escreve sobre ele: "Prosador, poeta e polemista, era Pedro Taques também dramaturgo, tendo escrito diversas peças para o teatro: versejava com extrema facilidade, cantando em bela e educada voz de tenor suas composições ao violão. A Pedro Taques são atribuídas as crônicas e a versalhada, que tanta voga tiveram em São Paulo, sobre a irrequieta e inditosa Jovita, sargento que foi do 2º Batalhão de Voluntários da Pátria, em marcha para os campos do Paraguai".

Inteligente, erudito, irônico e perspicaz, era bem humorado e possuía temperamento boêmio e galhofeiro. Em suas discussões, quando se prolongavam, vinha com rasgos inesperados e instigantes, que provocavam gargalhadas e atuavam como ferramenta hábil a serenar o ambiente.

Um desses episódios foi reconstituído por Afonso de Freitas. Na Assembleia Provincial a atmosfera dos debates era tensa e opressiva. O assunto que fervia era o envio de novas tropas paulistas para a Guerra do Paraguai. Inúmeras famílias repudiavam o conflito, que não era a tradição brasileira, principalmente porque o estadista que reinava era um diplomata democrático, homem de diálogo e não de armas.

Ninguém queria mandar filhos seus para morrer no Paraguai. Os ânimos se exaltavam e a discussão prometia transformar-se em verdadeira tempestade. Iniciavam-se as ofensas de lado a lado. O vozerio aumentava. Todos falavam ao mesmo tempo.

Pedro Taques estava apenas observando. Quando o conflito verbal ameaçou exorbitar para o desforço físico, ele - calmamente - se dirige à tribuna. Sereno, porém com expressão grave, fita estática e demoradamente a bancada adversária. Faz-se no plenário um silêncio profundo. Todos se retesam, à espera do raio que vai cair. Ninguém desconhecia a sua verve e o fervor com que defendia seus pontos de vista.

Pedro Taques assoma o parlatório. Volta-se, majestoso, para a presidência. Estende o braço, levantando, grave e solene, a mão direita à altura do horizonte visual e principia: "Alta noite, tudo dorme/Tudo é silêncio na terra/ Nem sequer nos ares erra/ Negro mocho gemedor".

E volta, calmamente, ao seu assento.

Foi o que bastou para estancar a virulência verbal que desaguaria em tumulto. Funcionou como água na fervura. Toda a assembleia achou graça e o poder legislativo desopilou o fígado, rindo às gargalhadas e permitindo que os trabalhos prosseguissem. Agora mais serenas as bancadas. Graças à presença de espírito de Pedro Taques.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 04 08 2023



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