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Acadêmico: José Renato Nalini Saudades das formaturas realizadas de forma artesanal pelos próprios graduandos, não por empresas. Dos discursos caprichosamente elaborados.
Paraninfos d'antanho Houve época em que paraninfar uma turma de formandos impunha ao distinguido pelo convite a obrigação de preparar bela oração. Eram tempos em que diplomandos e suas famílias prestavam atenção ao que se dizia e guardavam o pronunciamento como verdadeira lição para a carreira que se iniciava. Ou para a continuidade dos estudos, um roteiro seguro e prestimoso. Com a explosão dos novos cursos, as formaturas ganharam em autenticidade e perderam em solenidade. Costuma-se congregar várias turmas e os eventos acontecem nos grandes espaços reservados a promoções que reúnem milhares de pessoas. Nem todos os partícipes se conheceram durante o curso. Os paraninfos se veem forçados a breves mensagens, sob pena de merecerem apupos. Saudades das formaturas realizadas de forma artesanal pelos próprios graduandos, não por empresas. Dos discursos caprichosamente elaborados. Daqueles em que se prestava atenção e se procurava extrair algo para recordar durante toda a vida. Encontro um exemplar modelo de fala de paraninfo, pronunciada por Fernando Prestes para professorandos da Escola Normal "Peixoto Gomide", em Itapetininga. Dele extraio alguns trechos, significativos do tom paternal com que o padrinho se dirigia aos afilhados: "Obediente à vossa vontade, aqui me tendes, não para fazer a vossa apologia, nem ministrar conselhos pedagógicos que iluminem a estrada que deveis trilhar, senão para dizer-vos o que um velho lavrador poderia dizer aos filhos que se vão de sua casa para as conquistas da vida. No caminho da vida encontramos diariamente dificuldades a vencer. A luta contra essas dificuldades é um sofrimento, a sua vitória, um gozo. O sofrimento é próprio do ser humano. Sofrerá menos aquele que souber armazenar maior parcela de bondade em seu coração. A bondade é a qualidade que mais dignifica o homem. Ser bom é ser virtuoso e ser justo. O homem virtuoso e justo não se irrita. A resignação e a paciência são bálsamos que curam as angústias de nosso espírito. A sociedade é um compêndio completo de boas e más normas de conduta, cheia de exemplos eficazes e para cujo estudo o homem nada mais precisa do que aguçar um pouco as qualidades da observação o confronto entre as ações dos indivíduos que formam a sociedade em que vivemos nos indicará o caminho que mais convenha seguir. A observação dos nossos próprios atos nos indicará a melhor norma de agir. Como nos sentimos diminuídos, quando ao voltar a calma, refletimos sobre uma irritação que não pudemos conter. Uma das maiores dificuldades que temos a vencer consiste em corrigirmos os nossos próprios defeitos e em contrariarmos as nossas próprias inclinações. Lembro-me sempre de uma quadrinha encontrada entre os papeis de um homem bom e virtuoso que, reinando durante meio século, engrandeceu o Brasil. Pedro II, que só castigava os maus, procurando premiar os bons, traçou uma excelente norma de conduta na moldura desta quadra que nunca devemos esquecer: 'Muito vence, quem se vence/Muito diz, quem não diz tudo'. Sendo a bondade uma das mais nobres qualidades do homem, é por isso mesmo das de mais difícil exercício. Ela exige o concurso completo de todos os outros conhecimentos e virtudes desde o discernimento do justo e do injusto, até o máximo de tolerância revestido do máximo de energia. Ser bom não consiste, pois, em agradar a todos inconscientemente, senão em discernir o vício da virtude, a verdade do erro, a injustiça da justiça e o bem do mal. Ser bom é muito mais difícil do que ser mau, porque para que o homem seja bom precisa seguir a linha reta do dever, ao passo que o mau vai tergiversando no caminho da vida. Todos os dias, todas as horas, todos os instantes temos ocasião de praticar o bem. Se não podemos praticá-lo para os outros, pratiquêmo-lo para nós mesmos. Estudando, pensando, ensinando, o homem pratica o bem: é útil a si próprio, é necessário à sua família e aos seus amigos, é indispensável à sua pátria. A vossa missão na vida, sendo árdua e espinhosa, é, contudo, suave e delicada. Grande é a responsabilidade que vos confere este diploma, porque a elevação e a nobreza de vossa carreira vos apresentam perante a sociedade como verdadeiros missionários do bem, que fazem da instrução o seu apostolado no combate do erro e da ignorância". O discurso de paraninfo de Fernando Prestes de Albuquerque é muito mais denso, a refletir os usos da época. Uma aula de ética do magistério. Atemporal, porque é muito adequado para os dias de hoje. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão Em 02 08 2023 voltar |
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